Esta página utiliza Javascript. Seu navegador não suporta Javascript ou está desativado. Para visualizar esta página, utilize um navegador com Javascript habilitado. 64ª Reunião Anual da SBPC Untitled Document
Banner do Evento

REALIZAÇÃO
Logo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC
Logo da Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Notícias

27/7/2012 - Os biomas do Maranhão e a Mata Atlântica: ameaças e perspectivas

Espécies extintas, hotspots e questionamentos políticos em relação a essas regiões movimentaram o debate na 64ª Reunião Anual da SBPC.


Os biomas brasileiros foram analisados numa mesa-redonda nesta quinta-feira (26), durante a 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Luís, mais especificamente os biomas que existem no estado do Maranhão (Amazônia, Caatinga e Cerrado) e a Mata Atlântica. A conferência contou com a participação de Adalberto Luis Val, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Gustavo Martinelli, do Centro Nacional de Conservação da Flora/Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNCFlora/Iphan) e Carlos Martínez Ruiz, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Val, que coordenou a mesa, destacou que o Maranhão representa um encontro de biomas e uma região de "forte ebulição biológica", que promove o "encontro de diferentes comunidades". "É uma mina de ouro biológica, é o sonho de consumo de qualquer biólogo trabalhar aqui e ver como se dão as transições", opina.

Carlos Martínez Ruiz completa dizendo que o Maranhão é "uma encruzilhada geográfica" e que seus biomas concentram Mata de Transição, Cerrado, Campos, Floresta Equatorial, manguezais e vegetação de restinga. E enumerou uma série de características da região, como a biodiversidade intensa, com, por exemplo, setecentas espécies de aves - o Brasil tem cerca de 1.800. Só o estado possui mais espécies do que a Europa, que tem por volta de seiscentas.

"Pré-Amazônia"- Ruiz chamou a atenção para a questão "política" de chamar a parte amazônica do Maranhão de "pré-Amazônia". "Isso é falso, a Amazônia maranhense é Amazônia. Isso a deixa com menor valor para conservação", alerta. O pesquisador também falou do equilíbrio climático da região e do papel regulador dos biomas. "Engana-se quem pensa que se pode resolver os problemas do Nordeste sem resolver os da Amazônia", pontua.

Ele também apontou as principais ameaças aos biomas maranhenses: as carvoarias, "um desastre que explora tudo e não deixa nem a capoeira"; a pecuária extensiva, "de baixíssimo rendimento por hectare devastado"; e o agronegócio, "que substituiu as práticas tradicionais por uma lógica mercantilista que não deixa benefícios para as populações locais."

Também sublinhou o fato de as pessoas "confundirem" o plantio de eucaliptos com reflorestamento. "É muito cinismo", opina, lembrando argumentos políticos. O plantio dessa árvore, usada para a produção de celulose, acidifica o solo e ameaça a biodiversidade. E lembra que em 2008 o estado contabilizava 17% de desmatamento de suas florestas e se o ritmo continuar, em 2050 serão 40%.

Mata Atlântica - Por sua vez, Gustavo Martinelli descreveu características da Mata Atlântica que ocupa 1,35 milhão de quilômetros quadrados do País (cerca de 16%). Fica atrás apenas da Amazônia (47,65%) e do Cerrado (23,49%). Ele lembra de alguns ecossistemas do bioma que também existem no Maranhão, como restingas e mangues.

Ele frisou também o conceito de 'hotspot' para biomas ou regiões com extrema riqueza, geralmente associados a um grande processo de destruição. Nesse sentido, conta que 77% da população brasileira vive em áreas da Mata Atlântica, que abrange dezessete estados da Federação e é patrimônio mundial da ONU.

Martinelli recorda que, da Mata Atlântica original, restam 7,9%. Ainda assim, o bioma, o único a ter uma lei específica para protegê-lo, concentra por volta de 21 mil espécies, sendo que o Brasil contabiliza 60 mil. No entanto, a lista de extinção na Mata Atlântica ronda as 700 espécies. "Segundo dados da SOS Amazônia e do Inpe, o equivalente a um campo de futebol é destruído a cada quatro minutos", lamenta.

Perguntado por Val a respeito da lei de acesso à biodiversidade, que causa polêmica entre os cientistas a respeito da coleta e acesso aos recursos, Martinelli se disse "extremamente irritado com esse gargalo". "Essa MP vinha carregada de uma visão que todos nós somos biopiratas a não ser que provemos o contrário". Por sua vez, Ruiz pediu "mais investimentos em ciência e menos burocracia".

"É claro que o Brasil precisa se proteger, se fazer respeitar lá fora, mas é praticamente impossível o País conseguir proteger toda sua biodiversidade, não pode se tornar um ‘bunker’. A solução para se tornar competitivo é jogar na defensiva e na ofensiva também, mexer na biodiversidade antes que outros mexam", conclui o pesquisador da UFMA.

(Clarissa Vasconcellos – Jornal da Ciência)



Notícias
Credenciamento de Jornalistas
Atendimento à Imprensa