(Agência SBPC) - O  Brasil mudará seu papel de “vilão”, desempenhado nos últimos painéis  internacionais de discussão sobre mudanças climáticas, para o de  “mocinho” na próxima Conferência do Clima, que será realizada em  dezembro deste ano em Copenhague, na Dinamarca. A mudança será devido  ao auxílio de diversos atores coadjuvantes – os cientistas brasileiros  -, que trabalharam intensamente para a elaboração de um plano nacional  de mudanças climáticas, para fixar metas de redução da emissão de gás  carbônico e para a criação do Fundo Amazônia. A avaliação foi feita  pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, na abertura da conferência  que proferiu nesta quinta-feira (15/07), na 61ª Reunião Anual da SBPC,  em Manaus (AM).
                                                
                                                “Nós fizemos questão de homenagear o trabalho da SBPC e dos  cientistas brasileiros na questão climática garantindo o assento da  Sociedade no comitê orientador dos projetos do Fundo Amazônia, com  direito de voz e voto. Porque sabemos que não resolveremos o problema  do desmatamento da Amazônia só com polícia e o Ibama. Se não tivermos  alternativas científicas e tecnológicas para o desenvolvimento da  região, com baixo impacto ambiental, estamos sem saídas”, disse.
                                                
                                                 O ministro anunciou que serão aprovados nas próximas duas a  três semanas os cinco primeiros projetos aprovados no âmbito do Fundo  Amazônia, lançado no ano passado para captar e investir recursos para  combater o desmatamento e promover o desenvolvimento sustentável da  região amazônica. Os primeiros contemplados com investimentos do Fundo  na Amazônia são programas de pagamento por serviços ambientais,  realizados pelo próprio governo, além de outros conduzidos por  instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),  e o Museu Emilio Goeldi, no Pará.
                                                
                                                Controle do desmatamento - Conforme anunciou no início do mês  passado, o ministro voltou a afirmar que o índice de desmatamento da  Amazônia será o menor dos últimos 20 anos. E creditou à façanha a um  conjunto de fatores, como o aumento do controle por monitoramento por  satélites e a ações de combate ao crime ambiental, entre outras  iniciativas. Mas manifestou sua discordância da tese defendida por  críticos a política brasileira para o meio ambiente de que o Brasil  representa uma grande unidade de conservação, cujos recursos naturais  são, na opinião dos críticos, excessivamente protegidos. “Se tivéssemos  tanta proteção, não teríamos um aumento tão grande do número de  espécies ameaçadas em extinção como vem ocorrendo nos últimos anos. E  isso aconteceu por causa das monoculturas, das queimadas e expansão da  agropecuária”, rebateu.
                                                
                                                De acordo com Minc, grandes monoculturas, como a da soja,  deixaram de ser um fator relevante para o desmatamento da Amazônia nos  últimos anos em função de acordos articulados pelo ministério com o  setor moageiro, como a “moratória da soja”. Por intermédio dessa ação,  grandes empresas processadoras da oleaginosa se comprometeram a não  comprar grãos cultivados em áreas desmatadas.
                                                
                                                O ministro afirmou que acordos semelhantes à moratória da soja  estão sendo negociados com outros setores, como o madeireiro, cujos  representantes se comprometeram a comprar e exportar madeiras oriundas  de planos de manejo legais. Porém, indicou que o setor econômico que  também contribui para o desmatamento da Amazônia e está mais fora de  controle na região é o agropecuário. 
                                                
                                                “Os frigoríficos não desmatam, mas compram carne de  desmatadores. Tentamos celebrar um acordo similar ao da soja e da  madeira com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de  Carne (Abiex), e eles responderam que não era possível por causa da  crise. Na época eu alertei que eles corriam o risco da crise e de serem  boicotados pelo mercado. Não deu outra”, contou, se referindo à recente  ação movida pelo Ministério Público e ONGs ambientalistas, que exigiu  que as redes de supermercados deixassem de comprar a carne de gado  criado em áreas desmatadas no Pará fornecida por grandes frigoríficos.
                                                
                                                Amanhã o ministro participará em Curitiba do lançamento mundial  do “Certificado Life da biodiversidade”, uma certificação que atesta  que os produtos fabricados por uma determinada empresa em toda sua  cadeia produtiva não causam efeitos negativos na biodiversidade e  produzem impactos mínimos ao ecossistema. Diversas universidade e  institutos de pesquisa, de diversos lugares do mundo, se juntaram para  conceder a certificação. “Isso mostra como as áreas científica e  tecnológica podem dar um importante apoio não só na proteção, mas  também na indução para que as empresas cada vez mais adotem tecnologias  mais limpas e procedimentos menos predatórios”, disse.
                                                
                                                Professor do curso de geografia da Universidade Federal do Rio de  Janeiro (UFRJ) e com uma tese de doutorado sobre a região amazônica, em  que comparou os processos de ocupação territorial dos estados do Pará e  de Rondônia, Minc encerrou a conferência, intitulada “Biodiversidade e  sustentabilidade”, com “saudações ecológicas e libertárias”. O que o  presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp, complementou com “e saudações  científicas”. 
                                                
                                                
                                                Por Elton Alisson, da Assessoria deImprensa da SBPC, para a Agência SBPC