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Deficiências de ensino básico no País preocupam especialistas


(Agência SBPC) - A formação continuada e a capacitação de professores para a educação básica foram tema de uma mesa-redonda nesta segunda, dia 13/07, durante a 61ª Reunião Anual da SBPC, em Manaus. Os desafios enfrentados pelos professores do ensino fundamental e médio foram debatidos pelo espanhol Antonio Ibañez, ex-reitor da UnB e ex-secretário de Educação do Distrito Federal; Mozart Neves Ramos, ex-reitor da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e ex-secretário de Educação de Pernambuco; e Maurício Pietrocola, da Faculdade de Educação da USP. A mediação foi de Lisbeth Cordani, membro da diretoria da SBPC.

Os palestrantes discorreram sobre os quatro eixos fundamentais expostos por Mozart para a valorização do professor da educação básica: salário, formação inicial e continuada, carreira e condições de trabalho. O ex-reitor da UFPE disse que a falta de atrativos afasta da profissão os jovens mais talentosos do ensino médio. Os que se interessam pela carreira são os que têm as menores médias nos vestibulares.

“Os alunos dos cursos de licenciatura chegam com deficiências sérias do ensino médio. Até entram bastante motivados, mas com essas deficiências graves de formação. Então a motivação vai acabando conforme vão ocorrendo as reprovações nas disciplinas. A evasão ao longo do curso é enorme. A cada turma de 30 alunos, se formam cinco”, explicou Mozart.

O resultado é a ausência de professores especializados nas salas de aula. De acordo com dados apresentados por Mozart, a cada quatro professores de física nas escolas, apenas um é possui graduação na área. Segundo Antonio Ibañez, a situação do ensino médio noturno é ainda mais preocupante atualmente.

“O ensino médio noturno é o pior dos piores dos mundos. Se a gente supõe que tinha que ser igual ao ensino médio diurno, então é uma fraude. Se faltam professores no diurno, imagina no noturno. E mais a violência, a falta de transporte, de luz. Se começamos com dez turmas, em dois meses temos apenas duas”, relatou Ibañez, apontando em seguida uma possível solução. “Tínhamos que dar a mesma atenção que recebe o diurno e ainda separar as turmas por idade. Até 18 anos o jovem iria para o ensino médio normal. Jovens de mais de 18 e adultos fariam um ensino médio com curso profissionalizante. Claro que se algum adulto quisesse fazer o ensino médio regular, alguma unidade estaria apta a receber esse adulto”.

O professor falou ainda sobre a interferência de problemas externos, presentes nas regiões onde as escolas estão inseridas e que afetam também a qualidade do ensino. “Acho uma injustiça essas avaliações que detonam as escolas públicas. Porque nem sempre a culpa é das escolas. Algumas delas dão tudo o que podem aos alunos. Mas às vezes a situação desses estudantes e do entorno dessas escolas é tão ruim que os professores não conseguem dar mais. Eles fazem tudo o que podem”, contou Ibañez.

Para ele, os problemas são muitos, mas há um esforço para encontrar soluções. “Um passo importante é reconhecer o problema. O Ministério da Educação reconheceu que há uma falta de professores de química, física, matemática e biologia em sala de aula e traçou um plano. Se o plano vai dar certo não sabemos”, falou Ibañez.
“É importante que a gente tenha uma agenda mínima, um plano de longo prazo. Precisamos de um projeto de estado para a educação e não de governo. Eu já estive falando com o ministro Fernando Haddad, com o ex-ministro Paulo Renato, com o Cristovam Buarque. Não pode mudar tudo a cada novo ministro que entra. Se a gente não articular esse compromisso de longo prazo as coisas não vão se resolver”, afirmou Mozart.

Maurício Pietrocola concorda com os demais conferencistas. “Educação demora, precisa de tempo. Não se resolve com um projeto, com um governo. É um projeto de nação”, disse.
O professor da USP disse estar preocupado ainda com a falta de espaço para a inovação. Segundo ele, países que conseguiram boas condições para professores do ensino básico, como a Espanha, já estão pesquisando novas formas de ensino. “Os problemas deles não são os mesmos. Eles têm professores que ganham bem, que trabalham só metade do tempo dentro das salas de aula. Mas estão preocupados com outra questão para atingir a educação de qualidade. Existem projetos na Espanha que flertam com a inovação educacional”, contou Maurício.

O professor da USP explicou que, quando há uma conjuntura de mudanças à vista, esses países costumam investir em projetos de educação. “Fiquei muito preocupado quando voltei da Europa e vi a quantidade de projetos educacionais que europeus e americanos estão financiando”, afirmou Maurício. “A Holanda, por exemplo, está promovendo uma revisão do seu currículo de ciências”.
Segundo o pesquisador, o Brasil tem sim que resolver os problemas mais urgentes e básicos da educação básica, mas também deve começar a pensar e se preocupar em não ficar para trás nesse movimento de reciclagem e inovação. “Um bom professor hoje pode não ser um bom professor daqui a 15 anos”, concluiu.

 
Daniela Amorim, do Jornal da Ciência, para a Agência SBPC

 

 

 

 

 

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