Reunião Regional da SBPC em Tabatinga - Tabatinga / AM - 2009
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
AS ÁRVORES E OS MAMÍFEROS – O CONHECIMENTO DA ETNIA TICUNA – CONTRIBUIÇÕES A ETNOBIOLOGIA
Ivanete Damasceno de Holanda1
Iatiçara Olivera da Silva1
1. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:
A etnobiologia é o estudo dos sistemas de classificação que abrange a etnobotânica, etnozoologia, etnopedologia e etnoecologia (Ribeiro, 1987). Estudos das relações entre comunidades indígenas e a fauna ou a flora são realizados pela etnobiologia, uma área recente da Antropologia que tenta inferir como os diversos povos classificam e compreendem seu ambiente físico e cultural. O etnoconhecimento deve permanecer subjacente à construção da política educacional escolar indígena e pode se tornar subsídio na demarcação de rupturas e, conseqüentemente, ser aspecto relevante na reestruturação das pedagogias indígenas. Cada cultura, por exemplo, encara e classifica os animais de maneira diferente, fundamentando-se em costumes e percepções de cada grupo, "e isto define as possíveis relações entre o homem e as espécies que compartilham seu meio físico ou simbólico" (Gonseth, 1988, p.4). Se crianças índias freqüentam as escolas dos brancos, trabalham "conhecimentos dos não-índios". Tendo-se em vista essas diferentes possibilidades de caracterizar os animais, os estudos etnobiológicos podem ser considerados úteis para o processo de ensino na situação desse resgate cultural desejado por seus membros. Este projeto teve como objetivo realizar um levantamento do conhecimento biológico apresentado pelos livros e cartilhas produzidos pela Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües (OGPTB) analisando a possibilidade de exploração desse material como material de apoio ao conteúdo programático formal do ensino de Ciências e Biologia.
METODOLOGIA:
Neste trabalho realizamos primeiramente um levantamento bibliográfico do conhecimento botânico, zoológico e ecológico registrado em livros e cartilhas produzidas pela Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngües (OGPTB), analisando-os e classificando-os. Em seguida, realizamos um estudo dos conteúdos programáticos aplicados nas disciplinas Ciências e Biologia das escolas não-índias em nossa cidade através de pesquisa bibliográfica e entrevistas com professores que ensinam nessa área. Neste trabalho demos ênfase ao conhecimento sobre como os mamíferos se relacionam com seu habitat.
RESULTADOS:
Alguns animais fazem sua morada debaixo das árvores, como o veado, caititu, anta, queixada, cutiara, rato, jabuti, paca. Eles procuram as sombras para se abrigar do sol comem as frutas que caem no chão, deitam-se sobre as folhas secas. As frutas do buriti alimentam as antas, veados e jabutis. As frutas do tucumã alimentam as queixadas, caititus e cutias. As frutas do umari alimentam as cutias, pacas, ratos. As frutas do taperebá e do capinuri alimentam os jabutis. A castanha-de-cutia alimenta as cutias, cutiara, veados, jabutis e pacas. Os macacos vivem nos galhos das árvores. Aí eles comem, brincam, dormem e criam seus filhotes. Os macacos são muitos: macaco-guariba, macaco-de-cheiro, macaco-boca-branca, macaco-barrigudo, macaco-caiarara, macaco-leão, macaco-da-noite, macaco-cuatá, macaco-parauacu, macaco-prego. Algumas frutas são próprias para os macacos, como o ingá-de-macaco e a castanha de macaco. Mas eles também comem sorva, abiurana, buriti, mapati, tacuari, bacuri, caxinguba, manixi, mutamba. Nos galhos das árvores também vivem as preguiças. Elas se alimentam principalmente das folhas da embaúba e do matamatá. Mas também comem as frutas do jutaí, abiurura, cupuí, maçaranduba, sorva e cacau-da-terra-firme. Os quatipurus e os quatipuruzinhos sobem e descem pelo tronco e correm pelos galhos das árvores. Eles gostam dos frutos do buriti, javari-mirim, murumuru, tucumã, pé-de-jabuti. Os morcegos dormem dependurados nas árvores e comem os frutos do murumuru, mapati, ingá, caxinguba.
CONCLUSÃO:
Verificamos como é rico e vasto o conhecimento registrado que essa etnia demonstra ter sobre o Nicho e Habitat desses mamíferos. Chama a atenção a riqueza do registro dos diferentes tipos de macacos e também do registro da alimentação das preguiças, pois além das folhas da Cecropia há indicação ainda de diferentes frutos. Sugerimos que esse material seja utilizado nas aulas do 7º. Ano do III Ciclo, onde “Os Seres Vivos” é o conteúdo programático explorado, como material enriquecedor e estimulador de discussões também nas escolas não-índias.
Trabalho de Iniciação Científica
Palavras-chave: Etnobiologia, ensino, Ticunas.