Reunião Regional da SBPC no Recôncavo da Bahia
A. Ciências Exatas e da Terra - 3. Física - 2. Ensino de Física
O CONTRA-INDUTIVISMO SUBSIDIANDO O ENSINO DE FÍSICA: EXEMPLOS DE MECÂNICA
Donizete Aparecido Buscatti Junior 1
Moacir Pereira de Souza Filho 1
Sergio Luiz Bragatto Boss 2
1. Dep. de Física Química e Biologia, Fac. de Ciências e Tecnologia – UNESP/P.Prud.
2. Centro de Formação de Professores – UFRB – Amargosa/BA
INTRODUÇÃO:
Feyerabend considera que o “progresso científico” muitas vezes deriva do método da “contra-indução” , que consiste em duvidar das teorias aceitas e confirmadas ou dos fatos bem estabelecidos, isto é, uma interpretação contrária à resposta dada pelos sentidos. Essas violações, segundo ele, são relevantes ao “progresso científico”. Ele nos fornece exemplos.
O modelo geocêntrico e geostático proposto por Aristóteles se ajustavam perfeitamente ao senso comum e parecia coerente com as observações. Além disso, como questionar o movimento da Terra? Se a Terra se movesse, uma pedra abandonada do alto de uma torre cairia a certa distância e não próxima a sua base como mostra a experiência. O sistema aristotélico também concebia que dois objetos abandonados de uma mesma altura, cairiam com tempo de queda inversamente proporcional as suas massas.
Essas idéias começaram a ser abaladas com o sistema heliocêntrico de Copérnico. Posteriormente, Galileu contestou a idéia de que a Terra não se movia, citando o “experimento do barco”. Um objeto abandonado do alto do mastro de um barco em movimento cai no pé do mastro e não a certa distância.
Queremos mostrar que a contra-indução pode fornecer subsídios para potencializar as situações de aprendizagem de conceitos científicos.
METODOLOGIA:
Após o estudo do livro de Paul Feyerabend, denominado “Contra o Método” , algumas aulas de Física foram ministradas em um colégio particular para as três séries do Ensino Médio. O professor-pesquisador focou sua atenção em observar como, nos mais diversos assuntos, a percepção inicial conduzia a um conceito físico irreal e não-verdadeiro.
Sempre, na abordagem de novos assuntos, o professor iniciava a aula com uma pergunta conceitual, que servia também de motivação aos alunos. Notamos que as respostas se fundamentavam na indução e as respostas eram, na maioria das vezes, equivocadas.
Para exemplificar, vamos citar um exemplo de mecânica sobre o conceito de queda livre. A questão formulada pelo professor foi a seguinte:
Corpos com massas diferentes caem com a mesma aceleração?
As respostas dos alunos participantes do processo investigativo e as análises a esta questão formam a base deste trabalho.
RESULTADOS:
Nas aulas sobre queda livre, a maioria das respostas foi a seguinte: os corpos mais pesados caem com aceleração maior . Diante destes conceitos alternativos, incorretos do ponto de vista científico, elaboramos experimentos e trouxemos um conjunto de fatos históricos, que servissem de elementos contra-indutivos, para mudança de opinião dos alunos, uma vez que isso foi sugerido por eles.
O experimento utilizado no assunto de queda livre foi executado da seguinte forma: com um cronômetro, marcou-se o tempo que levava para que uma folha de papel aberta caísse de certa altura. Então, amassou-se a mesma folha de papel e a experiência foi repetida, na mesma altura e sob as mesmas condições. O novo tempo registrado trouxe surpresas e especulações, pois foi contrária às concepções da maioria dos estudantes.
Em seguida, o professor introduziu o conceito de força de atrito com o ar, expondo a dependência que tal força tem com a área de contato do corpo em queda e a sua direção e sentido, o qual se opõe ao movimento. Notou-se, com esta proposta, maior compreensão dos alunos participantes.
Ressalta-se que houve maior interesse no primeiro ano do Ensino Médio. O assunto abordado está relacionado ao cotidiano dos alunos, e essa relação é um fator importante para o processo educacional.
CONCLUSÃO:
Percebeu-se o êxito em trabalhar os temas de mecânica por meio de uma atitude contra-indutiva. A proposta descrita aqui promove estímulo nos alunos, uma vez que nos parece que motiva e/ou desperta o interesse pelo aprendizado, quando acontece um fato oposto ao que foi previsto.
Os resultados descritos nos levam a considerar que o contra-indutivismo pode ser aplicado em sala de aula como ferramenta motivadora e uma possibilidade de potencializar as situações de aprendizagem de conceitos.
Palavras-chave: Paul Feyerabend, Epistemologia, Ensino de Física.