66ª Reunião Anual da SBPC |
Resumo aceito para apresentação na 66ª Reunião Anual da SBPC pela(o): SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA |
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia |
Diagnóstico das características culturais e identitárias da Comunidade Quilombola Saco/Curtume em São João do Piauí |
Maria Keila Jerônimo - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) Elenice do Monte Alvarenga - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) Marcelo Batista Gomes - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) |
INTRODUÇÃO: |
O texto é fruto de pesquisa multidisciplinar intitulada “Diagnóstico histórico, cultural, geográfico, etnobotânico e ambiental da comunidade quilombola Saco/Curtume em São João do Piauí-PI”, realizada pelo Instituto Federal do Piauí em 2013, com objetivo de caracterizar diferentes aspectos dessa comunidade, visando o embasamento para o desenvolvimento de estratégias relacionadas a ações a serem implantadas futuramente nessa comunidade. Em relação à cultura, buscou-se identificar as concepções de cultura dos moradores desse quilombo, as suas principais práticas culturais, as atividades culturais que eles gostariam que lá fossem desenvolvidas, as principais ações que visam à preservação das tradições culturais quilombolas. Procuramos também compreender como os quilombolas do Saco/Curtume lidam com a identidade negra e quilombola, ou seja, como se apropriam do complexo cultural que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, e costumes típicos das comunidades negras. Com esses dados, a construção de uma proposta de intervenção visando à preservação e resgate dessa cultura obterá resultados mais eficientes. Identificar as manifestações culturais é fundamental para apreendermos os modos de vida, os modos de fazer e de transmitir os conhecimentos adquiridos para as gerações futuras. |
OBJETIVO DO TRABALHO: |
A população quilombola é símbolo da cultura negra no Brasil, assim, examinam-se as concepções de cultura e identidade dos moradores do quilombo Saco/Curtume em São João do Piauí e identificam-se tradições e práticas culturais dessa comunidade, bem como, a definição de cultura e identidade negra e quilombola dos moradores listando as principais atividades culturais desenvolvidas nessa comunidade. |
MÉTODOS: |
O material explorado neste trabalho consiste num corpus formado por depoimentos sobre as concepções e a importância da cultura para os moradores da comunidade quilombola Saco/Curtume, as principais práticas culturais desenvolvidas na comunidade e a importância dessas práticas, a participação dos sujeitos entrevistados nessas práticas culturais e as práticas culturais que os moradores gostariam que fossem praticadas na comunidade. Indagaram-se também aos moradores sobre o que é ser negro (a) e como eles (as) se definem enquanto quilombolas. Das 50 residências da comunidade quilombola Saco/Curtume, foram entrevistados 15 moradores de ambos os sexos, selecionados por amostragem de domicílio, sendo: 26,7% homens e 73,3% mulheres. Entre os homens, 50% eram lavradores, 25% operador de moto serra e 25% professor de capoeira. Já entre as mulheres, 36,4% eram lavradoras, 27,3% donas de casa, 9,1% artesãs, 9,1% empregadas domésticas, 9,1% professora de capoeira e 9,1% estudantes. O ponto de partida é a identificação da concepção de cultura e o mapeamento das principais atividades culturais desenvolvidas nessa comunidade quilombola. |
RESULTADOS E DISCUSSÃO: |
O diagnóstico das características culturais e identitárias do quilombo Saco/Curtume revelou que o mesmo apresenta deficiências em relação às práticas culturais que visam à preservação da cultura negra. Entre os entrevistados na pesquisa, a maioria relatou que não existem outras práticas culturais de matriz africana presente na comunidade a exceção da prática da capoeira de quilombo, única atividade cultural regular do quilombo, segundo moradores. A maioria das entrevistas foi realizada com senhoras donas de casa ou lavradoras, elas relatam a falta de atividades culturais voltadas para as crianças e sugerem a prática de outras danças e atividades, pois nem todas se identificam com a capoeira, sugeriram também, a realização de práticas esportivas e aproveitaram para reclamar da falta de uma escola na comunidade. O fato da comunidade não possuir uma escola, talvez, seja um dos fatores para a limitada atividade cultural no quilombo. Quanto à concepção de cultura dos moradores do quilombo Saco/Curtume, apenas quatro, dentre eles duas lideranças locais, sabem distinguir a cultura enquanto práticas que nos diferenciam dos animais e que dão significados a nossa vida da cultura relativa à produção agrícola como a cultura do milho, do arroz,... A maioria dos entrevistados entende por cultura o cultivo da roça. Para uma das entrevistadas de 29 anos, cultura é: “agente mora na roça, e agente planta feijão, macaxeira; a parte da horta: coentro, alface, tomate, pimentão, pimentinha, só isso mesmo”. Respostas como essa foram frequentes, isso denota a necessidade de atividades culturais, bem como atividades de ensino relativas à formação de multiplicadores da cultura negra no quilombo, pois, entre os entrevistados tínhamos uma jovem estudante que não soube responder o que é cultura. Em relação à identidade negra e quilombola, os entrevistados, em sua maioria, se identificam com a primeira, por razões históricas que envolvem o surgimento do quilombo Saco/Curtume. |
CONCLUSÕES: |
Conclui-se que as deficiências na formação cultural e na preservação da identidade negra no Saco/Curtume estão atreladas à baixa escolaridade da população, dos 15 entrevistados, a maioria possuía o ensino fundamental incompleto ou não eram alfabetizados. Outro fator é inexistência de uma escola, os alunos do Saco/Curtume para estudarem precisam se deslocar para a sede do município e, portanto, acabam se integrando às práticas culturais presentes na escola da cidade, o que dificulta o fortalecimento da identidade negra e quilombola na comunidade. Conforme o mestre de capoeira da comunidade, a importância da cultura se dá por que “ela é uma forma de se repassar o conhecimento para as gerações”. Para ele, “se os jovens não veêm às práticas da cultura negra ou quilombola no seu dia-a-dia, eles tendem a assimilar as práticas culturais do colonizador”, daí a importância da transmissão cultural na comunidade para manutenção da identidade, função hoje encabeçada pela capoeira de quilombo. |
Palavras-chave: Cultura, Identidade, Quilombo. |