65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica
A infância no ensino fundamental obrigatório de nove anos em Caruaru: o que dizem os professores do primeiro ano?
Isabelle Sercundes Santos - Graduanda em Pedagogia – UFPE (CAA)
Conceição Gislane N. de Salles - Profa. Dra./Orientadora - Núcleo de formação docente – UFPE (CAA)
INTRODUÇÃO:
A pesquisa intitulada: “A infância no ensino fundamental de nove anos em Caruaru: o que dizem os professores do primeiro ano?” tem como problemática questão norteadora os enunciados que configuram a formação discursiva da infância e da sua educação entre os professores do primeiro ano das séries iniciais do ensino fundamental.
O crescimento das pesquisas e do campo de estudos da infância em diferentes áreas, como sociologia, antropologia, história, educação, psicologia, filosofia, entre outras, vem contribuindo significativamente para construção de novos mapas interpretativos que aponta para uma nova compreensão da infância e das crianças. No entanto, percebe-se que é muito incipiente a produção acadêmica relativa a esse tema, especialmente no nordeste, ficando mais grave ainda a situação no âmbito local, uma vez que, são quase inexistentes os estudos e produções de conhecimento nesse campo.
A aprovação do Ensino Fundamental de nove anos, no Brasil está atrelada a esse debate, pois, é uma ação que gera importantes desafios para a área da educação da infância. Tal medida gerou diversas interpretações e mudanças em certa medida questionáveis, já que a idade cronológica não é, necessariamente o aspecto definidor para se pensar a criança, a infância e sua educação.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Compreender os enunciados e os sentidos que configuram a formação discursiva veiculada entre os professores do primeiro ano das séries iniciais do ensino fundamental, no que diz respeito à Infância e à educação da Infância no primeiro ano do Ensino Fundamental
MÉTODOS:
Para a realização deste estudo, apoiamo-nos em uma metodologia de enfoque hermenêutico. Nossa intenção de trabalhar nesta perspectiva justifica-se pelo que a mesma pode contribuir ao pensamento, no exercício constante de interpretação e compreensão, fazendo com que o trabalho investigativo se constitua em um empreendimento no qual nos lançamos sem possibilidade de saber antecipadamente as conseqüências de tal engajamento (GRÜN & COSTA, 1996). Em termos de verificação empírica, delimitamos como nosso campo investigativo as Escolas Municipais de Caruaru. Os sujeitos da nossa pesquisa foram as professoras que trabalham com a educação das crianças de 6 anos. No geral foram contempladas 05 (cinco) Escolas Municipais e entrevistadas um total de 09 (nove) professoras.
Como procedimento para a coleta de dados, utilizamos entrevistas semi-estruturadas, com perguntas definidas, porém abertas, visando mapear um perfil mais abrangente das maneiras e das configurações discursivas da infância e da sua educação. Nesse sentido, os entrevistados tiveram a possibilidade de seguir seus próprios modos narrativos. Esses dados nos proporcionaram um conjunto de enunciados e discursos dos sujeitos – professoras– envolvidos nas práticas educativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise das entrevistas nos indicaram que nossos sujeitos apontaram concepções de infância relacionadas a dimensões como o brincar, ao descobrir e explorar o mundo. Porém, também encontramos uma ênfase em uma concepção romântica de infância; como preparação para o futuro, sempre guiada pela lógica adulta. Nesse sentido a criança é negada enquanto sujeito na sociedade, enquanto outro que participa e opina sobre o mundo. Por outro lado também surgiram concepções de que a vivência da infância está diretamente ligada às condições econômicas e culturais. Nesse caso, todas afirmaram que o fato de ser criança não significa ter infância.
Sobre a valorização das potencialidades infantis no primeiro ano do Ensino Fundamental obtivemos falas bastante parecidas que indicam que o próprio sistema de ensino impõe barreiras quanto a esse aspecto, potencializando a preocupação com conteúdos. Assim, a escola das crianças/infância vem ainda assumindo uma vinculação com a ideia de um vir a ser adulto implicada a uma noção de infância “capturável”, “numerável”, tecnicamente explicada pelo conjunto de saberes (KOHAN, 2003). Podemos afirmar que os dados obtidos indicam concepções de criança/infância ainda muito arraigada à educação para o futuro, onde a criança é tomada prioritariamente como aluno.
CONCLUSÕES:
Em linhas gerais, as análises dos discursos das professoras nos indicam que os sentidos e significados atribuídos à infância, no primeiro ano do Ensino Fundamental, ainda estão muito ligados à concepção desenvolvimentista, relacionada a uma noção etapista e cronológica de criança e infância.
No que diz respeito à educação da infância, os resultados revelam uma concepção de educação voltada, sobretudo, para a consolidação das metas do Ensino Fundamental. Podemos dizer que as propostas parecem ainda se fecharem em uma visão adulta do que seriam as necessidades das crianças.
Além disso, identificamos, também, uma preocupação excessiva das instituições educativas com a escolarização precoce, que se concretiza com a ênfase na leitura e na escrita formal, concebidas como as principais finalidades e objetivos do 1° ano do Ensino Fundamental, ressaltando o caráter propedêutico, anteriormente atribuído à educação infantil, compreendida como um momento fundamental de “investimento” no desenvolvimento da criança.
Palavras-chave: Ensino Fundamental de Nove Anos, Infância, Professores.