65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
Masculinidades e práticas de saúde: considerações acerca da saúde sexual de homens da Região Metropolitana do Recife
Michael Ferreira Machado - Depto. de Psicologia Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Túlio Romério Lopes Quirino - Depto. de Psicologia Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
INTRODUÇÃO:
Este trabalho se insere no campo de debates sobre gênero e a produção de cuidados à saúde dos homens, com destaque à saúde sexual. Trata-se de recorte de duas pesquisas de mestrado que objetivaram compreender a produção de cuidados à saúde dos homens, em dois contextos distintos da Região Metropolitana de Recife (RMR), em Pernambuco. Nossa intenção maior com sua realização foi situar alguns pontos que pudessem contribuir para as discussões que tem aproximado os homens da produção de cuidados à saúde, um campo, até algumas décadas atrás, ainda carente de produções e que, nos últimos anos tem ganhado grande visibilidade e como os elementos que compõem as construções das experiências das masculinidades, estão intimamente relacionados com as práticas de (des) cuidados, no tocante a saúde sexual, desenvolvidas.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Nesse trabalho objetivamos compreender a interface entre as construções das masculinidades presentes entre os homens de duas comunidades da RMR e a produção de saberes e práticas de cuidado com a saúde sexual, com enfoque à busca pelos insumos e pelos serviços disponíveis na rede pública de saúde.
MÉTODOS:
As informações produzidas neste trabalho resultam de estratégias metodológicas diversas. O primeiro estudo desenvolveu-se no contexto de uma unidade básica de saúde da cidade do Recife. Foram realizadas entrevistas semi estruturadas, observações no cotidiano com registro em diários de campo, e a participação em grupos. As entrevistas e grupos foram audiogravados e transcritos na íntegra para análise. O segundo estudo desenvolveu-se em uma comunidade litorânea localizada na microrregião de Suape, na RMR, em Cabo de Santo Agostinho. Como estratégias metodológicas, citam-se: a observação no cotidiano com registro em diários e realização de grupos, sob o formato de oficinas. Os grupos também foram audiogravados e transcritos na íntegra. Os resultados apresentados neste trabalho referem-se às informações produzidas a partir dos grupos, utilizados nos dois trabalhos. Participaram do primeiro grupo, de 5 a 10 homens, de diferentes faixas etárias. Este grupo ocorreu com frequência semanal, tendo sido registrados seis destes encontros. No segundo estudo, foram realizados cinco grupos, com oito homens de 18 a 28 anos, também com frequência semanal.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Em linhas gerais, no tocante à saúde sexual, os homens dos dois grupos referem desenvolver práticas preventivas e de autocuidado, citando o preservativo como principal medida para prevenir as doenças sexualmente transmissíveis (DST’s). Relatos sobre HIV/Aids são incipientes em ambos os grupos e aparecem com certo tabu dentre os homens, além de que a conjugalidade surge como explicação para a despreocupação pelos mesmos. Outro elemento importante é a compreensão presente em alguns integrantes de que o homem é o principal responsável pela transmissão do HIV, ponderação importante no contexto atual de feminilização da epidemia de Aids e outras DST’s. Características do “ser masculino” são citadas como justificativas para possíveis descuidos relacionados a práticas preventivas entre os homens: força física, a ideia de invulnerabilidade, etc. Os homens mais velhos demonstram bastante preocupação com as questões de próstata, principalmente se vinculadas à virilidade, outro atributo que caracteriza o “ser homem”.
CONCLUSÕES:
Os resultados apontam para a necessidade de amadurecimento das discussões sobre hábitos preventivos entre os homens de maneira a evitar o desenvolvimento/agravamento de DSTs. Pontuamos neste trabalho o diálogo possível entre diferentes modos de se encarar o processo saúde-doença-cuidado, tendo este último como objetivo maior dos serviços. Acreditamos ser necessário relativizar os modos como o cuidado à saúde do homem se produz, bem como os saberes e as práticas que o norteiam. Com isto, citamos a possibilidade de que as equipes da atenção básica à saúde possam incluir os homens nos processos cotidianos de trabalho voltados à promoção da saúde sexual, de forma a corresponsabilizá-los pelas questões de sua própria saúde.
Palavras-chave: masculinidades, saúde sexual, práticas de saúde.