66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBCS - Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Ciência do Solo
AVALIAÇÃO DE TEORES DE DICLORO-DIFENIL-TRICLOROETANO (DDT) EM SOLOS DO ESTADO ACRE
Luis Pedro de Melo Plese - Orientador Doutor/Instituto Federal do Acre - IFAC
Josina Maria Pontes Ribeiro de Alcântara - Mestra/Instituto Federal do Acre - IFAC
Pedro Raimundo Soares de Souza - Mestre/Instituto Federal do Acre - IFAC
Ademar de Almeida Lima - Graduando/Instituto Federal do Acre - IFAC
Erick de Castro Ferreira - Graduando/Instituto Federal do Acre - IFAC
INTRODUÇÃO:
O DDT é um inseticida da classe dos organoclorados com característica de resistente a biodegradação, permanecendo no solo por décadas. A entrada do DDT no solo amazônico ocorre via aplicação direta ou pelo escorrimento superficial nas paredes das casas pela chuva excessiva ou, ainda, quando depositado no ar e adsorvido pela argila e/ou matéria orgânica. Uma outra característica do produto é a tendência a volatizar, por possuir o valor de 1,60 x 10-7 at 20ºC torr pressão de vapor. Assim, pode ser transportado para outro compartimento longe ou próximo do local de aplicação. Desta forma, aumenta o risco de contaminação de águas e, como consequência do logkow=6,91, a intoxicação de animais do meio aquático provocando a biocumulação e biomagnificação, o que pode causar agravos de saúde em seres vivos.
Embora este tipo de pesquisa seja pioneira no Acre, são encontrados relatos sobre determinação de resíduos de DDT em solo e água, como também toxicidade nos seres vivos nos Estados de Amazonas, Pará, Rondônia e Mato Grosso.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Determinar os teores de DDT encontrados em solo acreano, considerando uso indiscriminado para controle de pragas na agricultura, até 1985; bem como em campanhas de saúde pública para controle da malária, até 1998.
MÉTODOS:
A metodologia adotada foi quantiqualitativa, fazendo uso da gravação de histórias de vida tópicas com vinte e um antigos trabalhadores da área de endemias. Essa opção favoreceu a coleta de solos onde se tinha certeza da frequência de borrifação ou armazenamento de produto, bem como preencheu lacunas deixadas pela falta de registros escritos. Inicialmente foram selecionados dezesseis municípios para análise, considerando proximidade dos Câmpus do IFAC, necessidade de que fossem contempladas as cinco regionais administrativas do Acre e a disponibilidade de recursos existentes.
Sobre a metodologia de coleta de solos, a amostragem foi realizada 0-10 cm de profundidade utilizando uma cavadeira boca de lobo, sendo coletada uma única amostra por ponto. A quantidade de amostra solo foi de 250 g, armazenada em saco plástico de 1,5 kg, etiquetada e mantidas com gelo seco dentro de caixas isopor até o encaminhamento para freezer a -15°. Cada ponto foi fotografado e georeferenciado com GPS Gramin 76CSX. A extração do solo foi realizada com solvente orgânico de isooctano: tolueno (9:1). A fase orgânica foi injetada em cromatografo a gás ECD/ECD com dupla coluna de polaridades diferentes. Em caso de confirmação foi utilizado o CG-MS/MS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Considerando o total de 293 amostras de solo retiradas em 17 municípios do Acre, para realização de análises sobre a presença de DDT, 61,4% das amostras apresentaram teor de DDT acima de 0,002 mg/kg de solo. Os municípios que apresentaram maior teor residual médio foram Brasiléia (3,41 mg/kg), Plácido de Castro (1,17 mg/kg), Rio Branco (1,12 mg/kg), Xapuri (0,91 mg/kg) e Capixaba (0,71 mg/kg).
No que tange a concentração dos resíduos por município, inferiu-se que, por vezes, um único ponto de coleta era responsável por mais da metade dos resíduos encontrados no município. Assim ocorreu com o ponto 12 - Brasiléia, responsável por 88% dos resíduos encontrados; com o ponto 19 - Xapuri, responsável por 78,6% dos resíduos do município; com o ponto 03 de Rio Branco, responsável por 71,15% do total de resíduos; e, ainda, com o ponto 07 de Plácido de Castro, responsável por 39,9% dos resíduos.
A pesquisa qualitativa confirmou que durante as campanhas de saúde pública, os trabalhadores estavam desprovidos de equipamentos de proteção individual e de informações adequadas sobre a nocividade do produto e, ainda, não dispunham de infraestrutura adequada para armazenamento e transporte do DDT, o que favorecia a contaminação de solos, águas e de seres humanos em território acreano. Ainda foi possível perceber muita desinformação sobre descarte de produtos tóxicos, por parte de moradores de áreas rurais e trabalhadores da área da saúde durante as visitas realizadas a propriedades públicas ou privadas.
Dos 17 municípios analisados, apenas Bujari apresentou teor residual menor que 0,002 mg/kg. Em todos os outros, especialmente Plácido de Castro, Rio Branco e Brasiléia, há necessidade de remediação de solos contaminados, considerando o fato do percentual de resíduos estar acima do tolerável, segundo o Canadian Council of Ministers of the Environment e Resolução nº 420/2009 do Conselho Nacional de meio Ambiente – CONAMA.
CONCLUSÕES:
Os dados justificam a necessidade de se pensarem estratégias de descontaminação de solos, sobretudo em áreas de armazenamento do DDT; bem como a realização de novas pesquisas em seres vivos e água. Considerando a falta de informação sobre manuseio e descarte de produtos tóxicos tanto na agricultura como na área de saúde, é necessário que se pensem em novas pesquisas e campanhas educativas, a fim de que sejam evitadas situações semelhantes como a da contaminação por DDT.
Vale destacar que somente em 2009 regulamentou-se a proibição de fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e o uso do DDT no Brasil, responsabilizando o poder executivo pela realização de estudo de avaliação do impacto ambiental e sanitário causado pelo uso de DDT na Amazônia, o que pela Lei 11.936, deveria ocorrer no prazo de dois anos, a contar de 14 de maio de 2009, quando publicada a referida Lei.
Palavras-chave: DDT, Solos, Contaminação.