(Agência SBPC) –  O Brasil precisa urgentemente construir uma agenda social para prevenir  e enfrentar os impactos causados para as populações pelas mudanças  climáticas. A proposta foi defendida nesta quinta-feira, 16, na 61ª  Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência  (SBPC), em Manaus, pelos pesquisadores Ulisses Eugenio Cavalcanti  Confalonieri (Fiocruz/UFMG), Roberto Luiz do Carmo (Cedeplar). Eles  participaram da mesa redonda intitulada “População e mudanças  climáticas: riscos, vulnerabilidade e adaptação”.
                                                  
                                                  Os três foram unânimes em projetar o agravamento dos desastres  naturais nos próximos anos e décadas, com reflexos na saúde, na  agricultura, no emprego, nos biomas e nos sistemas energéticos. A  agenda deve, segundo os pesquisadores, prever ações para conter as  agressões ao meio ambiente e medidas para compensar os impactos  climáticos que passam pela assistência técnica e financeira aos  atingidos. “Cada vez será maior o contingente de pessoas em situação de  risco”, advertiu Alisson Barbieri.
                                                  
                                                  O médico Ulisses Confalonieri, que realiza pesquisas na área desde a  década de 1990, enfatizou a interface entre as mudanças do clima e a  saúde humana. Ele realizou pesquisas para o Governo Federal sobre os  impactos causados nos Estados. A situação mais grave foi verificada no  Nordeste, que exigiu uma nova análise, incorporando dados mais  completos. “O Nordeste é a região mais impactada por causa do clima  semi-árido”, frisou. Ulisses afirmou que a região possui o semi-árido  com maior densidade demográfica do mundo, superando inclusive a África.
                                                  
                                                  Além dos problemas de saúde e desnutrição, esse quadro acelera as  migrações e a concentração demográfica nas cidades. Pesquisador do  Núcleo de Estudos de População da Universidade de Campinas  (Unicamp-SP), Roberto Luiz do Carmo sublinhou que a redistribuição  espacial da população elevou a concentração urbana, em 50 anos, de 30  para 80%. Ele estima que os fenômenos serão cada vez mais frequentes e  agudos e tendem a afetar de forma mais violenta as pessoas pobres.  Roberto lista temperaturas extremas, inundações, secas, endemias,  elevação do nível do mar, furações, tornados e aumento da concentração  de ozônio. Como exemplos citou a seca e cheia no Amazonas.
                                                  
                                                  Os pesquisadores adotam, entre outros, a definição das Nações Unidas  (ONU) para vulnerabilidade das populações, que “incorpora a capacidade  de indivíduos, comunidades e sociedades de se adaptarem aos impactos da  mudança climática, evitando sofrimentos e perdas parcialmente  irreversíveis numa condição de estabilidade e bem-estar”. A ideia tem o  sentido de antecipar, prevenir e reparar danos produzidos pelos  desastres naturais.
                                                  
                                                  O pesquisador da Unicamp mostrou como algo positivo o crescimento da  conscientização ecológica da sociedade. Numa pesquisa que fez em  Campinas e Santos (SP) descobriu que 90% dos entrevistados consideram  as mudanças climáticas como sendo um problema muito grave. Roberto Luiz  do Carmo defendeu um comprometimento maior das Ciências Sócias com a  temática. “É necessário incorporar as dimensões humanas nesse  contexto”, alertou.
                                                  
                                                  
                                                  Moacir Loth, da UFSC, para a Agência SBPC