Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia da Saúde
PARTEIRAS TRADICIONAIS DO MÉDIO SOLIMÕES: INVISIBILIDADE DE UM TRABALHO MILENAR.
Maria de Fátima Ferreira 1
1. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
INTRODUÇÃO:
O Ministério de Saúde (1999) informa que na região Norte existe mais parteiras tradicionais (vinte mil) trabalhando, do que médicos (sete mil). Esses números são aproximados, pois não existe um registro preciso do número de parteiras atuantes e muitos partos domiciliares não são notificados aos sistemas de informação em saúde. Na região do Médio Solimões a existência das parteiras tradicionais atuando a domicílio é um fato, mas a grande maioria dos partos aparece como feito no hospital. O objetivo desse trabalho é mostrar a invisibilidade das parteiras no exercício do “oficio de partejar”, na região do Médio Solimões, na Amazônia. A pesquisa com as parteiras faz parte de uma pesquisa mais ampla, cujo objetivo é conhecer a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos da região do médio Solimões, com um recorte para as mulheres urbanas, ribeirinhas e indígenas, usuárias do sistema público de saúde do município de Tefé. O estudo permitiu gerar conhecimentos sobre Direito e Saúde Sexual e Reprodutiva no Médio Solimões, com a intenção de contribuir com a melhoria da assistência à saúde, através da adoção de novas políticas públicas e para a formação de estudantes em Iniciação Científica nessa área de pesquisa.
METODOLOGIA:
Os dados foram obtidos através pesquisa quantitativa com a intenção de encontrar o número de parteiras atuantes na região do Médio Solimões, em três lugares diferentes: 1) na Secretaria Municipal de Saúde de Tefé, 2) no Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e 3) no cadastro do Encontro de Capacitação de Parteiras Tradicionais, no período de 2001-2008, realizadas em parceria com o Ministério da Saúde, Grupo Curumim, de Recife/PE e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde do Médio Solimões. Uma segunda pesquisa foi feita nos registros de “Partos a domicílio pagos pela Secretaria de Saúde de Tefé”, no período de 2006-2008, com a intenção de saber quantos partos foram pagos, para qual parteira e qual o valor pago. A terceira pesquisa foi feita através da aplicação de um questionário com 29 parteiras em novembro de 2008, em Tefé/AM. Os dados referentes à quantidade de parteiras, de partos e aos valores pagos das três pesquisas foram analisados como apresentados abaixo.
RESULTADOS:
Na região do Médio Solimões o número de parteira atuantes é de 144 registradas no período de 2001-2008. Para os anos 2008-2009 não havia obstetra na saúde pública em Tefé. Segundo os dados da Secretaria de Saúde de Tefé (2009), no período de 2006-2008, 93% dos partos foram realizados no hospital e 7% à domicílio. As parteiras entrevistadas informaram que esses dados não refletem a realidade, pois muitos partos realizados a domicílio pelas parteiras são registrados como feitos no hospital. A grande dificuldade que elas encontram é com o preenchimento da Certidão de Nascido Vivo, pois 24% delas não tem estudo e 56% tem de 1 a 4 anos de estudo. No registro de partos a domicílio pago pela Secretaria de Saúde de Tefé encontramos 71 partos pagos no período de 2006-2008, dos 377 partos realizados. O valor pago por cada parto foi de R$ 30,00 para 8 parteiras de Tefé. Em pesquisa realizada com 29 parteiras, elas informaram que já realizaram 2.349 partos ao longo de seu trabalho como parteira, mas apenas 1% foi pago. Desde 2001 as parteiras tradicionais da floresta recebem capacitação para o atendimento ao parto, mas após a capacitação não recebem o material para usar no parto ou eles não são repostos.
CONCLUSÃO:
As parteiras tradicionais da floresta do Médio Solimões são herdeiras de um saber histórico-cultural e a única alternativa de atendimento à saúde da mulher e ao parto, em lugares que não existem obstetras e poucos postos/hospitais para atendimento médico. São reconhecidas na comunidade, mas ignoradas pelo poder público. Elas buscam ser reconhecidas como profissionais da sáude e a inclusão do parto domiciliar assistido por parteiras no Sistema Único de Saúde, para ter condições de atender aos par
Instituição de Fomento: Fapeam
Palavras-chave: Parteira Tradicional, Gênero, Amazônia.