Reunião Regional da SBPC em Boa Vista
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenhar - 5. Ciências Florestais
Experiências de plantios de pau-rainha na comunidade indígena Araçá, Roraima
Rachel Camargo de Pinho 1
Ari da Silva 2
José da Silva Filho 2
Zildo José Januário 2
Robert Miller 3
Sonia Alfaia 1
1. INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
2. Associação de Pais e Mestres (APM) da comunidade Araçá - Terra Indígena Araçá
3. GEF Indígena/PNUD
INTRODUÇÃO:
A maior parte das Terras Indígenas (TIs) do lavrado (savanas de Roraima) possui área pequena (<50.000 ha), ao mesmo tempo que a população indígena tem aumentado. A maioria dos recursos utilizados pelas comunidades (madeira, caça, alimentos, palha etc) se encontra nas “ilhas” de mata espalhadas pelo lavrado. Além disso, nas ilhas de mata os solos possuem maior fertilidade natural, por isso são também utilizadas para instalar roças, através do sistema de corte-e-queima. Apesar dos sistemas agrícolas indígenas serem de pequena escala e baixo impacto ambiental, a extração de madeira e a abertura de novas áreas para roça têm feito pressão sobre as ilhas de mata. Nos últimos anos, está diminuindo a disponibilidade de plantas madeireiras, principalmente o pau-rainha (Centrolobium paraense – Leguminosa).
Plantios de espécies madeireiras nativas são necessidade crescente nas TIs da região, para fornecer madeira para as comunidades e ao mesmo tempo preservar as áreas de mata. Existem poucos estudos assim na região. Esse trabalho reúne experiências iniciais de plantios agroflorestais de pau-rainha na comunidade Araçá, a partir de iniciativas dos próprios indígenas, com apoio dos projetos Wazaka’ye/Guyagrofor e Agroflorr, também nas demais comunidades da TI Araçá e TI Ponta da Serra.
METODOLOGIA:
Araçá é a maior das 5 comunidades (Araçá, Guariba, Mangueira, Mutamba, Três Corações) da TI Araçá, que somam 1490 habitantes Macuxi, Wapixana e Taurepang.
Frutos de pau-rainha de várias árvores matrizes foram coletados nas ilhas de mata da comunidade, e plantados inteiros, sem descascar para tirar a semente, através de semeadura direta, em diferentes locais e combinações de espécies:
-Viveiro:
Plantio direto em canteiro: parte em palha de arroz, parte em terra e esterco, com fruto deitado, espaçamento adensado (+/- 10 cm). Ao longo do tempo, algumas plantas foram transplantadas ou morreram devido ao adensamento. No primeiro ano houve sombreamento parcial (cobertura de palha) e irrigação diária. Outras espécies arbóreas foram plantadas ao redor.
-Capoeira velha e roças:
Plantio direto no solo, 10 cm, fruto deitado, espaçamento 2m, na estação chuvosa. Na capoeira, foi plantado junto com nativas de mais de 3 m, e de mudas plantadas 1 ano antes. Na roça, junto com as plantas da roça.
RESULTADOS:
Os frutos plantados no viveiro germinaram em média 2 meses após plantio. Porém, de maneira variada: com sementes germinando após 10 dias, e outras levando meses, ou até mais de 3 anos. Aparentemente o substrato com palha acelerou a germinação. O desenvolvimento foi bom, com algumas plantas atingindo mais de 4 metros em 3 anos. É possível que o sombreamento, e também o esterco de gado usado em trabalhos anteriores no viveiro, tenham beneficiado o crescimento.
Para frutos plantados nas roças e capoeiras, onde as plantas dependiam só da chuva, a germinação foi baixa (menos de 10%) e tardia. Após 2 meses, no fim das chuvas, a maioria das plantas estava pequena (menos de 15 cm), não robustas o necessário para os próximos 4 meses de seca (dez-mar). Nesses casos podem ser feitos testes para acelerar a germinação e também o plantio a partir de mudas.
Nas roças, as plantas estavam fracas e amareladas, muito expostas ao sol, indicando ser talvez necessário mais cobertura do solo e sombreamento. Ocorreu muito ataque de formigas.
Na capoeira, o desenvolvimento do pau-rainha e outras plantas foi melhor na beira da trilha que dentro da capoeira. É provável que dentro da capoeira haja pouca luz e mais ataque de pragas. Ocorreu ataque de formigas e cupins, e enrolamento de cipós nas plantas.
CONCLUSÃO:
Os testes iniciais sugerem que o pau-rainha precisa de bastante umidade para germinar. Muito sol pode prejudicar o crescimento, por isso recomenda-se o plantio junto de outras espécies, com um pouco de sombra, e o solo coberto. O pau-rainha prefere solos férteis, sendo importante usar esterco, composto ou adubação verde.
As atividades de produção e plantio de mudas de pau-rainha também são promissoras, e já vem sendo experimentadas por alguns indígenas na região.
Palavras-chave: Centrolobium, lavrado, plantio.