66ª Reunião Anual da SBPC |
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o): ABRALIN - Associação Brasileira de Linguística |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 2. Linguística Aplicada |
ASPECTOS LEXICAIS DA PESCA EM RIO BRANCO: A DENOMINAÇÃO DOS PEIXES |
Jadiane Alina Carminatti Rodríguez - Bolsista PIBIC/letras/Espanhol - UFAC Márcia Verônica Ramos de Macêdo - Orientadora - Universidade Federal do Acre |
INTRODUÇÃO: |
Compreende-se que o léxico de uma língua natural constitui uma forma de registrar o conhecimento do universo e ao nomear os seres e os objetos que o homem classifica. Qualquer língua viva está sujeita à variação interna que se manifesta sincronicamente na variação geográfica e na variação social as quais, apesar de intimamente interligadas, têm sido campo de estudo privilegiado, respectivamente, da Dialectologia e da Geografia linguística. Tal estudo justifica-se por ser a pesca uma atividade tradicional muito antiga e muito importante, sobretudo como meio de sobrevivência para a população de baixa renda e também por ser uma fonte rica de saber popular. Baseada nos conhecimentos empíricos e passados de geração a geração, essa atividade mantém relevantes características linguísticas, o que possibilita a preservação dos traços de variação de uma língua e suas consequentes marcas culturais mais relevantes. Uma vez reconhecida a importância dessa atividade, percebe-se a necessidade de se estudar também a linguagem por ela utilizada, pois todas as variantes linguísticas podem e devem ser descritas, analisadas, estudadas, para que se desconstrua a ideia errônea de língua homogênea, única e sem possibilidades de variações. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
Este estudo tem por objetivos o de estudar a linguagem da pesca na comunidade riobranquense a partir de uma abordagem dialetológica a fim de identificar as principais características relacionadas à atividade pesqueira, bem como elaborar um glossário das lexias levantadas e uma carta linguística do léxico do pescador, especificamente no tocante aos tipos de peixe da localidade. |
MÉTODOS: |
A pesquisa está embasada nos pressupostos teóricos da Dialetologia, da Geografia Linguística e da Lexicologia. O corpus constitui-se de dados constantes em dezesseis entrevistas do questionário semântico lexical Os informantes foram homens e mulheres divididos em três faixas etárias: A) 20 – 30 anos, B) 35 a 50 anos e C) 55 anos em diante e as entrevistas foram realizadas nos Mercados Municipais e na Feira do Peixe, na cidade de Rio Branco, esta última ocorrida por ocasião da Semana Santa e socializou informantes de várias localidades. As lexias coletadas formaram um glossário específico e foi elaborada uma carta léxica denominada Peixes de Rio Branco. O campo semântico estudado foi O pescador e o trabalho, especificamente no que se refere às denominações dos nomes dos peixes (couro e escama) encontrados na região estudada com enfoque nas variáveis: diatópica, diagenérica e diageracional. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
Foram levantadas, no total, 32 lexias. Sendo treze denominações para os peixes de couro, e apenas seis apresentam variação lexical: Cuiú-cuiú, Dourado (Dourada), Jundiá (Bagre), Piraíba (Filhote, Tubarão de água doce), Pirarara (Pirará), Surubim Pintado (Surubim, Pintado, Caparari), todos elas estão dicionarizadas. Dois desses peixes apresentaram variação fonética: Mandi (Mandim) e Curimbatá (Curimatã/Curimatá). Em relação aos peixes de escama foram encontrados dezenove itens lexicais. Porém, apenas três deles apresentam variação lexical: Acará (Cará, Cará-açú), Pescada (Pescado), Tambacu (Peixe-Cachorro). Além disso, quatro das lexias estão dicionarizados com acepção diferente (piau, cará, bodó, pescado). Desses itens, apenas um não está dicionarizado: o tambacu. O interessante é que a variação dele encontra-se dicionarizada, o peixe-cachorro. E três desses itens estão dicionarizados com outra acepção: bodó, cará, e piau. O peixe “cará”, por exemplo, é uma variação de Acará. Porém, esta espécie foi somente citada pelos informantes como “cará”, que foi encontrado com outra acepção sendo “designação comum a várias espécies da família das discoreáceas, providas de tubérculos alimentares e de que algumas são ornamentais” (FERREIRA, 1986). Houve ainda um informante que citou a espécie “Caruaçu”, que segundo ele é “um peixe bom para comer”. Porém, não se tem registro da espécie em dicionários. Por analogia, acredita-se que etimologia da palavra Caruaçu seja uma variação de Cará-açú, que significa, peixe grande. O falante por maior facilidade na pronúncia diz: caruaçu. Nesse sentido, entende-se que cará-açu, carauaçu, carauçu, o item encontrado Caruaçu, possa ser originário do termo Acará + –açu formando a lexia Acará-assu que por um processo de economia lingüística o falante (pescador) reduziu à Caruaçu. |
CONCLUSÕES: |
O estudo mostra a peculiaridade fala do pescador da comunidade pesquisada, e a sua riqueza de conhecimento no que diz respeito à pesca de um modo geral e os nome dos peixes citados pelos pescadores e que não são tão reconhecidos por boa parte da população, demonstrando algumas variações para designar um mesmo item lexical, o que comprova que a língua é dinâmica, evolui, faz-se e refaz-se na boca de seus usuários e só o grupo de falantes decide quando deve inovar, conservar e/ou abolir uma forma em detrimento de outra o que ocorre com o léxico do pescador riobranquense. A língua entendida como heterogênea e social pode ser sistematizada a partir de estudos de cunho dialetal e sociolinguístico, sobretudo no que diz respeito a descrição do léxico e suas inúmeras variações lexicais. |
Palavras-chave: Dialetologia, Lexicologia, Geolinguística. |