Reunião Regional da SBPC em Boa Vista
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
Distribuição de aranhas e insetos nas três espécies arbóreas dominantes do Lavrado (savanas) de Roraima.
Ciro Campos 1
Reinaldo Imbrozio Barbosa 2
Paulo Atlântico Figueiredo Amorim 2
1. Instituto Socioambiental - ISA
2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
INTRODUÇÃO:
A copa das árvores (dossel) abriga espécies que não são observadas em outros estratos da vegetação e, em uma região com características climáticas extremas como o Lavrado (savanas de Roraima), este ambiente representa um importante abrigo e um recurso valioso para diversos grupos da fauna. Interações entre artrópodes e espécies vegetais podem interferir nas características e processos do ecossistema como ciclagem de nutrientes, heterogeneidade espacial e diversidade biológica. As espécies arbóreas dominantes no lavrado são caimbé (Curatella americana L.), mirixi (Byrsonima crassifolia (L.) Kunth) e mirixi-cajú (Byrsonima coccolobifolia H.B.K.), que respondem por cerca de 75% dos indivíduos e 90% da biomassa das plantas lenhosas. Dados sobre a fauna de artrópodes coletados estritamente no Lavrado são pontuais e normalmente concentrados nos insetos de interesse médico e nos visitantes florais. Além da falta de informações sobre os artrópodes que habitam as árvores do Lavrado, pouco se conhece sobre a composição das comunidades, distribuição e sazonalidade, bem como seu papel na manutenção das funções ecológicas do ecossistema do Lavrado. Este trabalho investiga a distribuição dos grandes grupos de artrópodes nas árvores dominantes das savanas de Roraima.
METODOLOGIA:
O Lavrado (~40.000 km2) é o maior bloco contínuo de savanas do bioma Amazônia. As coletas foram realizadas no Campus Experimental do Cauamé (UFRR) e Campo Experimental Água Boa (Embrapa), nos arredores de Boa Vista, em áreas de savana gramíneo-lenhosa e savana parque, sujeitas ao stress hídrico, altas temperaturas, grande incidência luminosa e incêndios periódicos. Foram amostradas 93 árvores (34 C. americana, 32 B. crassifolia e 27 B. coccolobifolia) em 15 parcelas permanentes do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio/MCT). As coletas foram diurnas, entre 2005 e 2006, no período seco (dezembro) e intermediários seco-chuvoso (março-abril) e chuvoso-seco (setembro). A técnica do batimento foi adaptada com o uso de uma rede (puçá) de 1,8m x 1,2m (malha de 0,5mm), usada para ‘fechar’ todo o ramo. Foram medidas a altura e volume da copa e do ramo coletado. A localização das árvores foi registrada com GPS, e um escore de 0 a 4 foi usado para estimar a quantidade de flores e frutos.
RESULTADOS:
Foram coletados 5335 indivíduos das classes Insecta (57%) e Arachinida (43%), distribuídos em 12 ordens. Aranhas e formigas representam 78,6% dos indivíduos, enquanto os outros grupos, juntos, somam 21,4%. A família Formicidae (Hymenoptera) representa 35% dos insetos coletados, com dominância dos gêneros Camponotus e Cephalotes que abrigam quase 90% das formigas e mostram preferência por colonizar árvores de C. americana (p=0,001). Entre as outras ordens de insetos destacam-se Dyctioptera (5%), Homoptera (4%), Coleoptera (3%), Orthoptera (3%) e Hemiptera (2%), além de Mantodea, Diptera, Lepdoptera e outras ordens que juntas somam 5%. Indivíduos das ordens Scorpionida e Pseudoscorpionida representam menos de 1% dos indivíduos. Em árvores de B. coccolobifolia as aranhas são dominantes (quase 70% dos artrópodes) principalmente no período de transição chuvoso-seco (setembro). Em C. americana as formigas são dominantes, sobretudo no período de transição seco-chuvoso (março-abril). Embora não haja dominância em B. crassifolia para todos os períodos de coleta, foi observada leve dominância das formigas em março-abril e forte dominância das aranhas em setembro. As ordens Coleoptera e Orthoptera apresentaram maior abundância nas parcelas próximas dos cursos d’água.
CONCLUSÃO:
Embora o estudo tenha sido realizado apenas durante um ano, alguns padrões parecem visíveis, como a dominância de formigas em árvores C. Americana e de aranhas em B. coccolobifolia. A adaptação da técnica do batimento (com um puçá envolvendo totalmente o ramo coletado) mostrou-se bastante eficiente para a coleta de artrópodes na copa das árvores do lavrado, permitindo inclusive a coleta de muitos alados. B. coccolobifolia mostrou-se muito importante no uso do habitat pelas aranhas do Lavrado.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: artropodes, dossel, amazônia.