(Agência SBPC) – A experimentação com animais foi tema de discussão ontem (13/07), no  primeiro dia da 61ª Reunião Anual da SBPC, em Manaus. Na mesa redonda  “Experimentação com animais: lei nacional aprovada. No que devemos  pensar a partir de agora?”, realizada na parte tarde na Universidade  Federal do Amazonas (Ufam), pesquisadores e plateia debateram sobre as  ações necessárias para viabilizar a Lei Arouca (11.794), sancionada em  outubro de 2008 pelo presidente da República e que entrará em vigor  assim que for regulamentada. A viabilização da Lei depende de verbas e  medidas para que as universidades e os centros de pesquisas se adequem  às mudanças exigidas.
                                        
                                        As alterações, que vão desde assuntos mais burocráticos, como a  criação e cadastramento dos Comitês de Ética de Uso de Animais (Ceua),  até a adequação de prédios para serem utilizados como biotérios,  dependem de verbas. “O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)  deveria, por meio de seus agentes de fomento, disponibilizar recursos  para a melhoria de biotérios”, defende Ana Maria Guaraldo, pesquisadora  do Departamento de Parasitologia da Universidade Estadual de Campinas  (Unicamp). De acordo com ela, ações que visem à especialização de  recursos humanos capacitados para trabalhar com os animais devem ser  tomadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e  Tecnológico (CNPq).
                                        
                                        Considerada uma conquista pela comunidade científica, a Lei  causa muita polêmica. Para Morales, o tema não deveria ser uma batalha  travada entre cientistas e sociedades protetoras dos animais, já que  ambos os grupos visam o mesmo objetivo, ou seja, a proteção do animal.
                                        
                                        Outro aspecto de grande importância nessa etapa de implementação  da Lei, acredita Marcelo Morales, pesquisador do Instituto de Biofísica  da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da  Sociedade Brasileira de Biofísica (SBB), é a mobilização da comunidade  científica para informar a população sobre a utilização animal em  pesquisa científica. “Essa é uma questão de saúde pública”, defende Ana  Maria, referindo-se ao fato do desenvolvimento de fármacos e de  técnicas cirúrgicas para humanos depender fortemente da experimentação  animal. Por hora, estudos clínicos em humanos só podem ser realizados  quando já foi estabelecido um índice de segurança e eficácia em testes  pré-clínicos, feitos com animais.
                                        
                                        A nova Lei estabelece a criação do Conselho Nacional de Controle  de Experimentação Animal (Consea), composta por representantes de  ministérios, da comunidade científica e de sociedade protetoras dos  animais, cujas principais atribuições são o credenciamento de  instituições para criação e utilização e monitorar e avaliar a  introdução de técnicas alternativas. Para Ana Maria, uma das principais  polêmicas está na composição do Consea. Além da reivindicação das  sociedades protetoras dos animais por um maior número de  representantes, há também o processo de escolha dos dois representantes  das sociedades protetoras dos animais. Uma das mais cotadas, segundo a  pesquisadora, é a Sociedade Mundial de Proteção dos Animais (WSPA, na  sigla em inglês), pela sua grande abrangência, que reúne mais de mil  ONGs afiliadas.
                                        
                                        Métodos Alternativos – Outra questão polêmica está  justamente nas atribuições da Consea de controlar e monitorar os  métodos alternativos que deveriam ser estimulados e promovidos. Os  métodos alternativos não necessariamente substituem os animais na  experimentação, mas podem também promover a redução ou o refinamento no  uso de animais na pesquisa biomédica, em ensaios ou na educação. “Temos  pelo menos de 15 a 20 grupos no Brasil trabalhando em métodos  alternativos, de maneira isolada”, informa o pesquisador Octávio  Presgrave, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).  O pesquisador defende a  criação de um Centro Brasileiro de Validação de Métodos Alternativos  para congregar esses grupos de pesquisa e otimizar o trabalho. Entre os  núcleos estão universidades, centros de pesquisa e indústrias privadas.
                                        
                                        Além dos métodos que já estão validados oficialmente, diversos  outros estão em fase de desenvolvimento. O financiamento de pesquisas  para o desenvolvimento de procedimentos alternativos, no entanto, ainda  não é estabelecido. “Aqui no Brasil depende da sorte de cada um”,  lamenta Presgrave. As pesquisas nessa linha recebem financiamentos por  meio de editais não específicos ou por parcerias internacionais. “A  ideia é criar linhas de fomento especiais e fundos para bancar esse  tipo de pesquisa aqui no Brasil”, afirma o pesquisador da Fiocruz.
                                        Uma  alternativa apontada foi a criação de ONGs que pudessem arrecadar  dinheiro para formar fundos para o financiamento de pesquisas com  métodos alternativos. “Aí sim as ONGs estariam contribuindo de forma  incisiva na substituição de animais em pesquisas científicas.”,  argumenta Morales.
                                        
                                        Antes da aprovação da Lei Arouca não existia regulamentação do  uso ético de animais na experimentação realizada no país. Algumas leis  mais antigas relacionavam o uso de animais em pesquisas, mas eram muito  genéricas. Morales afirma que a nova Lei foi resultado da mobilização  da comunidade científica depois que uma lei municipal do Rio de  Janeiro, proposta em 2006, proibiu a pesquisa com animais.
                                        
                                        
                                        Ana Paula Morales, da revista ComCiência, para a Agência SBPC