Reunião Regional da SBPC em Oriximiná
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia
PEIXE “REMOSO”: MITO OU VERDADE? UMA INFERÊNCIA FARMACOLÓGICA
Eliton do Nascimento Costa 1
Melquíades de Oliveira Costa 1
Domingos Luiz Wanderley Picanço Diniz 2
Anderson Manoel Herculano Oliveira da Silva 3
1. Curso de Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas: Ênfase em Conservação de Águas Interiores-UFPA
2. Prof. Dr./ Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA
3. Prof. Dr./ Orientador - Universidade Federal do Pará-UFPA
INTRODUÇÃO:
Segundo o dicionário Caldas Aulete, remoso ou reimoso “é tudo o que faz mal à saúde”. Na Amazônia este termo é comumente aplicado para expressar agravamentos de ulcerações ou ferida cirúrgica com supuração da área suturada após a ingestão de carne de peixe de pele lisa, como o Mapará (Hypophthalmus marginatus). No outro extremo, a carne de alguns peixes de pele escamosa, como a Pescada Branca (Cynoscion leiarchus), é indicada como alternativa alimentar para pessoas em recuperação de cirurgias. O acúmulo de bactérias, na pele da cauda de arraias e outros peixes, ainda são interpretados pela compreensão popular como veneno produzido pelos “ferrões da cauda”. Assim, entre o mito e a verdade, o certo é que temos de manter distância da cauda da arraia. Buscando confirmar a presença de agentes flogísticos em constituintes da pele de peixes é que testamos neste estudo a ocorrência de resposta inflamatória à exposição de tecido subcutâneo de ratos ao extrato aquoso da pele de Hypophthalmus marginatus e Cynoscion leiarchus em condições estéreis. Adicionalmente, avaliar a ocorrência de toxicidade destes extratos por provas bioquímicas de função hepática e renal, bem como sua equivalência aos efeitos flogísticos da carragenina e sua reversão por dexametazona.
METODOLOGIA:
A inflamação experimental foi estabelecida pelo método de bolsa de ar (Edward et al., 1981). O experimento durou 11 dias culminando com a coleta do exsudato acumulado dentro da bolsa. A insuflação da bolsa ocorreu com a injeção subcutânea de 20 ml de ar estéril na região subcutânea intraescapular de ratos anestesiados. Essa operação se repetiu ao terceiro e sexto dia com 10 ml de ar. No nono dia foi injetado na bolsa 2 ml de extrato de pele de peixe ou carragenina. No dia seguinte, os animais foram anestesiados e sacrificados para a realização das análises de contagem total de leucócitos na câmara de Neubawer, diferencial por meio da extensão e exame de Gram do exsudato. O exsudato foi centrifugado e o sobrenadante armazenado a -4oC. O sangue foi coletado por decapitação em animais anestesiados para exame toxicológico a partir da utilização de kits (Labtest) para: creatinina plasmática, fosfatase alcalina, transaminase glutâmico oxalacética (TGO) e transaminase glutâmico pirúvica (TGP), ureia e albumina, e, analisados por espectrofotometria (Bioplus bio 2000, laboratório municipal de Oriximiná). Teste T do Estudante (duas caudas) não pareado foi utilizado para comparações entre grupos (n=5) tomando-se como referência para diferenças significantes p<0,05.
RESULTADOS:
O volume de exsudato foi notoriamente inferior para os extratos testes em relação ao grupo controle (p<0,001). O número de leucócitos totais infiltrados em resposta a presença do extrato de pele de Mapará foi 84% maior que o controle (carragenina), enquanto que o extrato de pele de Pescada Branca foi 40% menor que o obtido para a dexametazona, cuja administração considera-se padrão antinflamatório. Nenhum efeito tóxico sobre a função renal e hepática foi observada quando os extratos foram administrados sistemicamente, sugerindo que seu efeito inflamatório restringiu-se ao local de administração. Para confirmar a ausência de bactérias patogênicas empregou-se a coloração de Gram. Somente cocos Gram positivos (saprófitas) foram detectados no grupo Controle (carragenina) e extrato de Mapará.
CONCLUSÃO:
Os resultados mostraram potencial inflamatório nos extratos de pele de Mapará superior ao agente flogístico de referência, enquanto que nenhuma resposta inflamatória foi detectada para os testes com extratos de pele de Pescada Branca. Finalmente, pode-se inferir, que a pele do Mapará foi remosa e a pele da Pescada Branca foi inócua para os animais a elas expostos experimentalmente. Outros experimentos, no entanto, serão necessários para confirmar estes achados preliminares.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Pará-UFPA e Universidade Federal do Oeste do Pará-UFOPA
Palavras-chave: Hypophthalmus marginatus