65ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
A invenção da Amazônia no romance contemporâneo De ouro e de Amazônia
Hingrid Januário da Silva - Pesquisadora Júnior Bolsista - IFRO Câmpus Vilhena
Júnior Araújo - Pesquisador Júnior Bolsista - IFRO Câmpus Vilhena
Israel Rossatiuk Lopes - Pesquisador Júnior Voluntário – IFRO Câmpus Vilhena
Liliane Pereira Soares do Nascimento - Profª Orientadora – IFRO Câmpus Vilhena
INTRODUÇÃO:
A pesquisa propõe-se a investigar o romance De ouro e de Amazônia (1989), de Oswaldo França Júnior como objeto discursivo capaz de simular uma figuração de real e de que modo contribui para a formação de um imaginário amazônico. Uma abordagem inicial constatou a inexistência de bibliografia sobre esse romance, tendo-se localizado apenas um artigo, apesar da relevância da obra, como pretendemos demonstrar. Com relação à fundamentação da pesquisa, foram selecionados textos sobre a teoria da narrativa e sobre as teorias do imaginário, e sobre os romances da década de 1980. Para a especificidade do texto literário estudou-se, entre outros, Terry Eagleton, Massaud Moisés e Vítor Manuel de Aguiar e Silva. Para tratar do efeito de realidade tomou-se como base o livro Teoria semiótica do texto de Diana Barros (1997). Quanto às teorias sobre o imaginário, deu-se preferência a textos de Wolfgang Iser (1996) e François Laplatine (1997). Com relação à história literária e especificamente sobre a produção da década de 1980 utilizamos textos de Tânia Pelegrini (2001) e de Flávio Carneiro (2005). Ressaltamos que os textos citados nesta introdução não fazem nenhuma análise aplicada do romance em questão, razão pela qual chamamos a atenção para o ineditismo da proposta.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo da pesquisa é investigar o romance De ouro e de Amazônia a fim de verificar que estratégias discursivas são utilizadas para simular o real. Considerando-se o contexto de escritura, investiga-se como se dá a representação do migrante e os sentidos do seu deslocamento e ascensão social, e como a obra contribui para a formação de um imaginário sobre os garimpos de Rondônia.
MÉTODOS:
O trabalho foi desenvolvido como projeto de Pesquisa de Iniciação Científica Júnior e contou com a participação de dois bolsistas (CNPQ) e um pesquisador voluntário, além do pesquisador coordenador. Como trata-se de uma pesquisa bibliográfica, foram empregadas técnicas de documentação e métodos de análise literária, em especial os de análise da narrativa e os de análise do imaginário.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Segundo Flávio Carneiro (2005), a literatura brasileira posterior a 1970 é marcada pela descrença no projeto estético e ideológico que a antecede. Finda a ditadura, diz o crítico, o cenário da narrativa se reconfigura e a ficção da década de 1980 elege o cidadão comum e os “projetos particulares” como tema. No romance em questão, elege-se a Amazônia como espaço de representação para tratar do migrante e do garimpo e recorre a certas estratégias discursivas de simulação como apelo ao “referente” e ao “distanciamento” do narrador com relação ao narrado. O narrador, por meio da onisciência seletiva, apresenta em detalhes os espaços percorridos pelo protagonista, criando a ilusão de objetividade. As cidades de Minas Gerais, os garimpos de Rondônia e os marcadores sociais da década de 1980: SESI, SENAI e FEBEM, são signos da mobilidade do protagonista em busca de ascensão social. No discurso ficcional que simula o real, configura-se o imaginário. Para Iser (1996), os elementos passam a ser percebidos pela representação e a realidade é apreendida pela dinâmica com o imaginário. No romance, o garimpo na Amazônia é configurado como espaço de difícil permanência pelas condições naturais e pela violência, mas a ilusão do ouro fácil suplanta as adversidades, tornando o garimpo predestinado aos fortes.
CONCLUSÕES:
A pesquisa mostrou que o romance De ouro e de Amazônia estabelece um “jogo” que é o de aproximar a ficção, da face do Brasil dos anos 80. O modo de narrar, os espaços tomados por reais, as referências a comportamentos sociais, a denúncia do extrativismo, são modos de persuadir o leitor de que está diante de um quadro social específico: o garimpo de ouro e a violência na Amazônia. Os recursos linguísticos ajustam-se igualmente à intenção de referência ao real, dado o seu teor descritivo e a predominância de verbos do modo indicativo. O romance não lança mão de experimentalismos e a organização temporal é linear, já que se volta para a realidade para fazer uma espécie de reconhecimento da realidade brasileira, tudo contribuindo para fixar um modo de ver a Amazônia e contribuir para a configuração de um imaginário sobre a região.
Palavras-chave: Romance da década de 1980, Imaginário, Amazônia.