Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
G. Ciências Humanas - 7. Educaçao - 15. Formaçao de Professores (Inicial e Contínua)
FORMAÇÃO DOCENTE E TEATRO DO OPRIMIDO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL?
Cilene Nascimento Canda 1
1. Professora Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.
INTRODUÇÃO:
À luz da Educação Libertadora, o presente trabalho, de caráter teórico-empírico, destina-se a analisar as contribuições do Teatro do Oprimido para a formação de professores do município de Amargosa- Bahia. O processo investigativo resultou do Projeto de extensão “Ciclo de Formação de Professores em Práticas Artísticas e Lúdicas”, do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. A formação docente consistiu no oferecimento da Oficina de Teatro do Oprimido como mecanismo prático-reflexivo, tendo como objetivo estimular a percepção e a leitura social dos participantes, aguçar o pensamento sensível e despertar do olhar crítico frente às opressões em diversas experiências da vida social, dentro e fora da escola. O Teatro do Oprimido é um sistema de reflexões políticas, exercícios, jogos e técnicas, sistematizados por Augusto Boal, que potencializa a participação política de homens e mulheres no contexto sociocultural. Acentuamos a necessidade de democratização dos saberes e técnicas deste arsenal para a formação de educadores, pautada no compromisso de libertação dos oprimidos pelas vias da emancipação humana e social.
METODOLOGIA:
O estudo apoiou-se no método qualitativo da pesquisa-ação, enquanto forma de intervenção sociopolítica na formação docente. Desenvolveu-se por meio de três recortes metodológicos: pesquisa exploratória sobre a inclusão da arte nas escolas; realização de oficinas teórico-práticas; e aplicação de questionários com os envolvidos no projeto de extensão. A metodologia das oficinas centrou-se na discussão de textos de abordagens críticas de educação, aplicação de jogos teatrais, exercícios de desmecanização do corpo e da mente, leitura da imagem social, da cena e das formas (des)velamento da opressão material e simbólica. O projeto envolveu professores e estudantes de escolas municipais de Amargosa – BA, acadêmicos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e representantes de grupos culturais. Para a análise e sistematização dos dados coletados, utilizamos, dentre outros autores, o horizonte metodológico de Augusto Boal e de Paulo Freire, no âmbito da Educação Libertadora.
RESULTADOS:
A pesquisa exploratória revelou o restrito acesso à obra de arte, considerada por Boal como meio de reflexão e prática cultural importante para o processo de emancipação social. Assim, "o pensamento estético, que produz arte e cultura, é essencial para a libertação dos oprimidos, amplia e aprofunda sua capacidade de conhecer (...), [os sujeitos] se tornam conscientes da realidade em que vivem e das formas possíveis de transformá-la". (BOAL, 2009, p. 16). Os dados coletados, por meio da pesquisa-ação, apontaram que a formação em Teatro do Oprimido estimula a percepção sobre os problemas de opressão, capacitando para um modo de atuação mais crítico e propositivo de transformações sociais. Com base nisso, destacamos o Teatro do Oprimido como uma perspectiva metodológica de formação de professores por compreendê-los enquanto agentes de mudança social. Com base em Freire, compreendemos o educador como ser produtor de cultura e de intervenção na formação de novos sujeitos. Na medida em que o educador atua e reflete sobre sua prática, também sofre alterações, transforma-se. O educador é o ser da práxis, capaz de atuar e de intervir na dinâmica social, por meio do seu raio de ação educativo.
CONCLUSÃO:
O Teatro do Oprimido contribui para a formação de educadores críticos, conscientes e construtores de sua história e de sua sociedade. O processo de empoderamento do sujeito é consolidado por meio de estudos teóricos, ferramentas e estratégias específicas para a atuação social, política e artística. A formação docente engloba o direito à formação integral, com vistas à educação do olhar, do sentir, do refletir, do fazer e de outras perspectivas críticas de atuação na sociedade.
Palavras-chave: Teatro do Oprimido, Formação de professores, Educação Libertadora.