66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura
MAD MARIA: UMA MAZELA ESQUECIDA
Cesar Augusto de Araujo Arraes - Acadêmico de Letras - Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente-IEAA/UFAM
Valdemir Monteiro Cruz - Acadêmico de Letras - Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente-IEAA/UFAM
Joanna da Silva - Orientadora Profa Msc - Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente-IEAA/UFAM
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é resultado da análise da obra: Mad Maria de autoria do escritor Márcio de Souza. O conteúdo dessa análise está dividido em dois tópicos: 1) Contexto Histórico e 2) Denúncia social. A presente análise toma por base a leitura da obra Mad Maria com uma visão científica pautada na realização de uma pesquisa investigativa sobre os acontecimentos registrados na narrativa que tem como foco principal a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, na região do atual estado de Rondônia, mais especificamente situados em Porto Velho e Abunã, e, também, na Bolívia. Em sua narrativa ficcional Souza busca sintetizar o fracassado projeto ferroviário que tinha como pretensão do Governo Federal levar o “progresso e o desenvolvimento” para uma região desconhecida e imprevisível, que era a floresta Amazônica. As circunstâncias em que os fatos ocorreram, o contexto histórico-político e, por último, as problemáticas sociais apresentadas e denunciadas pelo autor, tornam-se relevante para o presente estudo.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo desta pesquisa é apresentar uma leitura analítica da crítica social contida na obra Mad Maria (1980), de Márcio Souza, que trás como temática principal o projeto do Governo Brasileiro em prol do desenvolvimento econômico da região Norte, que consistia na construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré no início do século XX, cujo fracasso deixou como herança grandes mazelas para a região.
MÉTODOS:
Foi utilizado o método estruturalista para analisar de forma crítica a complexidade de vários grupos sociais numa trama e suas reações. Nesse trabalho a técnica utilizada foi a pesquisa através de obras de cunho literário, social e histórico. Também foi utilizada documentação indireta por meio eletrônico e digital, como fotografias pertencentes a Dana B Merrill. A crítica literária e histórica tomou por base nas relações entre a obra e sua contextualização sociocultural, na qual se destacam estudiosos como: Antonio Candido (2006) Gyorgy Lukács (1965), Márcio Souza (2009), Mário Ypiranga Monteiro (1998), Mikhail Bakhtin (2002), Neide Gomdim (1994), entre outros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Decorrente de acordos políticos entre governos, a partir de 1840 a 1851, deu-se início as tentativas de construção de uma ferrovia cujo objetivo era proporcionar uma melhor saída de produtos da Bolívia para o oceano Atlântico. Em 1852, o tenente Lardner Gibbon, do governo dos Estados Unidos da América, percorreu o trajeto Bolívia-Belém, descendo pelo lado boliviano os rios Guaporé, Mamoré, Madeira e Amazonas. Em 1903, em razão da disputa de uma área na região do Acre, o governo brasileiro e governo da Bolívia assinaram o Tratado de Petrópolis que consistia em construir uma estrada de Ferro que facilitaria o transporte de produtos para importação e exportação entre os trechos não navegáveis dos rios da Amazônia até a parte navegável, e, assim, atingir o Oceano Atlântico. Através do tratado, a construção da ferrovia deveria ser feita pelo governo brasileiro, ou por empresa particular por este contratada. Segundo Marx (2009, p. 113) o capitalismo impõe suas regras para se perpetualizar no poder e muitas vezes contra a vontade do indivíduo. A contratação da empresa, do Grupo Percival Farqhuar, permitiu a entrada de homens de várias nacionalidades, mas sem respeitar a integridade do cidadão que, em decorrência do ambiente adverso na Amazônia, tais como: clima (diferente daquele aos quais os trabalhadores/imigrantes estavam adaptados), moradia, saneamento básico, animais/insetos, alimentação, doenças tropicais, isolamento dentro da selva, entre outros, favoreceu a morte de milhares de trabalhadores, devido às condições sub-humanas a que foram submetidos. No período da construção, entre 1907 e 1912, a inércia do governo brasileiro em não fiscalizar os procedimentos adotados pela empresa contratada, tais como: a forma de contratação de mão de obra e condições de trabalho, proporcionou grande margem de lucros à empresa do Grupo Farquhar, porém em contrapartida, a omissão do governo brasileiro ocasionou irreparáveis prejuízos sociais e econômicos à região Amazônica.
CONCLUSÕES:
A construção da ferrovia foi responsável pela contratação de indivíduos oriundos de várias nacionalidades (Alemanha, Barbados, Itália, Portugal, Espanha, e outras) que, trazidos para a região amazônica sem preparação prévia a respeito do trabalho e das reais condições de vida a que seriam submetidos, tornaram-se reféns de uma retórica enganosa e vítima das condições sub-humanas que enfrentariam subordinados aos propósitos ambiciosos do diretor da empresa, o americano Sr. Percival Farquhar, um empresário inescrupuloso, cujo objetivo era obter lucro. O autor Márcio Souza utiliza em sua obra um recurso impressionante de narração ao unir fatos históricos e questões sociais que se desenvolvem ao longo da trama de maneira cativante e ao mesmo tempo crítica tornando-a assim, riquíssima fonte de conhecimentos histórico-sociais, literários, e culturais, apresentando também os prejuízos e mazelas que este empreendimento deixou como legado à região da Amazônica.
Palavras-chave: Contexto Histórico, Estrada de Ferro, Crítica Social.