(Agência SBPC) – Ao usar como  referência dados da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos  (EPA, na sigla em inglês), a resolução 357/2005 do Conselho Nacional de  Meio Ambiente (Conama), que estabelece parâmetros de qualidade da água,  é muito rigorosa em relação a concentrações de metais nos rios e acaba,  por isso, sendo descumprida, especialmente na região amazônica.
                                                    
                                                    “Os níveis do Conama são baseados na EPA. Temos que ter  referências próprias”, afirmou nesta quarta-feira, dia 15, o diretor do  Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Adalberto Luís Val,  em conferência na 61ª Reunião Anual da SBPC, que ocorre em Manaus.
                                                    
                                                    Segundo ele, características naturais do meio ambiente permitem que  diversas espécies de peixes sobrevivam a concentrações maiores de metal  nas águas dos rios. A chave está nos altos níveis de carbono orgânico  dissolvido em alguns ambientes aquáticos da Amazônia, como o Rio Negro.
                                                    
                                                    O carbono dissolvido funciona como protetor para algumas espécies de  peixe. Nos rios norte-americanos, essas características da água não  existem. Por isso, a importação dos parâmetros da EPA pode tornar a  legislação brasileira rigorosa demais, atrapalhando algumas atividades  que poderiam ser sustentáveis na Amazônia.
                                                    
                                                    Assim, seria preciso investir mais em pesquisa na Amazônia, tanto  para propor políticas de desenvolvimento sustentável quanto para  propiciar adaptações nos ecossistemas às modificações no ambiente. No  caso específico dos peixes, objeto de estudo de Val, duas oportunidades  de desenvolvimento sustentável são negligenciadas.
                                                    
                                                    Em primeiro lugar, poucas espécies são exploradas comercialmente  como alimento, levando algumas delas a estágio de ameaça, como é o caso  do tambaqui, e investindo-se pouco em técnicas de manejo para produção  em cativeiro. Em segundo lugar, o Brasil pode estar perdendo espaço no  mercado de peixes ornamentais, encontrados em grande variedade na  Amazônia.
                                                    
                                                    “Os peixes ornamentais têm grande importância comercial, mas pouco  sabemos sobre eles”, afirmou Val, alertando para o fato de que a China  está investindo pesado em pesquisa sobre o assunto e que passará a  valer na Europa regras para importar apenas peixes criados em cativeiro.
                                                    
                                                    Para Val, embora a biodiversidade de peixes na Amazônia seja  incomparável – cerca de três mil espécies –, o conhecimento científico  sobre eles é pequeno. Devido à grande diversidade de ambientes e ao  potencial hídrico, os processos evolutivos levaram ao surgimento de  espécies extremamente flexíveis para adaptarem-se às condições  ambientais mais extremas.
                                                    
                                                    Por outro lado, o pesquisador alerta: os peixes são muito  vulneráveis às mudanças bruscas no ambiente em que vivem. Por isso, Val  considera fundamental aumentar os investimentos em pesquisa para  desenvolver formas de adaptar as espécies às mudanças.
                                                    
                                                    Para aumentar o nível de informações científicas sobre os peixes da  Amazônia, começou a funcionar neste ano o Centro de Estudos de  Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta), integrante do  programa de Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) do  Ministério da Ciência e Tecnologia.
                                                    
                                                    Um dos objetivos do projeto é gerar subsídios para políticas  públicas e para novos processos de produção de peixes em função de  variações no ambiente, incluindo as mudanças climáticas. Para isso, o  Adapta, sediado no Inpa e envolvendo, em rede, pesquisadores de quase  todo o país e do exterior, prevê a construção de um laboratório com  câmaras para simular os impactos do aumento da temperatura e da  concentração de CO2 sobre espécies de peixes, plantas e insetos  aquáticos.
                                                    
                                                    
                                                    Vinicius Neder, do Jornal da Ciência, para a Agência SBPC.