Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o): SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA |
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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 1. Antropologia |
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Mudanças de perspectivas a partir de trabalho participativo em Terra Indígena |
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MOACIR HAVERROTH - Embrapa Acre
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INTRODUÇÃO: |
Este trabalho enfatiza a metodologia participativa como forma de alcançar melhores resultados em trabalhos aplicados com povos indígenas, valorizando o conhecimento tradicional e ampliando, assim, a visão sobre a forma de trabalhar e pesquisar. Todo o trabalho tem, como base, o Plano de Gestão da Terra Indígena, também chamado de plano de vida, e todo o trabalho visa dar subsídios para o melhor planejamento e alcançar a segurança alimentar do grupo. A partir de uma demanda inicial dos Huni Kuin (Kaxinawá) da TI Kaxinawá de Nova Olinda (TIKNO), iniciou-se um processo de diálogo com diversos momentos, através de reuniões na cidade de Feijó-AC e na Aldeia Nova Olinda, para levantar outras demandas e discutir prioridades a serem incluídas num projeto de Pesquisa e Desenvolvimento no âmbito da Embrapa e com apoio de outras instituições parceiras. Ao final, o projeto foi estruturado em quatro planos de ação temáticos, cada qual com diversas atividades de pesquisa e/ou desenvolvimento, cuja execução foi entre setembro de 2011 e agosto de 2014. Foram realizadas seis expedições à TIKNO, além de ações de intercâmbio, quando Agentes Agroflorestais dessa TI participaram de atividades na TI Kaxinawá da Praia do Carapanã, em Tarauacá-AC, e da Feira de Sementes dos Krahô em Tocantins. |
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OBJETIVO DO TRABALHO: |
Melhorar a interação entre técnicos/pesquisadores e público;
Ampliar a visão sobre o que estudar e como estudar;
Valorização de conhecimentos locais para a gestão das Terras Indígenas (TI). |
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MÉTODOS: |
Após conversas com os Huni Kuin, acorriam articulações com potenciais parceiros a fim de atender às demandas. Após o projeto aprovado, nova reunião foi realizada na TI a fim de planejar a execução conjuntamente. Assim, definiram-se equipes de cada atividade formadas por pesquisadores/técnicos das instituições e por membros da comunidade, de maneira a haver o diálogo de saberes e resultar em produtos que refletissem essa interação. Assim, todos os trabalhos em campo e de intercâmbio foram realizados com equipes com essas características. A cada ação, a orientação é que fossem levantados os pontos de vista de cada participante e os produtos (mapas, cartilhas) e soluções (métodos de plantio, controle de doenças e insetos, meliponicultura, produção de farinha da mandioca, etc.) refletissem não só a diversidade, mas a integração desses conhecimentos diversos. Foram realizadas oficinas específicas para cada tema e atividades de intercâmbio entre os Agentes Agroflorestais desta TI com outras TI’s. Foram executadas atividades nos temas meliponicultura, fruticultura, fitossanidade, produção de farinha de mandioca e etnopedologia. Houve observação direta e acompanhamento das atividades e conversas antes e depois, com os respectivos membros, a fim de conhecer a suas percepções do processo. |
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RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
o longo das diversas atividades desenvolvidas, observou-se que houve o envolvimento direto e participativo dos kaxinawá em todas as atividades. Entretanto, devido às características diferenciadas de algumas equipes, com maior sensibilidade ao diálogo, maior abertura à conversação ou maior treinamento prévio com metodologias participativas, verificou-se maior envolvimento, participação e integração entre os membros de algumas equipes em relação às demais. Essas diferenças se refletiram nos resultados ou produtos das atividades, onde se percebe que os diferentes pontos de vista (técnicos/pesquisadores e kaxinawá) estão presentes e de forma integrada de maneira mais evidente naquelas atividades em que a participação efetiva ocorreu mais claramente. Para ilustrar, temos, como produto final palpável, um mapa etnopedológico detalhado em alta resolução, onde aparecem dados da caracterização e classificação dos solos da TI do ponto de vista e na língua, ou seja, na ciência Hãtxa Kuin (Kaxinawá) e do ponto de vista da ciência Pedologia, incluindo nomenclaturas específicas para relevo e ambientes específicos. Assim, a partir de metodologia participativa e diálogo de saberes, chegou-se a uma terceira visão e perspectiva de gestão, que considera ambas as matrizes de conhecimento, tendo como base um Plano de Gestão da TI dinâmico. Em cada área trabalhada, observou-se evidente melhoria nas práticas de produção de alimentos, buscando quantidade, diversidade e qualidade. Entretanto, o resultado mais importante, em termos gerais, foi a mudança de perspectiva do grupo em relação ao seu potencial, tendo, como referência, sua organização local e sua identidade Huni Kuin. Com isso, uma série de iniciativas passou a impulsionar novas ações em busca da melhoria das condições locais. |
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CONCLUSÕES: |
Verificaram-se mudanças de perspectivas em relação ao olhar e à forma de lidar com o meio através da conexão entre conhecimentos tradicionais e técnico-científicos para ambos os membros das equipes. Todos os membros das equipes, tanto externos quanto internos à TI, manifestaram opiniões de que houve mudança positiva sobre a percepção do trabalho após as experiências de campo. Questões que não estavam previstas nas metodologias, acabaram se tornando importantes em função da interação entre os técnicos/pesquisadores e os kaxinawá, bem como a forma de analisar os dados também teve de ser revista ao longo do processo a fim de privilegiar novos pontos de vista e novas linguagens trazidos pelo outro. Assim, ambos os conhecimentos foram valorizados e ponderados, tendo como perspectiva o Plano de Gestão da TI. |
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Palavras-chave: Metodologia participativa, Plano de Gestão de Terra Indígena, Kaxinawá. |