65ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 9. Paleontologia e Estratigrafia
Ocorrência de marcas de insetos em vertebrados fósseis do Triássico do Rio Grande do Sul e suas implicações
Voltaire Dutra Paes Neto - Depto. de Palentologia e Estratigrafia do IGEO - UFRGS
Marina Bento Soares - Profa. Dra./Orientadora - Depto. de Paleontologia e Estratigrafia. IGEO - UFRGS
INTRODUÇÃO:
Alterações em tecidos ósseos, como marcas de insetos, podem fornecer evidências sobre interações ecológicas, parâmetros climáticos e aspectos tafonômicos de determinada comunidade extinta. Em ambientes terrestres, poucos grupos de insetos atingem os tecidos ósseos, sendo os mais comuns os cupins (Termitidae entre outras famílias) e os besouros necrófagos (Dermestidae). Os traços produzidos por estes organismos podem ser diferenciados de paleopatologias e de marcas de dentes de vertebrados por seus padrões característicos, tais como escavações em forma tubular e marcas de mandíbulas. Embora abundantes no final da Era Mesozoica e principalmente no decorrer da Era Cenozoica, apenas um registro deste tipo foi feito para o Período Triássico.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho teve como objetivo o reconhecimento de marcas de insetos nos tetrápodes triássicos da coleção do Laboratório do Setor de Paleovertebrados do IGEO-UFRGS que apresentam algum tipo de alteração óssea.
MÉTODOS:
Após a preparação do material fóssil, estes foram analisados sob lupa e os icnofósseis encontrados foram medidos com paquímetro. Moldes foram confeccionados com borracha de silicone para melhor visualização e identificação dos traços. Posteriormente, os resultados obtidos foram comparados com a literatura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Relativo ao Triássico Médio (Cenozona de Santacruzodon), apenas um fêmur do proterocâmpsio Chanaresuchus (UFRGS-PV-0087-T), apresenta perfuração típica de insetos. Entretanto, em associações faunísticas mais recentes (Triássico Superior; Cenozona de Hyperodapedon), observa-se um aumento do número e da variedade dos padrões de marcas. Uma mandíbula do cinodonte Exaeretodon (UFRGS-PV-1177-T) apresenta uma trilha semelhante à icnoespécie Osteocallis mandibulus. Uma tíbia de um juvenil do mesmo táxon (UFRGS-PV-1194-T) apresenta um sulco com largura de até 6mm. O mesmo padrão é observado em um metatarsal de um dinossauro indeterminado (UFRGS-PV-1099-T). Este último apresenta também marcas de prospecção alimentar de larvas, como escavações em forma de túnel na epífise distal do fêmur, além de trilhas com marcas de mandíbulas isoladas. Apresenta ainda perfurações superficiais ovóides com menos de três mm de diâmetro em vértebras, o que também foi registrado em outro dinossauro indeterminado (UFRGS-PV-0715-T) pertencente ao mesmo afloramento. Outros traços foram encontrados em fragmentos ósseos medulares de um arcossauro ainda indeterminado (MMACR-PV-012-T) da Cenozona de Riograndia (Triássico Superior), como câmaras pupares (de até 4,2mm de diâmetro e 8mm de profundidade) e perfurações ovóides superficiais (de até 3,6mm de diâmetro).
CONCLUSÕES:
Reportamos a existência de seis espécimes de vertebrados fósseis do Triássico que apresentam marcas de insetos. Estes registros sugerem uma intrincada relação entre insetos necrófagos e vertebrados durante o início da Era Mesozóica. A ocorrência de diversos padrões em uma mesma associação faunística só é comparável a associações descritas para o Jurássico Superior, o que confere ao Triássico sul-rio-grandense posição de destaque neste campo de estudo. Como os grupos de insetos acima referidos atuam segundo parâmetros ambientais e de sucessão ecológica bem definidos, o reconhecimento de suas especificidades vai permitir agregar novas informações aos modelos tafonômicos propostos para as associações fossilíferas e ao conhecimento dos ecossistemas do início do Mesozoico.
Palavras-chave: Icnologia, Insetos necrófagos, Paleoecologia.