(Agência SBPC) – A ciência,  que é relativamente jovem no Brasil, ainda permanece dentro dos muros  da academia. De acordo com os profissionais da mídia, é necessário que  exista parceria entre jornalistas e cientistas para que a ciência  chegue até a população. “Nós [cientistas e jornalistas] temos que dar  as mãos para girar a roda juntos”, disse Andréa Kauffmann Zeh, da  Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) da Universidade  Federal de Minas Gerais (UFMG). A divulgação científica foi objeto de  debates na 61ª Reunião Anual da SBPC, que se realiza de 12 a 17 deste  mês, em Manaus, AM.
                                                    
                                                     “O conhecimento gerado no âmbito das atividades de C,T&I no  Brasil precisa ser melhor divulgado e apropriado pela sociedade”,  afirmou Kauffman. Para a pesquisadora na área de genética, que foi por  seis anos editora sênior do periódico científico Nature, a divulgação  científica precisa trazer a ciência para a realidade das pessoas. E  para saber mais sobre a qualidade da divulgação de ciência feita por  jornais nacionais, Andrea e sua equipe anunciarão, em agosto, os  resultados da pesquisa “Ciência, tecnologia e inovação e mídia  brasileira”.
                                                    
                                                    Herton Escobar, jornalista do O Estado de S. Paulo, aponta que a  estrutura (ou sua falta) de comunicação das instituições de pesquisa  brasileiras dificulta o conhecimento, por parte dos jornalistas, das  pesquisas que são realizadas no Brasil. “A maior parte do jornalismo  científico [no Brasil] é feito em cima das agências [de notícias] e dos  grandes veículos internacionais”, constata.
                                                    
                                                    A proximidade da relação entre o jornalista e o cientista deve se  vista com cautela, de acordo com Escobar. “O jornalista deve manter o  olhar crítico para não colocar a ciência a cima de tudo e virar  defensor de certos assuntos”, previne o jornalista.
                                                    
                                                    Para a assessora de comunicação da Academia Brasileira de Ciências,  Elisa Oswaldo-Cruz, os cientistas têm o interesse de divulgar o seu  trabalho. Em pesquisa realizada por ela, envolvendo jornalistas e  pesquisadores, os últimos consideram que é sua obrigação prestar contas  do dinheiro público que financia as suas pesquisas. A maior dificuldade  apontada no processo de divulgação é a “diferença de linguagem entre  cientistas e jornalistas”, conta.
                                                    
                                                    Por fim, o editor da revista Ciência Hoje online, Bernardo Esteves,  tratou da internet 2.0 e do grande leque de possibilidades que ela abre  para que cientistas e instituições científicas tenham maior canal de  ação junto à sociedade. Exemplos disso são os blogs e micro-blogs  (Twitter), podcasts (notícias em áudio), entre outros, que começam a  ser explorados, ampliando os canais por onde a ciência se infiltra. “O  que diria José Reis sobre o momento que estamos vivendo?”, sugeriu,  referindo-se a um dos nomes mais importantes do jornalismo científico  brasileiro.
                                                    
                                                    O debate entre jornalistas e cientistas aconteceu na sessão especial  comemorativa 60 anos da Ciência & Cultura: entre a academia e o  público. A revista Ciência & Cultura, que é a mais antiga  publicação da SPBC, passou por três fases desde a sua criação em 1949  e, a partir de 2002, voltou-se para a divulgação científica. Indexada  no Scielo, ela possui todo o seu conteúdo impresso e online, com  versões dos artigos em português e inglês. Segundo Marcelo Knobel,  editor-chefe da revista, o site da publicação (http://cienciaecultura.bvs.br) recebe uma média de oitenta mil acessos únicos por mês.
                                                    
                                                    
                                                    Ana Paula Morales, da revista ComCiência, para a Agência SBPC.