65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 6. Sociologia Urbana
FORMAÇÃO DE REDES SOCIAIS NA INTERNET COMO FERRAMENTA DE OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS URBANOS: ESTUDO DE CASO DOS MOVIMENTOS MASSA CRÍTICA E EXISTE AMOR EM SP.
Rafael Flores Gama Prates - Estudante/ Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Marília Flores Seixas de Oliveira - Profa Dra/ Orientadora – Depto de Filosofia e Ciências Humanas - UESB
INTRODUÇÃO:
Com a intensificação de uma sociedade do consumo, o indivíduo tende a ser mais objeto do que sujeito do espaço social, por ser fruto de relações econômicas de dominação e de políticas urbanísticas por meio das quais o Estado o ordena e o controla. Neste sentido a cidade deixa de ser um lugar de fruição e troca de valores culturais, dificultando o desenvolvimento de relações e criando guetos urbanos cada vez mais separados. Segundo Henri Lefebvre (1970), é por meio da contestação e da vivência concreta de experiências alternativas que é possível restituir a cidade como espaço cultural. O presente trabalho discute as experiências que contrariam o status quo de segregação do espaço urbano e reivindicam e propiciam um melhor uso dos lugares, com maior fruição de direitos. Analisou-se aqui a relação entre a formação de redes sociais através das ferramentas online e a criação de um senso de comunidade e sentimento de pertença a um ou mais sítios urbanos. Foram objetos de estudo os processos de mobilização do Massa Crítica, criado em 1992 em São Francisco, com o intuito de contestar o direito dos ciclistas e do Existe Amor Em SP, que surgiu da necessidade apontada na web de reinvindicação do uso público da cidade de São Paulo durante as eleições para prefeito de 2012.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente trabalho teve como intuito observar o papel da comunicação no processo mobilizatório de movimentos sociais que reinvidicam um melhor uso das cidades. As redes sociais na internet não cumprem aqui o papel de substituir a presença física e a interação face a face, mas sim de facilitá-las, tornando mais palpável a ocupação e a criação de novos usos para o espaço público.
MÉTODOS:
Os métodos utilizados na elaboração desse artigo foram: análise de materiais teóricos, que tratam do tema da pesquisa, bem como livros, artigos científicos e trabalhos acadêmicos que utilizam os conceitos de pertencimento simbólico e os estudos sobre a formação de redes sociais na internet. No período da pesquisa foram realizadas algumas entrevistas. Entre os entrevistados estão membros de coletivos do circuito Fora do Eixo, responsáveis pela experiência do Existe Amor Em SP e adeptos do movimento Massa Crítica. Além da observação de cinco edições da Pós Tv, canal de stream que transmite todas as terças-feiras as reuniões abertas do movimento Existe Amor Em SP.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A atuação social, mobilização e engajamento são raras no século XXI, no entanto podemos encontrar esses valores nas redes sociais formadas ou potencializadas na internet. A formação dessas redes foi um elemento central na repercussão dos movimentos analisados. Surgido poucos anos antes da popularização da internet pelo mundo, o Massa Crítica nasceu na cidade estadunidense de São Francisco com o intuito de reivindicar o direito dos ciclistas. Através dos fóruns de discussão online, o debate sobre a mobilidade das bicicletas foi se popularizando e o nome foi adotado por uma série de iniciativas de ocupação das ruas que já ocorriam pelo mundo afora. Estima-se que mais de 325 cidades organizem Massas Críticas.Já o Existe Amor Em SP possui uma relação mais umbilical com a internet, surgiu da necessidade apontada nas redes sociais de reinvindicação do uso público da cidade de São Paulo durante as eleições para prefeito de 2012. Percebe-se então que a principal válvula de propulsão desses movimentos é a possibilidade de se organizar através das mídias livres, trazendo o conceito de midialivrismo, o qual conversa com a percepção dos indivíduos como cidadãos multimídia, ou seja, capazes de distribuir, produzir, compartilhar e replicar informações através das ferramentas digitais.
CONCLUSÕES:
A prática do midialivrismo possibilitado pela interação nas redes sociais na internet acarreta a criação de um conjunto de atos de resistência e de formação de sujeitos que não se deixam capturar pelo controle e reivindicam uma economia da cooperação. Esta economia deve manter os bens comuns dentro de um direito e de um espaço público, para além da noção que este deva ser regulado e garantido por um Estado, portanto, por um agente de força exterior aos indivíduos. Assim, a produção de conteúdo, que sempre esteve atrelada àqueles que detinham a capacidade de irradiar informação, hoje está em todos os lugares virtuais, que se comportam cada vez mais como proponentes de uma nova realidade, cujas produções se dão de forma articulada e cooperativa, e seu produto final é exibido de forma pública e livre. Essa linguagem cooperativa, dialógica, múltipla e comum cria uma onda integrada, revelando novas manifestações contraculturais. Os exemplos utilizados são experiências ainda em processo de amadurecimento, mas que demonstram a potência coordenadora da comunicação para os movimentos sociais.
Palavras-chave: Redes Sociais, Pertencimento, Cidade.