66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 1. Medicina Veterinária
AVALIAÇÃO ECODOPPLERCARDIOGRÁFICA EM CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL
Marlos Gonçalves Sousa - Universidade Federal do Tocantins
Vinícius Bentivóglio Costa Silva - Universidade Federal do Tocantins
Amanda Borges Gonçalves Lima - Universidade Federal do Tocantins
Cristiane Rodrigues Alves de Araújo - Universidade Federal do Tocantins
INTRODUÇÃO:
A leishmaniose é uma enfermidade potencialmente fatal que acomete seres humanos e animais domésticos e selvagens. Trata-se de uma doença causada por protozoários do gênero Leishmania spp., cuja distribuição ocorre nas áreas subtropicais, tropicais e, até mesmo, temperadas. Embora menos descritas na literatura, as lesões no sistema cardiovascular também fazem parte do espectro de alterações em cães com leishmaniose visceral. Já foi relatada miocardite em cães e seres humanos infectados com tal parasito, caracterizada histologicamente por edema, infiltração inflamatória, necrose focal e proliferação de miócitos de Anitschkow. Em um estudo preliminar conduzido no Hospital Veterinário da UFT, foram identificados complexos atriais prematuros em 4,8% dos cães positivos no diagnóstico parasitológico da leishmaniose visceral.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O presente estudo vislumbrou caracterizar apropriadamente em cães naturalmente infectados, o real comprometimento miocárdico que acompanha a leishmaniose visceral nos seus vários estágios de desenvolvimento, valendo-se da técnica ecocardiográfica convencional e por tissue doppler imaging.
MÉTODOS:
Para o desenvolvimento da pesquisa, foram selecionados cães capturados pelo Centro de Controle de Zoonoses de Araguaína, com diagnóstico sorológico positivo para leishmaniose visceral. Os animais foram alocados em três grupos distintos, definidos segundo a observação de sinais clínicos atribuídos à enfermidade em questão. Assim, animais sorologicamente positivos sem quaisquer sinais foram incluídos no Grupo I (assintomáticos), cães com até dois sinais integraram o grupo II (oligossintomáticos), enquanto cães apresentando três ou mais sinais compuseram o Grupo III (polissintomáticos), totalizando 4, 6 e 8 animais, respectivamente. A avaliação ecodopplercardiográfica foi realizada em equipamento digital, dotado de transdutor multifrequencial de 4-8 MHz, e incluiu a mensuração das variáveis em modo B, M e doppler. A análise estatística envolveu a comparação das variáveis estudadas entre os três grupos, sendo empregada análise de variância, seguida do pós-teste de Tukey-Kramer. Para todas as análises considerou-se P<0,05 como estatisticamente significativo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
A ecocardiografia é uma técnica que utiliza o ultrassom como meio diagnóstico focado na cardiologia. Trata-se de uma modalidade que vem sendo aplicada na Medicina Veterinária há vários anos, representando um importante método não invasivo na avaliação morfofuncional cardíaca. Em relação às variáveis ecocardiográficas em modo B e M, não houve diferença estatística significativa (P>0,05) entre os grupos experimentais GI, GII e GIII. Entretanto, é notória a tendência de decréscimo dos valores ao se avaliar as variáveis fração de encurtamento (FEC%) e fração de ejeção (FEJ%) em tais grupos, à medida em que há agravo da enfermidade. No que diz respeito às variáveis ecocardiográficas em modo doppler, não houve diferença estatística significativa (P>0,05) entre os grupos experimentais GI, GII e GIII. No presente estudo, a mensuração da velocidade transvalvar mostrou-se dentro da normalidade em todos os grupos experimentais, porém, houve incremento nos valores da variável VmaxAt conforme se intensificou a gravidade da enfermidade estudada nos grupos experimentais GI, GII e GIII, respectivamente. A partir da análise individualizada das variáveis diastólicas, particularmente os parâmetros derivados do tissue doppler imaging, identificou-se disfunção diastólica do tipo II (pseudonormalização) em dois animais do grupo GII (oligossintomáticos), bem como em dois cães integrantes do grupo GIII (polissintomáticos), evidenciada pelo padrão invertido da relação entre as ondas E’/A’, ressaltando a importância da realização dessa nova modalidade ecocardiográfica nos exames de rotina veterinários, visto que os parâmetros que retratam função diastólica no exame ecocardiográfico convencional não se mostram alterados na fase de pseudonormalização.
CONCLUSÕES:
Embora tenham sido encontradas alterações mínimas, há indícios da atuação do parasito sobre o tecido cardíaco. Entretanto, o número inferior de animais no grupo oligossintomáticos, destoando dos demais, é um provável entrave no que diz respeito à análise estatística comparativa. É de suma importância a constatação de disfunção diastólica em quatro cães da presente pesquisa, alocados nos grupos de animais oligossintomáticos e polissintomáticos. Considerando que a leishmaniose visceral é uma zoonose de cunho multissistêmico, é compreensível que o coração também seja acometido.
Palavras-chave: Leishmaniose, Ecodopplercardiografia, Diastologia.