66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
C. Ciências Biológicas - 3. Bioquímica - 1. Bioquímica
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA EXPOSIÇÃO AO SELÊNIO E/OU AO MERCÚRIO SOBRE PARÂMETROS BIOQUÍMICOS DE CAMUNDONGOS Swiss ALBINO
Lidiane Machado Costa - UFSM
Tiago da Luz Fiuza - UFSM
Cláudia Sirlene Oliveira - UFSM
Michael Daniel da Costa - UFSM
Maria Ester Pereira - Dra./Orientadora-Depto. Bioquímica e Biologia Molecular, PPG Ciências Biológicas: Bioquímica Toxicol
INTRODUÇÃO:
O mercúrio (Hg) é um metal não essencial (não possui função biológica) e também um poluente ambiental. A toxicidade do HgCl2 pode ser atribuída a sua alta afinidade por grupamentos sulfidrílicos (-SH) causando mudança estrutural em enzimas e, por conseqüência, dificultando a ligação de grupos prostéticos ou até mesmo bloqueando os sítios ativos destas. Um exemplo de enzima que possui grupamentos -SH em seu sítio ativo é a delta-aminolevulinato desidratase (delta-ALA-D); esta enzima desempenha um papel importante nos organismos aeróbios por participar da síntese do heme. Em estudos deste laboratório observou-se que ratos expostos ao HgCl2 apresentaram uma diminuição na atividade da enzima delta-ALA-D de diferentes tecidos.
O Se pode ser encontrado na natureza tanto na forma orgânica (selenocisteína, selenocistina e selenometionina), como na forma inorgânica (selenito e selenato). Sabe-se que o Se possui efeito na distribuição do Hg no organismo e esse efeito pode reduzir a toxicidade causada por este metal tóxico. Porém, a maioria dos estudos relacionando os efeitos do Se e do Hg são realizados in vitro, logo estudos in vivo fazem-se necessários.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Este trabalho visa investigar o efeito da exposição ao Se e/ou ao Hg sobre parâmetros bioquímicos marcadores de toxicidade em camundongos Swiss albino.
MÉTODOS:
Os animais foram divididos em 4 grupos experimentais, onde receberam durante 5 dias uma dose diária de (PhSe)2 (5,0 mg/kg/dia) ou veículo (óleo de canola) via oral; 24 horas após a última administração de (PhSe)2, os animais receberam uma dose de 5,0 mg/kg de HgCl2 ou veículo (salina 0,9% NaCl) via intraperitoneal. Os animais foram pesados antes de cada tratamento para ajuste da dose e foram mortos 24 horas após a administração de HgCl2 ou salina. Amostra de sangue foi coletada para obtenção do soro para dosagem de uréia e creatinina e com anticoagulante (heparina) e posteriormente hemólise para determinação da atividade da delta-ALA-D. Rins e fígado foram removidos, pesados, homogeneizados e centrifugados para a obtenção de sobrenadante, para determinação da atividade da delta-ALA-D. Os resultados foram analisados por ANOVA de uma via seguido pelo teste post hoc de Duncan. A diferença foi considerada significativa quando p<0,05.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A ANOVA de uma via revelou efeito do tratamento sobre os níveis séricos de ureia e creatinina [F(3,24)=10,26; p<0,001; F(3,23)=8,12; p=0,001, respectivamente]. Os animais expostos ao HgCl2 (grupo óleo-Hg e Se-Hg) apresentaram um aumento nos níveis séricos de ureia e creatinina quando comparados ao grupo controle (grupo óleo-Sal). Os camundongos expostos somente ao (PhSe)2 não apresentaram alteração neste parâmetro. Os níveis séricos de ureia e creatinina são utilizados como marcadores de nefrotoxicidade. De fato, dados da literatura demonstram que a forma inorgânica do Hg acumula-se principalmente nos rins, o que pode levar a danos nos túbulos proximais e uma redução na taxa de filtração glomerular. Com relação a delta-ALA-D, a ANOVA de uma via revelou efeito do tratamento sobre a atividade da enzima de sangue [F(3,18)=8,174; p=0,001], fígado [F(3,19)=5,525; p=0,007] e rins [F(3,19)=11,415; p<0,001]. Os animais que foram expostos ao HgCl2 (grupo óleo-Hg e Se-Hg) apresentaram uma inibição da delta-ALA-D sanguínea, hepática e renal quando comparados ao grupo controle (grupo óleo-Sal). A exposição ao (PhSe)2 per se (grupo Se-Sal) também causou diminuição na atividade da delta-ALA-D nos três tecidos analisados (teste post hoc de Duncan). A inibição da delta-ALA-D, observada neste trabalho, pode ser justificada pela grande afinidade que o Hg e o Se tem por grupamentos sulfídrílicos.
CONCLUSÕES:
A exposição a uma dose intraperitoneal de HgCl2 aumentou os níveis séricos de ureia e creatinina, demonstrando que apenas uma dose de HgCl2 já é suficiente para alterar os parâmetros marcadores de nefrotoxicidade. A exposição tanto ao (PhSe)2 quanto ao HgCl2 inibiu a atividade da delta-ALA-D sanguínea, hepática e renal. Uma vez que o Hg é um metal não essencial, essa enzima pode ser usada como um marcador de intoxicação; porém, com relação ao (PhSe)2, uma vez que o Se é um mineral essencial, estudos com diferentes doses e formas de exposição são necessários para compreender o efeito deste elemento sobre esta enzima.
Palavras-chave: Cloreto de Mercúrio, Disseleneto de difenila, delta-ALA-D.