Diário
de uma SBPC
Ennio
Candotti*
Não
sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons ... acerta ... desacerta ...
Sempre em busca de nova descoberta
Vai colorindo as horas cotidianas ...
Mário Quintana
Viajar
permite olhar - e pensar - o mundo através de novas janelas.
Ao voltar nunca somos os mesmos. Walter Salles em seu último
filme “Diário de Motocicleta” explora esse
tema. Ele me sugere incluir nas viagens o participar de uma reunião
da SBPC. Nelas também há sempre um antes e um depois
em que nos sentimos diferentes.
Nestes
últimos meses a SBPC percorreu vários estados do
Brasil. Como os giros de uma ‘troupe’ teatro fomos
a Paraíba, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Piauí,
Rio Grande do Sul, Belém, Manaus e Feira de Santana. Realizamos
reuniões onde mestres e estudantes se encontraram nos campi
das Universidades. Muitos: nove mil em Recife; cinco mil em Teresina.
Trataram das janelas e do mundo. Do que se ensina e do que se
aprende na escola.
Professores
das universidades locais e convidados de todo o país dirigiram
as oficinas e alimentaram as conferências, os cursos e os
debates.
Queremos
aproximar os professores do ensino fundamental e médio
aos docentes das universidades. Levar as escolas até as
fronteiras da ciência. E não só da ciência
mas também do teatro, do cinema, das artes. Cultivar a
curiosidade, abundante na escola e, por vezes, adormecida. Despertá-la.
Para formar um cidadão, um cineasta ou um cientista, estamos
convencidos de que precisamos descobrir a cor dos saberes. Os
livros e laboratórios das ciências não bastam,
precisamos também do movimento e da paixão das artes.
Deveríamos reunir o rigor do método com o olhar,
indiscreto, do artista.
Os
livros-texto são estáticos, retratam conhecimentos
que parecem ser de gesso. Não há lugar para as plantas
e os pássaros do quintal. Para a luz e as galáxias
distantes. O microondas e o celular. Precisamos escrever de novo,
juntos, o que queremos saber. Desenhar as janelas, ajustar o foco
da nossa indignação. E da alegria também.
É
de nossos dias a reforma da universidade. Lutaremos para que nela,
a realidade não iniba a utopia. Como pensar a universidade
sem ela? Afirma-se que o governo quer dedicar 2% de PIB para a
Ciência e a Tecnologia até 2007. Dedicará?
E também dar novos rumos para a política industrial.
Dará?
Seremos
capazes de falar de drogas, penitenciárias, Aids e esperança,
terras sempre estrangeiras em nossas escolas? Em três dias
seria impossível pensar em tudo. Bem sabemos, mas acreditamos
que será possível, sim, fixar com traços
largos e cores fortes o que vemos e pensamos e, depois, com tempo,
descobrir que já não somos mais o que éramos
antes.
A
caravana da SBPC seguirá...e em 2006 voltaremos um pouco
mais jovens.
*Presidente
da SBPC