65ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
HISTÓRIA E MEMÓRIA DOS BAIRROS DE BELÉM: O BAIRRO DE SÃO BRÁS
Maíra Naiar Barroso Reis Oliveira - Graduanda de Pedadogia
Gilvana Costa de Araujo - Graduanda de Pedadogia
Maria de Nazaré Brito Motta - Graduanda de Pedadogia
Venize Nazaré Ramos Rodrigues - Profa. Msc./ Orientadora - Depto de Filosofia, Ciências Sociais e Educação.
INTRODUÇÃO:
A cidade de Belém passou por diversas alterações em sua estrutura urbana, desde o século XVII, quando foi fundada, com reflexos nos bairros que a compõe.
O Bairro de São Brás faz parte deste contexto como espaço impactado pelas mudanças ocorridas em sua cartografia, influenciando nos padrões de convivência e sociabilidade. Bairro antigo suporte da estrada de ferro Belém Bragança, teve sua paisagem alterada significamente ao longo do século XX, onde um novo desenho teima em se conservar nas memórias dos moradores antigos. É como se uma cidade existisse no lugar da real, onde os antigos reconhecem casas demolidas que já não existem, lojas, quitandas, rostos de pessoas que fizeram parte dos cenários passados. São essas memórias que dão sentido a história do bairro e marcam,sua identidade, resignificando a afirmação de Certeau quando enfatiza que é preciso despertar as histórias que dormem nas ruas que jazem de vez em quando num simples nome, dobrados neste dedal como as sedas da feiticeira. (CERTEAU. p. 201, 1996.)
É nesse contexto de grandes mudanças que a referida pesquisa vem reconstruir a história quase “esquecida” pela modernidade, contada não pelos livros e sim pelos próprios personagens, aqueles que ajudaram a fazer a história usando a metodologia da história oral.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Desenhar a cartografia sociocultural do Bairro de São Brás (re)construindo pela voz de antigos moradores, a história e a memória do Bairro, verificando as mudanças e permanências existentes no bairro, com o processo de modernização caracterizado pelo intenso uso econômico da área com fins de lucro.
MÉTODOS:
Os objetivos da pesquisa nos conduzem a optar pela abordagem qualitativa e assenta-se nos pressupostos metodológicos da história oral. Antigos moradores do Bairro de São Brás foram selecionados em função do tempo de moradia no bairro e idade superior a 70 anos. Foram selecionados de inicio 10 moradores de diversas áreas do bairro. O local da entrevista na maioria das vezes foi nas próprias residências do entrevistado, pois, supõe-se que é o local mais apropriado para os moradores por estarem nela presentes as referências do entrevistado.
Pelo fato da pesquisa orientar-se pela História Oral, foram consideradas algumas questões, no que diz respeito aos instrumentos de coleta e análise: O instrumento que norteia as entrevistas é um roteiro com questões pertinentes, cujas respostas eram gravadas com a ajuda de gravador de voz. A transcrição do arquivo foi de responsabilidade do entrevistador que em um segundo momento submeteu o documento à testemunha, que acrescentou supriu, corrigiu, completou, tornando-a mais rica e autorizou o uso da voz e da imagem. Pesquisa bibliográfica e em arquivos, fotografias antigas ,músicas, além de consultas de jornais e dados do IBGE foram usadas como fonte.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Inventariou-se antigas formas de convívio, sociabilidade, expressões culturais, estéticas e religiosas. Memórias de moradores registram o bairro seguro que hoje inexiste. D. Antonia, 87 anos, fala: “na época de criança podia colocar cadeira na porta, não tinha assalto. Hoje sim”. Terrenos vazios e casas antigas deram lugar a luxuosos condomínios, o bairro de moradia tornou-se lócus comercial e intensificou o trânsito no entorno, em especial no antigo trecho da Independência, atual Magalhães Barata. As pessoas lembram o ônibus da época, o zepelim, que substituiu os bondes, com carroceria de madeira, ferro e flandres, na cor alumínio. O interior em couro alcochoado. Em vez de cobradores, 'aeromoças'. Nos anos 60 migraram para Manaus e São Luiz. Inspiraram a marchinha: 'Mamãe eu quero, quero/andar de zepelim,/com tanta mulher boa/dando sopa, está pra mim'.Maria recorda: “O transporte melhorou bastante, os ônibus eram de madeira, forma de charuto (Zepelim), ia de São Brás à Cidade Velha, pra pegar íamos ao terminal”.Aumentou a criminalidade, barulho, acidentes, diz Isabela Pegado, moradora do bairro ha quarenta e dois anos: “Junto com melhorias,que viesse a sinalização e lombadas pros carros diminuírem a velocidade, mais segurança porque vêm ladrões de outros bairros assaltar aqui”.
CONCLUSÕES:
As mudanças que ocorrem na materialidade do tecido social provocam transformações no individuo, fazendo-o consumir cada vez mais as “relíquias” do passado, em busca de uma identidade, que se encontra descentrada, fragmentada e deslocada. Assim Certeau refere-se a esta nostalgia: “Antigamente, palavra que assume função mítica ao insistir no desaparecimento de um passado que não volta mais, carregado, porém de referencias simbólicas. Nessa maneira de falar a esse respeito, o passado se torna a medida do tempo presente, sempre culpado de um esquecimento ou de uma morte.” (CERTEAU. p. 117, 1996)
Justifica-se assim a existência de um passado glamoroso e a recorrência a este passado cada vez que as incertezas do viver urbano provocam inquietações. Em suma, refletimos que a pesquisa possui sua importância no bojo educacional, pois discute as permanências e as mudanças da sociedade vista pelo viés do bairro, onde se localizam e habitam as pessoas e relacionam-se os grupos sociais.
Palavras-chave: Antigos, Moradores, Mudanças.