(Agência SBPC) – Com recursos  assegurados da ordem de R$ 24 milhões, Brasil e Alemanha estão  realizando um sonho acalentado pela comunidade científica desde a  década de 1980: a implantação do projeto Observatório Amazônico de  Torre Alta (ATTO, na sigla em inglês de Amazon Tall Tower Observatory),  que implicará a construção de uma estrutura de 300 metros de altura, no  meio da floresta.
                                                  
                                                  Reforçando a atual rede de 15 unidades de até 50 metros, a nova  torre a ser edificada – com a mesma altura da Torre Eifel, em Paris –  multiplicará as condições de monitoramento das mudanças climáticas na  região, informou Antonio Ocimar Manzi, pesquisador do Instituto  Nacional de Pesquisas do Amazonas (Inpa) e gerente do projeto pelo lado  brasileiro. Manzi contou detalhes do projeto ATTO em uma conferência  nesta quinta-feira, 16, durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade  Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Manaus, AM.
                                                  
                                                  Fruto de um convênio entre o Ministério de Educação e Pesquisa da  Alemanha e o Ministério da Ciência e Tecnologia brasileiro, o  Observatório fará a “escuta” da “conversa” da biosfera com a atmosfera.  A torre de 300 metros será instalada na Reserva de Desenvolvimento  Sustentável de Uatumã, em Presidente Figueiredo, município a cerca de  200 quilômetros de Manaus. Só existe uma experiência similar, na  Sibéria.
                                                  
                                                  A torre de 300 metros será rodeada por quatro torres meteorológicas,  de até 50 metros. Manzi estima que o sítio experimental do projeto terá  vida útil de 20 a 30 anos.
                                                  
                                                  Contando com parcerias de universidades e institutos da Alemanha,  Brasil, Finlândia, EUA e Holanda, o Observatório terá em sua mira o  efeito estufa, a documentação e quantificação das mudanças  biogeoquímicas, os desmatamentos, as queimadas, as chuvas e a  substituição das florestas por outras vegetações e por projetos  agropecuários. Em resumo, os cientistas querem ver até onde a floresta  amazônica se relaciona com o fenômeno do aquecimento global. A  iniciativa é denominada pelos pesquisadores como “Experimento de Grande  Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia”.
                                                  
                                                  Os investimentos e custos de construção e operacionalização do  projeto, explica o pesquisador do Inpa, serão compartilhados meio a  meio por Brasil e Alemanha. Os R$ 12 milhões da parte brasileira sairão  dos fundos setoriais transversais administrados pela Financiadora de  Estudos e Projetos (Finep).
                                                  
                                                  Para acelerar o processo de implantação, a Alemanha já definiu os  nomes de um gerente (Jürgen Kesselmeir) e o pesquisador-líder em Manaus  (Jochen Schoengort). Do lado brasileiro, falta escolher o  pesquisador-líder. Além da análise de solo e ambiente locais visando à  construção da torre, a equipe está detalhando as linhas de pesquisa e o  modelo operacional do ATTO. Com cronograma já aprovado e recursos  garantidos, Ocimar Manzi espera que as torres fiquem prontas dentro de  dois anos. Um dos desafios, assinalou, passa pela disponibilidade de  energia elétrica.
                                                  
                                                  Ainda de acordo com o gerente local, as chuvas e o estoque de  carbono receberão atenção especial do Observatório. “A importância pode  ser medida pelo fato de aqui, na Amazônia, chover o dobro do que a  média mundial”, sublinhou Manzi. Destacou, igualmente, o grande estoque  de carbono. “São 100 bilhões de toneladas na biomassa e outras tantas  no solo, ou seja, vinte vezes mais do que o estoque mundial”. A questão  energética apresenta-se como uma preocupação estratégica dos parceiros  envolvidos.
                                                  
                                                  “O complexo de torres propiciará, em síntese, as condições para a  comunidade científica conhecer e dominar todos os mecanismos da camada  de ozônio limite em escala planetária”, concluiu o pesquisador do Inpa.
                                                  
                                                  
                                                  Moacir Loth, da UFSC, para a Agência SBPC