66ª Reunião Anual da SBPC
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o):
SBQ - Sociedade Brasileira de Química
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 5. Química de Produtos Naturais
Reposicionamento in silico e in vitro do alcaloide cloridrato de papaverina
Fernanda Priscila Santos Reginaldo - Departamento de Farmácia/ Centro de Ciências da Saúde- UFRN
Fernanda Varela Siqueira - Departamento de Farmácia/ Centro de Ciências da Saúde- UFRN
Andreia Freire Barbosa - Departamento de Farmácia/ Centro de Ciências da Saúde-UFRN
Kleber Juvenal Silva Farias - Departamento de Analises Clinicas e Toxicológicas, Centro de Ciências da saúde - UFRN
Raquel Brandt Giordani - Orientadora/ Faculdade de Farmácia - UFRN
INTRODUÇÃO:
O processo de descoberta e desenvolvimento de novos fármacos é demorado e dispendioso, além da probabilidade de sucesso ser baixa. Portanto, há crescente interesses no reposicionamento de medicamentos existentes para novas indicações terapêuticas. Quando bem sucedido, este processo reduz o risco de falha e alguns custos associados como desenvolvimentode um novo fármaco. Este processo tem sido chamado de ‘reposicionamento de princípios ativos’ ou ‘redirecionamento de princípios ativos’, e vem se tornando cada vez mais popular nos últimos anos. Progressivamente está aumentando a necessidade da descoberta de novos fármacos em busca de um tratamento eficiente para doenças infecciosas. Alguns estudos tem reportado que papaverina demonstrou ter uma atividade para inibir a replicação de vírus do sarampo, citomegalovírus (CMV) e HIV. A papaverina é um alcaloide benzilisoquinolínico, sintetizado em baixa quantidade na maioria das variedades de papoula de Papaversomniferum. É um relaxante de ação direta na musculatura lisa, usada no tratamento de impotência sexual e como vasodilatador.
OBJETIVO DO TRABALHO:
O objetivo deste estudo é avaliar o reposicionamento in silico e in vitro do cloridrato de papaverina. In silico avaliamos possíveis novos alvos terapêuticos por meio de um screening e in vitro avaliamos se esta substância possui uma potencial ação contra o vírus da dengue.
MÉTODOS:
O cloridrato de papaverina (CP) foi obtido de fonte comercial. A análise por docking in silico foi realizada por meio do programa autodock vina e a análise dos resultados foi baseada na função de classificação deste software. O teste in vitro foi realizado utilizando a cultura de células Vero, as quais oferecem melhores condições de replicação para o vírus da dengue. Utilizando o meio L15 a 10%, concentração necessária apenas para o crescimento e adesão celular, foi realizado o plaqueamento em uma placa de 96 poços, colocando 100μL de células em cada poço e incubando em estufa a 37 ºC por 24h para adesão das células na placa. Após esse período de incubação o meio foi retirado e foram acrescentados 200μL de CP nas concentrações de 2mg/mL, 1mg/mL, 500μg/mL, 250μg/mL, 125μg/mL, 62,5μg/mL, 31,25μg/mL, 15,5μg/mL, 7,8μg/mL e 3,9μg/mL, sendo incubado por 24h para avaliação das concentrações citotóxicas. Posteriormente, o meio contendo CP foi retirado, sendo acrescentados 50μl de MTT (5mg/mL), incubando a placa em estufa por 4 h. Passado esse período de incubação, foram adicionados 100μL de DMSO, seguida da homogeneização constante durante 10 minutos, realizando após isso a leitura da absorbância no espectrofotômetro a 540nm.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
O teste in silico demonstrou a capacidade do CP de interagir com 45 proteínas frente ao banco de proteínas virtuais PDB, dentre elas encontram-se proteínas vegetais, microbianas, humanas e virais. Esse achado está em acordo com alguns relatos descritos na literatura, os quais mostraram que o CP inibe a replicação viral do HIV-1, ao mesmo tempo em que estimulou a avaliação dessa substância frente ao vírus da dengue. Os testes in vitro para avaliar a ação do CP frente ao vírus dengue estão na etapa de conclusão. No entanto, os resultados para a determinação das concentrações citotóxicas já foram realizados. As concentrações de 2mg/mL, 1mg/mL, 500μg/mL, 250μg/mL, 125μg/mL, 62,5μg/mL, 31,25μg/mL, demonstraram ser citotóxicas para as células, apresentando a 2mg/ml uma viabilidade celular de 17% e a 31,25μg/mL uma viabilidade de 61%. As concentrações de 15,5μg/mL, 7,8μg/mL e 3,9μg/mL demonstraram uma viabilidade celular média de 81%, 90% e 92%, respectivamente. A concentração de 7,8μg/mL foi a escolhida para avaliar a ação da papaverina frente ao vírus da dengue, uma vez que esta apresentou uma média de 90% de viabilidade celular. A concentração de 3,9μg/mL apresentou uma média de 92% de viabilidade celular, no entanto, esta concentração não foi escolhida, porque pode não ser uma dose suficiente para ter uma ação antiviral quando comparada com a dose de 7,8μg/mL. Nokta e colaboradores reportaram que o cloridrato de papaverina inibiu significativamente a replicação do HIV-1 mais de 99% com doses de 30μM, sendo a dose inibitória mínima de 5,8μM. Outros estudos mostraram relatos de que o cloridrato de papaverina demonstrou ter uma atividade inibitória para a replicação do vírus do sarampo e CMV. Dessa maneira, a avaliação do potencial anti-dengue do CP vem para complementar os dados já existentes sobre potencial antiviral da substância.
CONCLUSÕES:
Os testes in silico demonstraram que o CP tem afinidade para interagir com proteínas do vírus HIV-1. Os resultados dos testes in vitroainda estão em fase final de execução e avaliação, porém, de acordo com o teste in silico e com dados reportados na literatura o cloridrato de papaverina demonstra ter uma potencial ação antiviral. Diante disso, o cloridrato de papaverina parece ser um fármaco em potencial para um reposicionamento, tendo como novo alvo terapêutico uma possível ação antiviral.
Palavras-chave: Reposicionamento de drogas, cloridrato de papaverina, Atividade antivira.