65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
ALTERIDADE, EDUCAÇÃO INFANTIL E INFÂNCIA: REFLETINDO A CRIANÇA PEQUENA COMO OUTRO
Adma Soares Bezerra - Depto de Licenciatura em Pedagogia – CAA/UFPE
Conceição Girlane Nóbrega Lima de Salles - Profa. Dra./Orientadora – Depto de Licenciatura em Pedagogia – CAA/UFPE
INTRODUÇÃO:
O conceito de Educação Infantil alude incontestavelmente a diálogos concernentes a infância, ambos em constante estado de construção e reconstrução. Uma discussão experenciada desde os gregos e romanos que ao longo do tempo definiu formas e moldes de pensar-se a infância e a sua educação (KOHAN, 2005, 2007, 2008; POSTMAN, 1999). Neste cenário onde o protagonismo da infância questiona as verdades da Educação Infantil e as verdades sobre a Educação Infantil e experiências da infância chocam-se drasticamente, a presente pesquisa buscou problematizar a alteridade da infância no interior de pré-escolas municipais da cidade de Caruaru, ocupando-se das percepções dos professores que atuam com crianças de 0 a 5 anos emitidas através de seus respectivos enunciados, no intuito de buscar apreender como se constituem as relações entre adultos e crianças – professor aluno – no cotidiano da Educação Infantil, trazendo as aproximações e distanciamentos acerca da possibilidade de repensar uma educação infantil que considera o sujeito manifestado na infância enquanto individuo de direitos e contribuições, contemplando a criança enquanto outro, como manifestação humana. O totalmente outro manifestado como é, recebido e acolhido como tal, sem preconceitos ou discriminação.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Buscou-se compreender nesta pesquisa, a dimensão assumida pela alteridade da infância entre professores da Educação Infantil de Caruaru - PE, problematizando as múltiplas compreensões e sentidos acerca da infância entre tais docentes, ao mesmo tempo em que buscou delinear a proximidade entre a prática pedagógica hodierna voltada a criança pequena e o agir docente embasado na ética da alteridade.
MÉTODOS:
No que diz respeito às questões metodológicas, a pesquisa em questão apóia-se em um viés sociológico e filosófico. Como teóricos norteadores destas categorias é importante mencionar: POSTMAN, Neil; LARROSA, Jorge; KOHAN, Walter Omar; ARIÉS, Philippe; dentre outros. Enquadra-se na abordagem qualitativa por levar em consideração a comunicação do pesquisador com o campo empírico e seus membros, constituindo tal, como parte fundante da produção de conhecimento, sem reduzi-la a uma variável intermédia. Em termos de verificação empírica, delimitou-se os Centros de Educação Infantil da Rede Pública Municipal de Caruaru envolvendo um total de 08 (oito) professores que trabalham com a educação das crianças de 0 a 5 anos. Utilizou-se como procedimento para a coleta de dados, entrevistas semi-estruturadas proprietárias de um roteiro planejado com perguntas definidas, porém abertas, visando mapear um perfil mais abrangente dos sentidos acerca da infância e das configurações que se apresentam para se pensar e realizar as possibilidades educativas na Educação Infantil. Como instrumento analítico, empregou-se a análise de discurso buscando um processo de compreensão dos sentidos que circulam entre os professores atuantes na Educação Infantil. Sobre discurso, Foucault (1986) explicita, “Chamaremos de discurso um conjunto de enunciados que se apóiem na mesma formação discursiva” (p. 135).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Diante da análise realizada, evidenciou-se que para os professores entrevistados, não há distinção entre os termos “infância” e “criança”, sendo ambos utilizados com idêntica significação. Torna-se possível afirmar ainda, que para estes docentes a concepção de infância abriga-se sob duas perspectivas: paparicação e moralização. Ambas distintas em argumentações, porém equivalentes em um aspecto: deficiência de alteridade para com a infância e suas dimensões. A alteridade da infância na prática pedagógica contemporânea, também despontou-se habitante de duas temporalidades. Parte dos dados coletados conotou o reconhecimento de alguns educadores concernente à infância, enquanto tempo presente momento corrente, em curso. A outra parte por sua vez, foi ilustrada com requintado excesso de visão adultocêntrica, onde a infância distante de ser percebida em sua originalidade é apreendida enquanto forma de um adulto em construção. Sobre a educação destinada as crianças, os dados apontam que grande parte dos educadores possuem uma visão deturpada acerca de sua real função, assumindo nos enunciados, ora uma posição puramente assistencialista, onde a criança emerge como um ser fraco e inacabado, ora uma conduta voltada estritamente à alfabetização, onde a criança percebida enquanto uma folha em branco, torna-se mais um componente da grande massa infantil necessitada de escolarização.
CONCLUSÕES:
Não havendo desígnio unificador visando um consenso acerca das questões sobre a infância e a educação a ela destinada, uma vez que a pesquisa referenciada não se afasta da diversidade de idéias, nem mesmo das divergentes concepções próprias a lógica que não preza o pensamento linear e único, pode-se afirmar a título de conclusão, que a infância de certa forma, nada mais é que uma passagem para a vida adulta, carente de civilidade e desprovida de conhecimento. Deste modo o principal objetivo da Educação Infantil caracteriza-se principalmente em guiar estes sujeitos crianças em formação, por caminhos já pré-estabelecidos – conservados e perpetuados desde a modernidade – rumo ao perfil adotado como ideal pela sociedade. O perfil munido de experiência, de saber, de inteligência e capacidade: a idade adulta. Desconsiderando assim, as contribuições desses sujeitos na relação com o saber, que deve nascer, sobretudo, de uma escuta mais atenta das crianças. Portanto, praticar o ato docente na Educação Infantil atualmente implica questionar se esta reconhece na criança, as suas especificidades, transcendendo os discursos produzidos sobre ela ao longo do tempo. Este talvez constitua-se o principal desafio quando pensamos a tarefa educativa voltada a criança no Brasil.
Palavras-chave: Discursividade, Pedagogia da Infância, Empoderamento Infantil.