66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História da Cultura
SAGRADO E PROFANO EM PARINTINS-AM: ASPECTOS RELIGIOSOS NAS TOADAS DE BOI BUMBÁ (1990-2014)
Ana Regina Pantoja Guerreiro - Instituto Pastoral, Cultura e Ensino da Diocese de Parintins
João Marinho da Rocha - Universidade do Estado do Amazonas-Centro de Estudos Superiores de Parintins. UEA/CESP.
INTRODUÇÃO:
O festival de Parintins, como outras festas populares da Amazônia, teve suas origens e estruturação ligada aos espaços físicos da Igreja católica. A festa que conhecemos hoje foi organizada pela primeira vez em 1965, por um público infanto-juvenil ligado à Igreja Católica, conhecido como Juventude Alegre Católica – JAC, que promovia folguedos e peladas, com dois objetivos: proporcionar lazer aos jovens, e ser um instrumento de evangelização. É nesse contexto que surge o paradoxo sagrado e profano, que tornam‐se presente/visível no cotidiano da cidade, com a Festa da Padroeira e o Festival Folclórico. Neste sentido, é que este estudo trabalho tem teve como principal objetivo analisar como ocorre essa relação sagrado/profano durante o festival folclórico de Parintins, tendo como foco as letras das toadas dos dois bumbas, onde o sagrado se manifestam e são materializados nas estruturas alegóricas construídas pelos artistas da ilha. Mais ainda, reflete sobre como ocorre à relação profano/sagrado em uma cidade marcadamente cristã católica, tido como referência no Baixo Amazonas, também se mostra ao mundo a partir de uma festa folclórica.
OBJETIVO DO TRABALHO:
Geral: Analisar de que forma o profano e o sagrado se apresentam nas letras das toadas do boi bumba de Parintins. Específicos: a) Verificar como se dá a relação sagrado/profano no festival folclórico de Parintins, a partir das letras de toadas. b) Refletir sobre como se administra a relação sagrado e profano em Parintins, a partir da análise das letras da toadas de boi bumbá.
MÉTODOS:
Este estudo orientou-se pela pesquisa qualitativa (MINAYO, 2000), através da qual foi possível verificar, identificar e analisar a relação sagrado/profano nas toadas de boi-bumbá em Parintins. Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo (IDEM, 2000), a partir de uma abordagem fenomenológica, (IDEM 2000). Primeiramente realizou-se um levantamento bibliográfico, na sequência realizamos uma catalogação das toadas a partir dos títulos que abordam a questão estudada, em seguida foram analisados dois tipos de toadas: as que aparecem explicitamente à veneração ao sagrado e a outra não explicitamente. Para compreender o processo da inserção dos aspectos religiosos nas toadas dos bois-bumbás de Parintins-AM.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
As manifestações da cultura popular e a religiosidade têm uma necessidade de pedir-se licença, buscando na religião as bênçãos para as brincadeiras se apresentarem. Para ilustrar cito um verso da toada Boi do Carmo de 1991, do compositor Chico da Silva. “Minha santa paz e amor. Nossa Senhora proteção de Parintins. Boi Garantido numa forma de oração. Pela fé e gratidão lhe traz rosas e jasmins”. A devoção ao sagrado é, para diversos fiéis, a crença que lhes garante a proteção e a busca por uma vida digna. Nas letras das toadas em Parintins, percebe-se a exaltação à Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins, a exemplo da toada Festa do Carmo de 2000, do compositor Cyro Cabral. “No luar faz-se ouvir cantar dos hinos. Caprichoso evolui ao som dos sinos. Festa do Carmo é tradição de uma nação”. [...] Observa-se na toada acima, a analogia entre os hinos e os sinos, tendo o compositor colocado esses símbolos religiosos para demonstrar que o boi está no território sagrado, onde os hinos e sino representam para a Igreja momentos de louvor e anúncio da chegada do Salvador, indicando também que o boi vai evoluir, quer dizer que o boi vai se apresentar. As pessoas buscam codificar e decodificar determinados eventos ditos profanos, buscando sua sacralização, a fim de dar sentido às ações do cotidiano, buscando também, uma espécie de aceitação de si e de tais eventos. Visualiza-se isso na toada Romaria nas águas de 2000 também do compositor Cyro Cabral, demonstram esta manifestação: “Garantido conclama os pescadores pra grande procissão. São devotos do santo protetor de qualquer embarcação. Neste gesto de fé, de puro amor vou legar-lhe a devoção.” Cunha (2008) os atos das palavras constituem-se suporte para as práticas religiosas, que por sua vez, regulam as eficácias simbólicas. Enfim, o que ocorre em Parintins é um sintomas das múltiplas Amazônias, onde elementos aparentemente adversos se equilibram e indicam a diversidade que é o espaço Amazônico.
CONCLUSÕES:
Entre os eventos ditos profanos está o boi bumbá de Parintins-AM, no qual nasceu dentro da Igreja, por intermédio do grupo de jovens da época, e hoje se tornou conhecida mundialmente. Nosso olhar nessa pesquisa se deu a partir dos aspectos religiosos nas toadas de boi-bumbá de 1990-2000, onde é forte a presença do sagrado/profano. As toadas são algo abstrato, que saem de um ambiente físico indo para outro espaço, como o bumbodrumo, através das alegorias que passam um realismo do sagrado, o local que é profano agora se transverte de sagrado. Compreender esse processo de sagrado/profano, nas letras das toadas dos bois, se faz necessário para do entendimento como esses dois elementos se inserem no contexto do festival folclórico de Parintins, a partir das toadas. Ganha relevo na medida em que ajuda a lançar luz para entender como o sagrado está presente em uma festa como a do boi-bumbá.
Palavras-chave: Boi-bumbá de Parintins, Cultura Popular, Sagrado e Profano.