65ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
CONGRUÊNCIA DE PRÁTICAS DE EQUIPES DE SAÚDE MENTAL COM OS PRINCÍPIOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: DESAFIOS PARA A REINSERÇÃO DE USUÁRIOS NA FAMÍLIA E COMUNIDADE
Álissan Karine Lima Martins - Doutoranda, Universidade Federal do Ceará
Wanduy Dantas Ferreira - Graduado, Universidade Federal de Campina Grande
Tito Lívio Ribeiro Gomes do Nascimento - Discente, UAENF - Universidade Federal de Campina Grande
Kariny Kelly de Oliveira Maia - Discente, UAENF - Universidade Federal de Campina Grande
Luana Idalino da Silva - Discente, UAENF - Universidade Federal de Campina Grande
Neiva Francenely Cunha Vieira - Professora Titular, Departamento de Enfermagem - Universidade Federal do Ceará
INTRODUÇÃO:
No Brasil, bem como em vários países do mundo, vêm ocorrendo mudanças significativas nas políticas que norteiam a assistência ao portador de transtorno mental. No contexto brasileiro, estas propostas se deram a partir do movimento de Reforma Psiquiátrica, quando buscou-se a transformação das relações da sociedade com as pessoas em sofrimento mental, modificando os espaços de acolhimento para ambientes abertos e que contribuam para o processo da desinstitucionalização. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), como serviços substitutivos ao modelo hospitalocêntrico, possui notável importância no processo de reabilitação e reinserção sócio-familiar dos usuários. Nestes espaços, através das intervenções de equipes multidisciplinares e dos elementos técnico-conceituais, são disponibilizadas ferramentas que orientam no sentido de reabilitar e reinserir. Apesar dos encaminhamentos, a prática cotidiana mostra-se desafiada entre um fazer coerente com as propostas advindas da Reforma Psiquiátrica e a reprodução do paradigma anterior, o que compromete os ganhos para a reinserção destes usuários na família e comunidade.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Desta forma, o estudo objetivou identificar o perfil sócio-profissional dos membros da equipe multiprofissional e investigar a congruência das práticas de equipes multiprofissionais de saúde mental com os princípios da Reforma Psiquiátrica frente ao desafio da reinserção de usuários na família e comunidade.
MÉTODOS:
Pesquisa de abordagem qualitativa, com caráter exploratório realizada com vinte (20) trabalhadores em saúde mental dos CAPS (i, ad e II) do município de Cajazeiras – PB. Utilizou-se como critério de inclusão nível de escolaridade técnico e superior. A coleta de dados deu-se através de entrevista guiada por roteiro semi-estruturado contendo perguntas fechadas e abertas. Os dados foram analisados pela proposta do Discurso do Sujeito Coletivo, método proposto por Lefèvre e Lefèvre em pesquisas qualitativas que delimita as falas dos sujeitos em quatro figuras metodológicas: expressões-chave, idéias centrais, ancoragem e discurso do sujeito coletivo. Foram respeitados os direcionamentos estabelecidos pela Resolução N° 196/96, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, que regulamenta pesquisa envolvendo seres humanos. O projeto foi submetido previamente ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande para análise e apreciação. Para as entrevistas, os participantes foram informados sobre o estudo e, após esclarecidas as dúvidas, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Nos sujeitos participantes, há o predomínio de trabalhadores do sexo feminino (75%), de nível superior de formação (75%) e com permanência por tempo trabalho de até quatro (04) anos na área de saúde mental (65%). Maioria dos profissionais não possuía formação prévia em saúde mental antes da admissão. Quanto aos discursos do sujeito coletivo, foram identificados três aspectos: 1) congruência das práticas com a Reforma Psiquiátrica, 2) prática parcial frente aos pressupostos da Reforma Psiquiátrica e 3) incoerência com os princípios da Reforma Psiquiátrica. Apesar da coerência parcial ou total aos princípios da Reforma, os discursos fazem ressalva quanto ao perfil dos profissionais ou e das condições estruturais de funcionamento dos serviços, pontuando a necessidade de expansão dos serviços de saúde mental. Incluem ainda a necessidade de estruturação da rede de atenção psicossocial, garantindo as referências e contra-referências. A construção de uma rede comunitária de cuidados é fundamental para a consolidação da Reforma Psiquiátrica. A articulação em rede dos variados serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico é crucial para a constituição de um conjunto vivo e concreto de referências capazes de acolher a pessoa em sofrimento mental.
CONCLUSÕES:
A atual Reforma Psiquiátrica se contrapõe ao modelo hegemô¬nico de assistência centrado no hospital psiquiátrico e na exclusão social do doente mental. Esta se dá pelo rompimento de paradigmas, criando novas formas de convivência com a loucura e busca de transformação da realidade assis¬tencial, inserindo novos atores em sua história. Reorientar esse modelo de atenção para fora dos hospitais psiquiátricos, desconstruindo saberes, nomeando novas culturas para a convivência com o doente mental, devolvendo-lhe o direito à vida, à liberdade e à cidade, além de garantir assistência à saúde de qualidade torna-se um grande desafio. O estudo evidenciou a necessidade de revisão dos processos de trabalho da equipe, para possibilitar a construção de novos saberes, instrumentos, práticas e também o envolvimento dos trabalhadores como atores sociais da Reforma. Para isso, faz-se necessário também o incremento no trabalho de conscientização e co-responsabilidade no sentido de diminuir o preconceito da sociedade para com pessoas em sofrimento psíquico e incluir a família no tratamento e reabilitação psicossocial, de forma que a equipe alcance os pressupostos de reinserção dos usuários na família e na comunidade dados pela Reforma Psiquiátrica.
Palavras-chave: Equipe Multiprofissional de Saúde, Centros de Reabilitação, Serviços Comunitários de Saúde Mental.