65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
Performatividades de gênero, violência e sexualidade em movimentações político-culturais: a produção de sujeitos e estéticas políticas em Belém e Recife
Aida Carneiro Barbosa Rodrigues - Depto. de Psicologia, UFPE
Benedito Medrado-Dantas - Prof. Dr./Orientador - Depto. de Psicologia, UFPE
Fernanda Isabelly Souza Ximenes - Depto. de Psicologia, UFPE
Clarissa Silva de Mendonça - Depto. de Psicologia, UFPE
Richardson Diego da Silva Paz - Depto. de Psicologia, UFPE
Laís Tenório de Andrade Bitu - Depto. de Psicologia, UFPE
INTRODUÇÃO:
Este projeto faz parte de uma proposta mais ampla e visa dar continuidade e ampliar análises produzidas, a partir de estudos realizados no último triênio, tendo como objeto de pesquisa a ação político-cultural de movimentos sociais em favor dos direitos sexuais, nas regiões Norte e Nordeste do país. A proposta é o resultado de uma parceria entre núcleos acadêmicos de pesquisa e organizações feministas sediados nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil: Núcleo de Pesquisas em Gênero e Masculinidades/UFPE; Grupo Orquídeas (Movimento Universitário em Defesa da Diversidade Sexual); Grupo NósMulheres/UFPA e Instituto PAPAI. A estratégia de pesquisa de base feminista é estruturada em dois eixos: 1) a homofobia é uma expressão do machismo, ou seja, a crítica feminista nos informa que a (di)visão do mundo a partir da polaridade masculino-feminino fundamenta desigualdades e constitui-se como base para violência e discriminações, baseadas em gênero; e 2) a sexualidade e as identidades de gênero são potencialmente diversas, isso quer dizer que é preciso reconhecer, como princípio libertador, que os homens e as mulheres não cumprem literalmente os padrões e as prescrições culturais de gênero (Scott, 1995), os quais limitam e aprisionam a experiência humana à dicotomia masculino-feminino.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Trilhar percursos que caracterizam a organização de eventos político-culturais voltados à população LGBT em Recife e Belém como estratégia para identificação de dispositivos de produção de sujeitos; e identificar características sociopolíticas e padrões de violência e discriminação contra LGBT, a partir de informações produzidas em duas edições da Parada da Diversidade/Orgulho LGBT nestas cidades.
MÉTODOS:
O desenho metodológico envolve duas estratégias complementares. A primeira, componente qualitativo, refere-se à análise dos registros de observações “no” cotidiano, realizadas pelo grupo de Pesquisa, em 2011 e 2012, em Recife (durante as reuniões para organização da Parada da Diversidade de Pernambuco), e em Belém (durante as reuniões para organização da Parada do Orgulho LGBT de Belém e da Festa da Chiquita). A segunda, componente quantitativo, envolve a comparação de informações, armazenadas em banco de dados, produzidas nas duas cidades (Recife, em 2006 e 2012 e Belém, em 2008 e 2012) a partir de entrevistas semi-dirigidas com amostra não-probabilísticas do tipo “por conveniência” entre participantes das Paradas da Diversidade/Orgulho LGBT. O roteiro das entrevistas teve como foco principal os temas violência, discriminação e direitos. As entrevistas foram realizadas durante a concentração das manifestações político-culturais. Não foi estipulado um número determinado de entrevistas, mas os(as) entrevistadores(as) foram orientados no sentido de diversificarem ao máximo as pessoas entrevistadas, permanecerem dispostos em diferentes locais da concentração e espaçarem as entrevistas ao longo do tempo de duração da concentração.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A partir de uma perspectiva foucaultiana do dispositivo da sexualidade (FOUCAULT, 1988) e compartilhando da noção de sujeitos políticos não como dados, mas constituídos processualmente, no e pelo discurso, e em contextos políticos bastante específicos (BUTLER, 2003), o Fórum LGBT/PE, grupo organizador da Parada da Diversidade em Pernambuco foi tomado como ponto de partida estudar os sujeitos políticos diversos que compõem esta população. Além disso, é a partir deste grupo que analisamos as tensões existentes nos jogos de poder que ao mesmo tempo produzem e excluem verdades sobre os sujeitos políticos LGBT. Os resultados apontam para a produção de hierarquias sexuais, em que expressões de homossexualidade são evidenciadas, em detrimento de outras, produzindo, igualmente, tratamentos desiguais e invisibilidade de outros arranjos possíveis. Nesta rede de atores e discursos as Paradas, longe de se configurarem como evento sem maiores consequências na reivindicação de direitos, se inscrevem na movimentação do debate que trata das pautas do movimento LGBT e abre caminhos para conquistas simbólicas cotidianas, a exemplo dos direitos formais.
CONCLUSÕES:
Uma vez que as categorias identitárias têm se mostrado úteis em diversos aspectos, o desafio aponta, então, para o uso que fazemos delas. Ainda que as categorias identitárias garantam alguma estabilidade e proteção – ao se apresentarem enquanto “verdade” –, é somente nas lacunas de uma representação identitária que podemos nos movimentar em direção ao novo. Ao mesmo tempo, considerando a grande repercussão que as Paradas da Diversidade/Orgulho LGBT têm, possivelmente devido à sua estética político-cultural, as quais atraem um número de pessoas que nenhum outro movimento social tem conseguido, não é pelo seu caráter irreverente de celebração que as pautas do movimento são obscurecidas. O desafio aponta para a dimensão simbólica que ganha esse evento, que inclusive vão além do que o discurso do movimento político pode alcançar.
Palavras-chave: Parada da Diversidade, Parada do Orgulho LGBT, sujeitos LGBT.