66ª Reunião Anual da SBPC |
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o): ABRASCO - Ass. Bras. de Pós-Graduação em Saúde Coletiva |
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Saúde Coletiva |
A SEXUALIDADE DE GRÁVIDAS ADOLESCENTES |
Adriani Castro de Lima - Centro de Ciências da Saúde e do Desporto - UFAC, Rio Branco, AC Leila Maria Geromel Dotto - Centro de Ciências da Saúde e do Desporto - UFAC, Rio Branco, AC Marli Villela Mamede - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP, Ribeirão Preto, SP |
INTRODUÇÃO: |
O processo gestacional exerce importante influência no comportamento e função sexual feminina, podendo alterar a resposta sexual saudável, descrita por um processo de quatro etapas (desejo, excitação, orgasmo e resolução), que não possui um padrão de resposta sexual fixa, sendo flexível na ordem de execução dessas fases citadas. Durante a gestação, a saúde sexual pode ser afetada, por inúmeros fatores que decorrem de todas as modificações físicas, psicológicas, hormonais, emocionais que surgem durante os nove meses, bem como das condutas e valores que são repassados e introduzidos pelo meio social, religioso, familiar, profissional, e de amizade. A literatura descreve 36% a 49% de prevalência de alguma disfunção sexual feminina no período não gravídico, durante o ciclo gestacional, o terceiro trimestre é o período em que a manifestação dos problemas sexuais é mais observada, sendo 63,2% em grávidas adolescentes e 73,3% em grávidas adultas. Mesmo com grande relevância na saúde sexual e na qualidade de vida feminina, estudos que abordem essa temática na população adolescente, durante o período gestacional, são raros evidenciando uma lacuna que precisa ser preenchida. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
O objetivo deste estudo foi estimar a prevalência dos problemas sexuais, antes e durante a gravidez, em adolescentes grávidas de seu primeiro filho. |
MÉTODOS: |
É um estudo descritivo, de corte transversal, que faz parte de um estudo matriz denominado “Saúde reprodutiva de primigestas: análise de fatores relacionados ao tipo de parto”, realizado de fevereiro a julho de 2010, com 887 parturientes nas duas maternidades do município de Rio Branco, Acre. A amostra foi composta por 352 adolescentes que deram a luz a seu primeiro filho em uma das duas maternidades do município, que residiam em Rio Branco, que tinham parceiro durante a gravidez e assinaram o TCLE. A coleta de dados ocorreu no alojamento conjunto, por meio de entrevista estruturada aproximadamente 12 horas após o parto. A entrevista era composta por duas partes. A primeira abordava as informações sobre dados sociodemográficos e da gestação, adaptado do estudo “Capital Social e Fatores Psicossociais associados à Prematuridade e ao Baixo Peso ao Nascer”, de Maria do Carmo Leal (ENSP), a segunda parte tratava de questões relacionadas à saúde sexual construído com base no Pregnancy and Sexual Function Questionnaire - PSFQ de Gokyildiz e Beji, e validado para a língua portuguesa por Amaral. Para a análise dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 13.0, e realizadas análises univariadas e bivariadas, com teste de associação. As instituições autorizaram a pesquisa. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
A média e mediana de idade das participantes foi de 17 anos (DP = 1,5), variando de 13 a 19 anos. Das adolescentes entrevistadas 84,7% se declarou não branca, 64,6% referiram ter menos que dois salários mínimos de renda mensal familiar, 33,2% não tinham chegado ao ensino médio, 46,3% não estavam mais estudando no momento da entrevista, 4,5% tinham alguma ocupação remunerada, 32,1% planejaram a gravidez e 47,4% das adolescentes acharam seu corpo feio durante a gravidez. A frequência das relações sexuais apresentou um decréscimo conforme a progressão da gestação, sendo que a manutenção das relações sexuais com uma frequência de três vezes ou mais por semana foi de 33,5% nas adolescentes no terceiro trimestre. Um estudo realizado em Lisboa, com grávidas de baixo risco revelou que 75% das grávidas referiram um decréscimo desde o primeiro trimestre, e 52% das grávidas estavam satisfeitas com a frequência das relações. Dentre as adolescentes, 75,6% tinham desejo sexual três vezes ou mais por semana antes da gravidez, esse percentual foi diminuindo durante os trimestres da gravidez e chegou a 29,7% no terceiro trimestre. No Brasil, uma avaliação realizada com 1219 mulheres, mostrou que 26,7% das mulheres tinham disfunção do desejo; um estudo conduzido com 4.753 ginecologistas demonstrou que a queixa de diminuição do desejo sexual foi um dos principais motivos de procura por consultas em seus consultórios. A prevalência da dispareunia encontrada na literatura é de 13% a 23% em mulheres não grávidas e de 23,2% em gestantes. Neste trabalho a queixa de dor durante as relações sexuais foi crescente de um trimestre para o outro, atingindo um ápice 55,8% no terceiro trimestre; o que retrata uma alta prevalência de dispareunia nessa população. Estudos em gestantes mostram problemas na lubrificação de 35%; em nossa pesquisa foi de 30,7% nos três meses finais da gravidez; talvez a idade explique a diferença na frequência desse achado. |
CONCLUSÕES: |
O presente estudo mostrou que a função sexual é afetada durante a gravidez, com uma diminuição na frequência da atividade sexual, desejo, lubrificação e satisfação, quando comparado ao período pré-gestacional de mulheres adolescentes; e aumento na dispareunia durante os trimestres gestacionais. Por esse motivo, a sexualidade deve ser tema presente e obrigatório nas consultas pré-natais, já que este é um espaço privilegiado para acolhimento, assistência, tratamento e também para a educação em saúde. Entre as adolescentes que se encontram numa fase de transição e aprendizagem, na busca de sua identidade pessoal; essas modificações podem causar conflitos sexuais e gerar perturbações no relacionamento do casal, que influenciam de maneira negativa na saúde do binômio mãe e filho. |
Palavras-chave: Gravidez na adolescência, saúde sexual, sexualidade. |