66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 1. Farmácia
O USO RITUALÍSTICO DA AYAHUASCA E O TRATAMENTO INDIRETO DE ADICTOS
Tenes Dias de Jesus Júnior - Setor de Hematologia / Laboratório Exame
Jeferson de Oliveira Salvi - Orientador / Centro Universitário Luterano de Ji-paraná - CEULJI/ULBRA
Renata Chequeller de Almeida - Co-orientadora / Centro Universitário Luterano de Ji-paraná - CEULJI/ULBRA
Talita Osielli Quaresma da Silva - Centro Universitário Luterano de Ji-paraná
Natália Malavasi Vallejo - Centro Universitário Luterano de Ji-paraná
INTRODUÇÃO:
O chá da Ayahuasca é obtido por meio da decocção das folhas do arbusto Pyscotria viridis com o cipó da espécie Banisteriopsis caapi . Cerca de 70 tribos da Amazônia fazem uso da bebida oriunda da união dos vegetais, a qual passou a ser utilizada por civilizações de vilarejos nos estados do Acre e Rondônia. Após a regularização do seu uso para fins religiosos, a liberdade para prática do uso ritualístico possibilitou a expansão para além da cultura indígena, ocasionando o aumento significativo de adeptos. O uso contínuo da Ayahuasca é objeto de estudo devido aos poucos dados pré-clínicos e clínicos referente à seguridade em relação ao seu uso prolongado. Evidências científicas demostram benefícios no âmbito psicoterapêutico, eficácia junto ao tratamento do etilismo crônico e às drogas de abuso. O vício pode ser definido como uma doença primária que envolve o mecanismo da recompensa. O consumo de certas substâncias químicas, de maneira repetitiva, pode levar o indivíduo a manifestar comportamentos compulsivos que o caracterizam como adicto, há o desejo de utilizar o objeto-droga constantemente. No Brasil, o uso de drogas licitas e ilícitas, tais como o álcool, a cocaína e o crack, representa um problema de saúde pública, longe de ser solucionado.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Relacionar os efeitos do uso ritualístico da Ayahuasca à descontinuidade do uso abusivo de drogas que caracterizam a adicção.
MÉTODOS:
Estudo observacional e exploratório do tipo relato de caso. Após preenchimento dos termos de consentimento livre e esclarecido, os participantes (n=7) que encontravam-se institucionalizados na Comunidade Caminho de Luz, situada no município de Ouro Preto do Oeste (RO), foram submetidos a entrevistas de caráter informal, por pauta, registradas em áudio. O critério de inclusão foi a auto declaração do uso de algum tipo de droga lícita ou ilícita de forma abusiva. Determinou-se a qualidade de vida aplicando-se o questionário Short Form-36 (SF-36), o nível de esperança pela escala de esperança de HERT e o nível da satisfação perante o estudo por meio de uma escala visual analógica modificada para satisfação (EVA-S). Para caracterização do perfil hematológico 5 mL de sangue foram coletados e enviados para análise dos parâmetros: hemoglobina (HGB), volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM), concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e contagem de leucócitos. Os resultados foram interpretados aplicando-se o Wilcoxon Signed Rank Test com auxílio do programa SPSS 20.0, considerando nível de significância (p≤0,05).
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Por unanimidade os participantes consideraram o uso ritualístico da Ayahuasca uma forma de tratamento e que, através do seu uso, conseguiram ou poderão abandonar a adicção. “-Eu digo que o vegetal ensina, ele mostra aquilo que se tem guardado, mostrando tudo aquilo que fizemos de errado e já esquecemos e outras coisas recentes. (...) Hoje eu penso assim: eu perdi muito tempo da minha vida, esse tempo que eu passei, assim, usando bebida alcoólica, fumando, pra mim foi um tempo perdido, foi o pior tempo da minha vida.” Ao considerar que a adicção é uma doença que perturba as funções biológicas essenciais à vida e à neuroquímica, observou-se que a população estudada apresentou escores com valores acima da média, mensurados pelo questionário de qualidade de vida (SF-36), obteu-se maiores escores nas dimensões que avaliam a capacidade funcional e a dimensão relacionada à saúde mental. Por meio de tais resultados, pode-se inferir que o uso ritualístico da Ayahuasca proporcionou aos participantes significativa qualidade de vida. Ao analisar o nível de esperança, todos os indivíduos apresentaram um alto nível mediante a possibilidade do abandono ou interrupção do uso abusivo das substâncias químicas. O escore médio dos participantes para a satisfação em participar do estudo foi de 9,58 ± 1,02 (p=0,02). Os valores obtidos por meio dos exames hematológicos em relação à média dos valores de referência demostraram que os parâmetros: volume corpuscular médio (VCM) e hemoglobina corpuscular média (HCM) apresentaram diferença significante (p=0,002) quando comparados à média dos valores de referência. De um modo geral, os demais parâmetros hematológicos e imunológicos demostram-se normais, de modo que, não registrou-se alterações comuns à sujeitos considerados adictos, como em quadros de etilismo crônico onde são frequentes os estados de anemia e leucopenia.
CONCLUSÕES:
O fenômeno adicção é assunto complexo, de difícil abordagem e tratamento nem sempre eficazes. Os esforços para se combater e encontrar soluções para o problema da drogadição contrastam com o uso abusivo de substâncias lícitas que podem funcionar como porta de entrada para as drogas ilícitas. Considerando que a saúde não é apenas a ausência da doença, na busca pelo restabelecimento integral do ser, a religião é o instrumento que pode atuar como peça fundamental na recuperação. A interpretação de que o uso do decocto obtido dos vegetais não objetiva a obtenção do prazer, sustenta legalmente a prática das religiões ayahuasqueiras. Os resultados apontam que para os participantes o sucesso na descontinuidade do uso de substâncias químicas relaciona-se a ayahuasca, somado a isto, evidencia-se os valores considerados positivos para a qualidade de vida, nível de esperança e ausência de anormalidades nos parâmetros imuno-hematológicos.
Palavras-chave: Santo-daime, Cipó-do-mariri, Chacrona.