Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
D. Ciências da Saúde - 6. Nutrição - 5. Nutrição
Religiosidade e cultura no consumo do Acarajé no contexto santoantoniense na perspectiva dos consumidores.
Renata de Oliveira Campos 1
Elinalva dos Santos Araújo 2
Marília Nascimento Rocha 3
Jasilaine Andrade Passos 4
Micheli Dantas Soares 5
Lígia Amparo da Silva Santos 6
1. Estudante de Graduação do Curso de Nutrição da CCS/UFRB
2. Estudante de Graduação do Curso de Nutrição da CCS/UFRB
3. Estudante de Graduação do Curso de Nutrição da CCS/UFRB
4. Estudante de Graduação do Curso de Nutrição UFRB/CCS
5. Docente do CCS/UFRB. Coordenadora e orientadora local do projeto
6. Docente da ENUFBA/UFBA. Coordenadora Geral do projeto
INTRODUÇÃO:
O acarajé se constitui como um dos principais ícones da cultura alimentar da Bahia. A produção, comercialização e consumo do acarajé tem sofrido transformações nas últimas décadas, considerando o enredamento dos discursos de preservação da cultura alimentar tradicional e da religiosidade. O ofício das Baianas de Acarajé foi registrado no livro dos saberes como um Patrimônio Imaterial Cultural Brasileiro. Este ofício envolve “os rituais envolvidos na produção do acarajé, na arrumação do tabuleiro e na preparação do lugar onde as baianas se instalam; os modos de fazer as comidas de baiana; o uso de tabuleiro para venda das comidas; a comercialização informal em logradouros, feiras e festas de largo; o uso de indumentária própria das baianas, como marca distintiva de sua condição social e religiosa, presente especialmente nos panos da costa, nos turbantes, nos fios de contas e outras insígnias” (IPHAN, 2004). Este trabalho teve como objetivo compreender as práticas e discursos religiosos em torno do consumo do acarajé no município de Santo Antônio de Jesus – Ba.
METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo qualitativo, no qual foi realizada uma análise de documentos e um mapeamento do cenário alimentar da produção e consumo do acarajé no município. Realizou-se entrevistas semi-estruturadas com consumidores de acarajé. A análise buscou identificar nos enunciados os núcleos de sentido sobre o consumo do acarajé e sua interface com a religiosidade e cultura. As entrevistas foram realizadas no período de 2008 a 2009. Os entrevistados, a saber, vinte (20) tinham entre 17 e 56 anos. O grau de escolaridade variou entre fundamental completo e superior completo. Dez entrevistadas eram católicas (10), oito evangélicas (08) e dois não tinham religião (02). Considerando a cor/raça dos entrevistados, se autodenominaram pardos, negros e brancos. No que tange aos aspectos éticos, o protocolo de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética da Escola de Nutrição da UFBA. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento informado e de proteção da privacidade.
RESULTADOS:
A comercialização do acarajé por vendedores evangélicos não foi consensual entre os consumidores. De um lado, têm-se aqueles que censuram a venda, por considerarem uma apropriação indevida e, por outro, aqueles que valorizam, pois permite consumo universal. O acarajé de uma baiana cristã ora é visto como algo dessacralizado, “uma comida como outra qualquer”, ora abençoado que atrai até outras religiões que não as evangélicas e o candomblé. A dúvida sobre a religiosidade da baiana, ou ainda a utilização de determinados símbolos identitários das religiões de matriz africana, pode levar ao não consumo de acarajé por alguns consumidores. Tem-se uma dualidade em relação à origem do acarajé, valorizado na sua ancestralidade africana e questionado ou negado, quando associado às religiões de matriz africana. Faz-se presente em determinadas narrativas que ao comer um alimento, neste caso o acarajé, o indivíduo participa dos rituais utilizados naquele alimento. Isso é bem definido por Fischler (2001) como o Princípio da Incorporação, em que o ato de comer o acarajé oferecido simboliza compactuar com tais rituais.
CONCLUSÃO:
O acarajé na cidade de Santo Antônio de Jesus- Bahia, é reconhecido com um legado cultural e religioso. O consumo deste quitute passa por um filtro, sobretudo, religioso. A expectativa deste estudo foi contribuir para a construção de conhecimentos sobre a dinâmica da produção, comercialização e consumo do acarajé no contexto atual, favorecendo a salvaguarda do patrimônio imaterial.
Instituição de Fomento: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Palavras-chave: Acarajé, Religiosidade, Patrimônio imaterial.