Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Gestão e Administração - 8. Organizações e Alternativas Organizacionais
RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS PARA SISTEMA DE AUTOGESTÃO: O CASO DA COOPERPLÁSTICO BAHIA
Tatiana Ribeiro Velloso 1
Ronalda Barreto Silva 2
1. Professora Assistente - CCAAB/UFRB e Doutoranda em Geografia - NPGEO/UFS
2. Professora Adjunto - Programa de Pós-Graduação em Educação - UNEB
INTRODUÇÃO:
A economia solidária supõe que através da organização dos trabalhadores se possam contrapor ao modelo vigente de relações excludentes. Essas organizações estabelecem os valores de posse coletiva e de gestão democrática dos meios de produção, distribuição, comercialização e crédito, adequadas às necessidades sociais e econômicas dos trabalhadores. Entre esses empreendimentos, estão as empresas recuperadas para sistema de autogestão. São empresas que entraram em falência e os trabalhadores recuperaram para garantia dos seus direitos trabalhistas perante a massa falida e de postos de trabalhos com possibilidade de distribuição dos resultados gerados. A perspectiva da autogestão se expressa como possibilidade concreta dos trabalhadores constituírem uma sociedade igualitária, no sentido de apropriação daquilo que o capital lhes expropriou ao longo da história. Este trabalho apresenta a constituição da COOPERPLÁSTICO BAHIA – Cooperativa de Reciclagem Plástica da Bahia que surgiu em 2007, no município de Simões Filho, com 28 trabalhadores do setor da indústria de reciclagem plástica que apesar de inúmeros desafios, demonstrou a possibilidade de recuperação de uma empresa, a partir da interação com experiências nacionais e na utilização de instrumentos participativos de planejamento.
METODOLOGIA:
Esse trabalho foi sistematizado a partir de acompanhamento do processo de recuperação com o engajamento efetivo dos trabalhadores. Foi utilizado como instrumento o estudo de viabilidade econômica, que tem como princípio a gestão democrática e participativa como fundamental para a sua organização e planejamento. Na dinâmica das atividades não há espaço para a dicotomia entre gestão e produção, pois a viabilidade do negócio é inerente às condições de gestão. São fundamentais o conhecimento laboral dos trabalhadores e as características sociais e profissionais de cada membro do grupo, ainda que existam dificuldades no entendimento escrito sobre o estudo de viabilidade, resultado não apenas da baixa escolaridade dos trabalhadores, mas, sobretudo, pelo modelo de gestão que foi imposto pelo mercado, com a separação entre o capital e o trabalho e com a segmentação da produção pelo modelo taylorista/fordista.
RESULTADOS:
A estruturação da COOPERPLÁSTICO BAHIA representa um marco no estado da Bahia, tanto por se constituir na primeira empresa recuperada para o sistema de autogestão, quanto por representar a possibilidade concreta de organização da cadeia produtiva de resíduos plásticos para a reciclagem, com agregação de valor à matéria-prima e a articulação com os empreendimentos de catadores da Região Metropolitana de Salvador. A realização do estudo de viabilidade econômica e gestão democrática durante o período de ocupação pelos trabalhadores foi um instrumento que possibilitou a discussão da manutenção dos postos de trabalho em uma perspectiva de autonomia e de participação nos resultados por meio da constituição de um empreendimento econômico solidário. Essa constituição foi considerada rápida por conta do envolvimento de organizações como a UNISOL Brasil, que, juntamente com o Sindicato dos Químicos e Petroleiros e a Central Única dos Trabalhadores – CUT presentes desde o início da ocupação facilitaram a orientação aos trabalhadores, realizada de maneira democrática, transparente e emancipadora, tendo em vista a nova oportunidade de trabalho e renda.
CONCLUSÃO:
A recuperação de uma empresa enfrenta muitos desafios, dentre eles, a ausência de políticas públicas locais. A COOPERPLÁSTICO enfrenta esses desafios e obtém resultados de união graças à garra dos seus trabalhadores e as articulações com as organizações de apoio. Os trabalhadores recebem mensalmente um valor abaixo ao que recebiam na antiga empresa, mas há projeção de galpão definitivo e aquisição de mais um conjunto de equipamentos para que se chegue às condições planejadas.
Palavras-chave: Cooperativismo Industrial, Participação, Autogestão.