65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística
VARIANTES LINGUÍSTICAS: A LINGUAGEM DE JOVENS EM CONDIÇÕES DE APOIO SOCIOEDUCATIVO
JAMIL COSTA RAMOS - DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS – UFRPE
MARIA JOSÉ DE OLIVEIRA MACIEL - PROFA. DRA. DEPARTAMENTO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS – UFRPE
INTRODUÇÃO:
Nesta pesquisa abordamos a necessidade de o professor utilizar o conhecimento das variações da nossa língua materna, enxergando-as como prova da riqueza vocabular. Como professor de língua portuguesa de uma unidade do CASE – Vista Alegre, que acolhe jovens em situação de privação de liberdade, procuramos ampliar o conhecimento referido, organizando glossário com variantes utilizadas nessa unidade. Procuramos defender a ideia de que parte do conhecimento sobre a língua assimilado pelo indivíduo ao longo de sua vida é adquirida antes mesmo deste iniciar sua vida escolar. Catarine Frank nos forneceu citações bastante pertinentes para explicitar o que chamamos de gramática internalizada. O conteúdo abordado nesta pesquisa abrange temas como a valorização das variações presentes na nossa língua e suas formas de aquisição. Apresentamos exemplos de vocábulos e expressões observados na linguagem oral e escrita dos jovens da unidade do CASE – Vista Alegre, onde tivemos a oportunidade de observar a riqueza da gramática internalizada e organizar um glossário com variantes lingüísticas utilizadas pelos educandos do CASE referido.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Ampliar o conhecimento sobre variantes linguísticas utilizadas por jovens em condições de apoio socioeducativo.Identificar variantes linguísticas na comunicação verbal no Case.Apresentar variantes lingüísticas nos textos escritos produzidos por adolescentes do Case.Organizar glossário com as variantes linguísticas apresentando seus significados e possíveis correspondências na língua padrão.
MÉTODOS:
A clientela observada na pesquisa é constituída de jovens atendidos por medidas socioeducativas no CASE – Vista Alegre (Jaboatão dos Guararapes – PE), em regime de internação e privação de liberdade. A coleta de dados da pesquisa foi realizada no período de julho de 2009 a junho de 2010. Por se tratar de variantes linguísticas utilizadas por jovens em ambiente de privação de liberdade, e ainda por desconhecer trabalhos que tenham sido publicados sobre a temática referida, a pesquisa pôde ser classificada como exploratória. A intenção inicial era realizar a coleta de dados através da utilização de questionários e entrevistas com os pesquisados. Mas, a instituição não autorizou a utilização de tais procedimentos, já que as normas internas não permitiam essas abordagens com menores em privação de liberdade. Além do mais, esses procedimentos – que tiveram ensaio preliminar em atividades tipo pré-teste em sala de aula – logo começaram a incomodar a clientela. Optamos pela conhecida observação não-participante. Cientes dos nossos objetivos, adotamos um diário de pesquisa para registrar as variantes observadas (dentro e fora da sala de aula).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Embora os jovens do CASE não tenham,em sua maioria,frequentado a escola observamos que podem ser competentes conhecedores de regras gramaticais que regem a língua.Bagno(2009, p,51)afirmou que “está provado e comprovado que uma criança de 5-6 anos de idade já domina as regras gramaticais de sua língua!Pudemos observar o quanto eles entendem de regras para formação dos vocábulos da linguagem internalizada o que lhe serve de instrumento de contato com outros sujeitos nas suas relações sociais cotidianas.Um dos vocábulos mais usados pelos adolescentes é “X9” que,segundo a conotação deles é o indivíduo que denuncia,“entrega”,“dedura”,“delata”o outro.Morfologicamente falando,temos aí um substantivo do qual pode derivar,dentre outros,um verbo.O curioso é que, mesmo (teoricamente) não conhecendo essas regras de formação dos verbos, eles criaram o verbo “XISNOVAR” e o flexionam: eu xisnovo, você xisnova, ele xisnovou, eles xisnovaram.Simone Gonçalves de Assis (1999),em pesquisa com jovens infratores de Brasília,diz que“O nível de escolaridade dos adolescentes infratores é baixo,com cerca de metade dos entrevistados tendo cursado no máximo até a 4ª série do primeiro grau e nenhum tendo chegado ao 2º grau.”
CONCLUSÕES:
O resultado deste trabalho pode trazer contribuições para a comunidade científica, em especial a dos linguistas, sobretudo na medida em possam desenvolver outras pesquisas que colaborem na solução dos problemas que hoje enfrentamos ao ensinar a língua portuguesa na escola.Ao constatarmos que a criança desde mais tenra idade já consegue usar regras básicas de gramática, concluímos que a escola deve trabalhar em conjunto com família e a comunidade para desenvolver no aluno as competências linguísticas que o farão ter êxito nas diversas situações de comunicação com as quais ele vai se defrontar ao longo da vida. O papel da escola não deve ser de “anular” a bagagem linguística que o educando traz ao ingressar no ambiente escolar. A escola deve usar esse conhecimento prévio para desenvolver, a partir dele, outras aptidões para uso da língua. Ensinar ao aluno aquilo que ele já sabe é perda de tempo. Ele deve ir para a escola para aprender o que ainda não sabe e para ampliar a gramática internalizada já assimilada nos primeiros anos vida, no contato com os parentes e grupo social a que pertence.
Palavras-chave: ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO, EXPRESSÕES, VARIANTES LINGUÍSTICAS.