65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
O Globo Repórter e lições para virar cigarra: análise do discurso sobre o “novo trabalhador brasileiro” na mídia televisiva
Lídia Maria Marinho da Pureza Ramires - Universidade Federal de Alagoas
INTRODUÇÃO:
O trabalho proposto tem base nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise do Discurso (AD) de linha francesa e analisa o discurso jornalístico do programa Globo Repórter, confrontando o político e o simbólico na relação entre língua, discurso e ideologia. Para tanto, analisamos os conceitos de sociedade e individualidade, cunhados no contratualismo e que se reconfiguram e fortalecem o discurso sobre o poder individual de se tornar bem-sucedido, a partir da fábula de Esopo, A Formiga e a Cigarra. Tomamos neste trabalho as reflexões de Pêcheux (1990a, 1990b, 1997a, 1997b, 2006, 2011), Orlandi (1983, 1996, 2001a, 2001b, 2002, 2012), Bourdieu (1997), Bauman (2001, 2009), Mészáros (2011a, 2011b) entre outros, sobre as exigências de destaque na sociedade atual e o estímulo da televisão à individualidade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Demonstrar a interdiscursividade entre a fábula de Esopo, a Cigarra e a Formiga, e as lições sobre o “novo trabalhador” brasileiro, a partir do discurso do Globo Repórter.
MÉTODOS:
O percurso teórico-metodológico adotado neste trabalho auxiliou na compreensão do funcionamento ideológico dos discursos que circulam na sociedade. A metáfora da Cigarra e da Formiga convoca os elementos de saber que sustentam o discurso sobre o sucesso ao tempo em que fortalece as noções de transferência da responsabilidade individual e da obrigação de lidar com as consequências de suas escolhas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A análise aponta para a transferência da responsabilidade para os indivíduos, como se a solução para as dificuldades profissionais estivessem em suas mãos. Esses sujeitos são levados a pensar que não conseguem porque não querem, não se esforçam o suficiente, não aproveitam as oportunidades. São excluídos pelas condições materiais e pelo discurso que reitera a igualdade entre os desiguais, as oportunidades em uma sociedade excludente. O discurso sobre o sucesso é sustentado pela ancoragem dos saberes que consideram as regras do mercado como o caminho para a felicidade e a liberdade do homem. Embora trate de sucesso, esse discurso funciona pelo efeito metafórico que estabelece novos sentidos para o termo a partir da fábula da Cigarra e da Formiga.
CONCLUSÕES:
O efeito ideológico do discurso sobre o novo trabalhador brasileiro, a partir da fábula da Cigarra e da Formiga, é de valorização das características que tornam o sujeito empreendedor dono de seu destino, ao tempo em que silencia as impossibilidades dessas conquistas em meio às relações de oposição entre classes antagônicas. A ideologia fornece as evidências (PÊCHEUX, 1997) de unicidade e consenso e permite que o termo “sucesso” seja tomado como efeito metafórico de sentidos de superação, resiliência e perseverança. Nesse trabalho, constatou-se que o discurso sobre o sucesso produz uma posição-sujeito específica – que convoca saberes sobre autodeterminação, resiliência, persistência e superação – sem que se saia da forma-sujeito da FD do mercado. Esse deslocamento produz sentidos conflitantes e que apontam para o simulacro de uma ruptura, de uma inovação, mas que reproduzem os saberes dessa FD.
Palavras-chave: Análise do discurso, Mídia e ideologia, Produção de sentidos.