66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia
PREFERÊNCIA DE OVIPOSIÇÃO DA MARIPOSA Utetheisa ornatrix (Arctiidae). TESTANDO DUAS HIPÓTESES: “A MÃE SABE O QUE É MELHOR” E O EFEITO HOPKINS.
Daniela Maria Guedes - Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, UNICAMP, Campinas, SP
José Roberto Trigo - Orientador - Departamento de Biologia Animal, IB - UNICAMP, Campinas, SP
INTRODUÇÃO:
A preferência de oviposição de insetos em plantas hospedeiras pode ou não ter uma relação positiva com o desempenho das larvas e adultos nessas plantas. Larvas da mariposa monófaga Utetheisa ornatrix (Arctiidae) se alimentam de folhas e sementes de plantas nativas e introduzidas do gênero Crotalaria (Leguminosae). Elas sequestram alcaloides pirrolizidínicos (APs) dessas plantas, usando-os para defesa contra predadores e comunicação sexual. A espécie nativa C. paulina confere um melhor desempenho tanto para larvas quanto para adultos de U. ornatrix quando comparada com a introduzida C. spectabilis. Usando esse sistema, testamos duas hipóteses de preferência versus desempenho: “a mãe sabe o que é melhor” (fêmea escolhe a planta que confere o melhor desempenho para os descendentes), e o efeito de Hopkins (fêmea oviposita preferencialmente na planta onde se alimentou como larva, independentemente do desempenho conferido).
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desse projeto é estudar a relação preferência de oviposição versus desempenho de larvas e adultos na mariposa neotropical Utetheisa ornatrix (Arctiidae).
MÉTODOS:
Criamos, em condições controladas, um grupo de larvas de U. ornatrix se alimentando em folhas de C. paulina e outro em folhas de C. spectabilis. Mesuramos o tempos de desenvolvimento larval e a sobrevivência dos adultos. Os adultos originários da mesma planta hospedeira foram acasalados. Acondicionamos cada casal em uma gaiola contendo uma folha de C. paulina, uma folha de C. spectabilis e solução de sacarose 20%. As folhas foram trocadas a cada 3 dias. Contamos o número de ovos colocados nas folhas das duas espécies e fora delas até as fêmeas morrerem. Se fêmeas preferirem ovipor em folhas de C. paulina, independente da sua planta hospedeira da larva, a hipótese de a mãe sabe o que é melhor é suportada. Se fêmeas preferirem ovipor nas plantas em que elas se alimentaram quando larvas, o efeito de Hopkins é suportado. Analisamos a preferência de oviposição (número de ovos/folha) com uma ANOVA de um fator de medidas repetidas. O fator foi a planta hospedeira da larva e a medida repetida a espécie de planta onde a fêmea ovipõe.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Nossos resultados confirmaram que a planta hospedeira nativa C. paulina confere melhor desempenho às larvas de U. ornatrix, uma vez que as mesmas apresentaram um tempo de desenvolvimento do 1º instar até adultos significativamente menor (F 1,87 = 145,684, P < 0,001) e sobreviveram por um tempo significativamente maior na fase adulta (F 1,87 = 19,769, P < 0,001) quando comparadas as larvas criadas em C. spectabilis. Surpreendentemente, verificamos que as fêmeas ovipositaram significativamente mais em C. spectabilis, independentemente da planta hospedeira das quais elas se alimentaram quando larvas e independentemente do desempenho que elas apresentaram (F 2,74 = 60,927, P < 0,001), o que refuta as duas hipóteses iniciais (“mãe sabe o que é melhor” e efeito de Hopkins). Sugerimos que as fêmeas podem preferir C. spectabilis devido a melhor preservação das folhas dessa espécie em relação as de C. paulina, durante o experimento. Além disso, a maior concentração de APs nas folhas de C. spectabilis (5.15±0.42µg/mg) em relação a C. paulina (3.10±0.47µg/mg) pode ter induzido a preferência de oviposição de U. ornatrix.
CONCLUSÕES:
Em nossos próximos passos, novos experimentos deverão ser realizados controlando o possível efeito da diferença da conservação das características foliares de ambas as plantas hospedeiras. Além disso, testaremos a preferência das fêmeas em relação a folhas artificiais tratadas com diferentes concentrações do AP monocrotalina, que é comum a ambas as plantas hospedeiras.
Palavras-chave: Crotalaria paulina, Crotalaria spectabilis, Alcaloides pirrolizidínicos.