(Agência SBPC) – A formação e  a fixação de recursos humanos qualificados para pesquisa científica são  desafios imediatos para qualquer tentativa de buscar modelos de  desenvolvimento sustentáveis para a região amazônica. A situação atual  é marcada por pequena quantidade de doutores atuando na região (tanto  em absoluto, quanto per capta), investimentos em C&T menores do que  nas demais regiões, dificuldades em preencher vagas de concursos  públicos em que o doutorado é requisito e fuga de pesquisadores para  outros estados.
                            
                          O cenário foi traçado nesta segunda-feira, dia 13/07, na Reunião  Anual da SBPC, em mesa-redonda para discutir a revisão do documento  “Amazônia: desafio brasileiro do século XXI”, elaborado pela Academia  Brasileira de Ciências (ABC). Coordenada pelo presidente da ABC, Jacob  Palis, a mesa debateu sugestões para melhorar o quadro e tornar  palpável uma série de recomendações para elaboração de políticas  públicas.
                          
                            Segundo Palis, a revisão se impõe por dois motivos. Em primeiro  lugar, algumas coisas mudaram desde o lançamento do documento, em 2008.  Os salários de professores e pesquisadores foram reajustados e foi  criada a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) – a criação de  novas instituições de ensino superior e institutos de pesquisa estava  proposta no documento.
                            
                            O segundo motivo é a proximidade com o ano eleitoral de 2010. O  presidente da ABC pretende receber sugestões de melhorias ao estudo ao  longo deste segundo semestre e início de 2010, com o objetivo de  contribuir no debate sobre programas de governos que será colocado no  próximo ano.
                            
                            Remuneração diferenciada – Palis defende remuneração  diferenciada para os doutores atuantes em regiões ainda carentes de  recursos humanos qualificados, sugestão já inserida no documento de  2008. Colocar o incentivo financeiro em prática, vencendo eventuais  resistências, é o desafio. “O País terá que encarar esse problema”,  disse o presidente da ABC.
                            
                            As discussões na mesa-redonda foram guiadas por levantamento  preliminar de dados feito pela pesquisadora Flávia Costa, do Instituto  Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em parceria com demais jovens  membros da ABC atuantes na região norte. Os números colhidos junto ao  CNPq, às FAPs da região, às universidades e aos institutos de pesquisa,  demonstram as desigualdades regionais – Amazonas e Pará estão em  estágio mais avançado em relação aos demais estados.
                            
                            Palis afirmou que o sistema universitário centralizado  nacionalmente (sem diferenciação regional da remuneração, por exemplo)  tem inspiração francesa e não funciona diante das desigualdades  regionais do Brasil. Uma mudança radical no sistema, porém, sofrerá  muita resistência. 
                            
                            Por isso, o presidente da ABC defende a participação ativa dos  governos estaduais na fixação de doutores. Por meio das Fundações de  Amparo à Pesquisa (FAPs), os estados poderiam, por exemplo, oferecer  bolsas automáticas para bolsistas de produtividade do CNPq, dobrando a  remuneração de pesquisadores dispostos a atuar na região amazônica. “No  Amazonas e no Pará, há boa disposição para esse tipo de iniciativa”,  disse Palis.
                            
                            Essa opção, porém, traz embutido mais um obstáculo: os quatro  únicos estados que não possuem FAPs estão na região norte – Tocantins,  Roraima, Rondônia e Amapá. A mobilização pela criação das fundações  será, portanto, fundamental para fixar doutores na região amazônica. Os  prejuízos estão estimados no levantamento de Flávia Costa: os estados  sem FAP são os que menos investem em C&T e os que menos possuem  doutores em atuação.
                            
                            
                            Vinicius Neder, do Jornal da Ciência, para a Agência SBPC