65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 17. Planejamento e Avaliação Educacional
A PRÁTICA AVALIATIVA NO CONTEXTO DOS CICLOS DE APRENDIZAGEM: AÇÕES E CONTRADIÇÕES
Rozana Ferreira Nascimento - Deptº de Pós-Graduação - FAFIRE- Recife
Renata Araújo Jatobá de Oliveira - Profª. Ms. Orientadora /FAFIRE/ UFPE/CEEL
INTRODUÇÃO:
Em 2001 foi implantado nas escolas municipais do Recife, o ensino organizado em Ciclos de Aprendizagem, trazendo em seu bojo uma proposta de justiça social e uma postura política de denúncia e resistência às deficiências do sistema seriado. Os estudos de Minardes (2007, 2009), Perrenoud (2000, 2007) e Barreto & Mitrulis (2007), expõem o ensino em ciclos como a construção de uma nova cultura educacional que envolve a prática pedagógica do professor, a reorganização da escola e das relações nela estabelecidas e, especialmente, do processo de avaliação da aprendizagem, que segundo os estudiosos do tema, deve ser amplo e dialógico, ou seja, uma “avaliação formativa”. Hoffmann (2001) e Luckesi (2005), sobre a avaliação formativa, defendem que deve se pautar no processo de ensino e de aprendizagem, e não apenas no resultado desse processo, envolve assim, tanto o estudante, como a prática pedagógica do professor. No contexto dessas ideias, buscamos com este estudo analisar como as escolas municipais do Recife entendem e defendem a prática avaliativa, tendo como parâmetros os princípios do ensino organizado em Ciclos de Aprendizagem e o paradigma da Avaliação Formativa.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Analisar a relação entre a concepção de avaliação da aprendizagem presente no discurso dos professores e nos documentos escolares e a prática dessa experiência no contexto do 1º ciclo do Ensino Fundamental das escolas da Rede Municipal de Ensino do Recife.
MÉTODOS:
Utilizamos para nosso estudo a pesquisa qualitativa, por entendermos ser a abordagem melhor atenderia o nosso propósito. A pesquisa envolveu três escolas da Rede Municipal do Recife, localizadas num mesmo bairro. Para atender nossos objetivos, nos utilizamos dos seguintes procedimentos: I- revisão da literatura baseada nos estudos de teóricos como Perrenoud (2000; 2007), Mainardes (2007; 2009), Hoffmam (2001), Luckesi (2005), e a Proposta Pedagógica em vigor da Rede Municipal; II- análise documental, contemplando a Instrução Normativa que orienta atualmente a organização do ensino e a prática avaliativa na Rede Municipal, os Diários de Classe, as atas dos Conselhos Pedagógicos e o Projeto Político Pedagógico das escolas campo de estudo; III- entrevistas realizadas com dezesseis professores. O principal documento de análise foram os Diários de Classe, num total de doze, dos quais foram submetidos à análise os registros do processo avaliativo de quarenta e oito estudantes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A concepção de avaliação formativa, embora presente no discurso dos professores e nos documentos oficiais, encontra dificuldades de ordem teórico-metodológica para se concretizar; A Instrução Normativa que orienta o processo de avaliação da aprendizagem da Rede Municipal do Recife, apresenta contradições conceituais; As instâncias coletivas de avaliação e planejamento instituídas são valorizadas, e compreendidas como espaço de apreciação e deliberação do coletivo das escolas; Os Diários de Classe apresentam uma estrutura (campos discursivos e não-discursivos) que ora se aproxima e ora se afasta da concepção de avaliação formativa e dos princípios do ensino em ciclos; Os campos discursivos dos Diários de Classe por si só, não garantem a qualidade dos registros, exigindo conhecimento teórico e prático; Os registros efetuados pelos professores nos Diários de Classe analisados revelam além de aspectos da profissionalização, as concepções e a autonomia do professor na condução do processo avaliativo dos estudantes; Os campos discursivos dos Diários de Classe permitem um fator de individualização de informações sobre o processo de aprendizagem do estudante que nenhuma nota ou conceito pode traduzir.
CONCLUSÕES:
O estudo revelou no contexto das escolas pesquisadas, dos professores entrevistados e dos documentos analisados, ações que se aproximam dos princípios da avaliação formativa e do Ensino em Ciclos de Aprendizagem, porém apresentam também, ações que contradizem esses princípios, verificadas tanto nos instrumentos oficiais (Instrução Normativa e Diários de Classe), como nas concepções e ideias dos participantes da pesquisa. Os Ciclos de Aprendizagem são defendidos pela maioria dos professores como uma forma mais democrática e inclusiva de organizar o ensino e, a Avaliação Formativa, como um processo mais eficiente de acompanhar o desenvolvimento dos estudantes, demonstrando grande avanço conceitual no campo pedagógico e político. No entanto, esses mesmos educadores reclamam da falta de infraestrutura necessária para efetivação de uma prática pedagógica coerente com os princípios do ensino ciclado. Concluímos assim, que se faz necessário buscar maior envolvimento de todos que participam do processo, bem como ações estratégicas que garantam as condições adequadas de trabalho, evitando-se que pela deficiência na estrutura organizacional, se condicione ao fracasso a proposta dos Ciclos de Aprendizagem e, consequentemente, um ensino mais democrático aos filhos da classe trabalhadora.
Palavras-chave: Ciclos de Aprendizagem, Práticas Avaliativas, Avaliação Formativa.